Mensagens mostram que estudante de Sobral antecipou mais duas questões do Enem

Itens foram divulgados em live oito meses antes do Enem e não estão entre os três anulados pelo Inep após denúncia do suposto vazamento. Caso é investigado pela Polícia Federal

13:54 | Nov. 25, 2025

Por: Kleber Carvalho
Caderno de Provas 2° dia de aplicação do Enem. (foto: Angelo Miguel/MEC)

O sobralense Edcley Teixeira, que antecipou pelo menos três questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para alunos de seu cursinho cinco dias antes da realização da prova, divulgou mais questões durante uma live no início deste ano.

No dia 17 de março, oito meses antes do Enem, o estudante de Medicina de Sobral, no Ceará, passou duas questões presentes na prova de Matemática do Exame em um grupo de Whatsapp, indicando as respostas corretas aos membros do grupo.

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Em uma das mensagens, Edcley orienta aos alunos que "se cair no Enem pode marcar 125/216 sem medo de ser feliz. Nem leia não". As informações são do portal G1.

A questão sobre qual Edcley falava e que os alunos poderiam "marcar sem medo" é sobre probabilidade, e traz a situação problema onde dois jovens jogam dardos com faces enumeradas de um a seis e comparam quem obteve o maior valor.

A questão foi a de número 178 do caderno azul, 176 do cinza, 169 do amarelo e 172 do verde, e tinha como resposta correta o item E, "Arthur, com probabilidade de 125/216", assim como antecipado pelo cearense.

Três dias antes, em 14 de março, Edcley levou uma outra questão no mesmo grupo. Dessa vez a situação problema era sobre a concentração de água em uma solução com cloro.

O enunciado questionava quantos mililitros (ml) deveriam ser adicionados para que a solução de 10ml com 99,95% de água e 0,05% de cloro passasse a ser 99,90% de água.

No Enem, questão apareceu com a mesma situação problema, mudando apenas a unidade de medida de ml para litros, e a mesma resposta dada por Edcley aos alunos: cinco. A questão foi a de número 140.

Nenhuma das duas questões está entre as três que foram anuladas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na terça-feira passada, 18, após denúncias sobre o suposto vazamento.

"A questão da água, que eu mandei no PV [privado] de todos… Mandei no grupo também! E também tem nos nossos pdfs de pré-teste kakakakkaa. Se alguém errou, é porque não fez”, disse Edcley aos estudantes do grupo após o Exame.

Ele também frizou a repetição da questão de probabilidade no Enem. "Olha isso!!! Sei que todos vocês acertaram", disse.

Os prints vazados do grupo corroboram com denúncias feitas por participantes do Enem por todo o País, que denunciam o vazamento de mais do que as três questões anuladas pelo Inep. 

Nem o Inep, nem o Ministério da Educação se posicionaram sobre as duas novas questões apontadas pelo G1. Em comunicado publicado na última semana, os órgãos afirmaram que "nenhuma questão foi apresentada tal qual na edição de 2025 do exame", tendo havido apenas "similaridades pontuais entre os itens".

Cearense é alvo de busca e apreensão da PF

No domingo, 23, a Polícia Federal (PF) apreendeu um notebook, um aparelho celular e um caderno de provas do Enem 2025. De acordo com o G1, o alvo da ação, intitulada Operação Profeta, era Edcley.

A operação foi comandada pela PF à pedido da Justiça Federal, após as denúncias de vazamento. A suspeita levantada até o momento é de que Edcley teria descoberto que o Prêmio Capes de Talento Universitário, do qual ele participou, seria um pré-teste para o Enem, ou seja, que as questões usadas nessa prova poderiam cair no Enem.

Conforme publicado pelo G1, Edcley pagava outras pessoas para memorizarem questões do Prêmio. O valor era de R$ 10 por questão. Pelo menos oito questões aplicadas por ele para os alunos do cursinho caíram no Enem.

Em entrevista ao Fantástico, o estudante negou ter tido acesso antecipado à prova do Enem e disse não saber que as questões do Prêmio Capes seriam usadas no Exame. O estudante classificou a repetição das respostas como "similaridades pontuais" que foram "coincidências".

Questionado sobre ter aplicado as questões do Prêmio nas suas mentorias, o estudante ressaltou que o edital do Capes não proibia o uso posterior dos itens.

"Não existia nenhum termo de compromisso, não existia nenhum termo de sigilo, não existia nem um edital", ponderou Edcley ao Fantástico.

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