Histórias cruzam gerações e sonhos no Enem 2025 em Fortaleza

Histórias cruzam gerações e sonhos no Enem 2025 em Fortaleza

Na entrada da Uece, candidatos com mais de 50 anos de idade, personagens animando os participantes do Exame e apoio familiar no primeiro domingo de prova deste ano
Atualizado às Autor Estela Félix Tipo Notícia

Na manhã deste domingo, 9, os portões da Universidade Estadual do Ceará (Uece) abriram para o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 em Fortaleza.

Desde as primeiras horas, o campus do Itaperi reunia estudantes de diferentes idades e perfis, muitos vindos de bairros como Maraponga, Conjunto Esperança e Parangaba, além de cidades da Região Metropolitana, como Caucaia.

Antes da abertura dos portões as histórias se misturavam com pessoas que aguardavam em grupos ou sozinhas, acompanhadas de amigos e familiares, sentados à sombra das árvores. Havia quem revisasse anotações, quem testasse as canetas e quem apenas observasse o movimento com calma.

Entre abraços de incentivo, orações e nervosismo, as histórias se cruzavam em meio ao calor e à expectativa de quem carrega antigos e novos sonhos. 

Sentada sozinha próximo ao portão principal, Lúcia Maria Arruda Brás, 59, moradora da Maraponga, aguardava com serenidade o início do exame. Esta é sua segunda tentativa no Enem. Ela conta que decidiu seguir o sonho de cursar Fisioterapia após cuidar da mãe, que faleceu no ano passado.

Lúcia contou com o incentivo das filhas, ambas estudantes de Direito, que a ajudaram a revisar conteúdos e a não desistir. Ela destaca que o objetivo é recomeçar os estudos e mudar de vida.

“Estudei; minhas filhas me ensinaram redação. Fiz cursinho do EJA, e a professora dizia: ‘Faz redação todo dia’. Agora gosto de escrever, estou mais empolgada. Eu só quero passar e fazer a diferença na vida das pessoas”.

Entre os muitos que buscavam aliviar a tensão antes do fechamento dos portões, um personagem se destacava. Lucas Justa, 33, vestiu a fantasia de Homem Aranha para motivar os candidatos que chegavam à Uece desde o fim da manhã.

Correndo e brincando com os candidatos, ele arrancava sorrisos e fotos antes da prova. “O Homem Aranha é o meu personagem de infância, então ao longo dos anos passei a ter a oportunidade de me vestir como ele e é como se eu encarnasse de fato o personagem.”

Formado em Engenharia Elétrica e cursando Análise de Sistemas, ele conta que sendo o homem-aranha ele consegue chegar nas pessoas e animá-las, dando o apoio que muitas não recebem em casa. “Tem gente que chega sozinha e nervosa, e às vezes uma palavra faz diferença.”

Já entre as famílias que acompanharam o Enem deste domingo, uma cena chamou atenção. Bilu Holanda, 44, chegou acompanhada do marido, Carlos Petter, 46; do cunhado Pedro Alencar, 46; e dos filhos gêmeos, Carlos Daniel e Pedro Eduardo, ambos de 17 anos.

Com uma cadeira de praia em uma das mãos e o filho mais novo, João Emanuel, 5, na outra, Bilu foi ajudar o esposo, que se recupera de uma lesão no pé. “A cadeira é para ele não ficar muito tempo em pé.”

Do sexteto, apenas Bilu e João Emanuel não estão inscritos no Exame. Ao sair do Campus, ela revelou surpresa ao O POVOos gêmeos fariam a prova lado a lado na mesma sala; o pai e o tio também dividiram sala de provas. Carlos Daniel tenta vaga em Medicina; Pedro Eduardo em Engenharia Elétrica; Carlos em Agronomia e o Pedro em Administração. 

Momentos de fé também fizeram parte das histórias no campus. Ao passar pelo portão da Uece, Cyntia Carvalho, 35, estava com o terço na mão e parou para orar pelo filho, Carlos Eduardo, 17, guiada pela oração do grupo de jovens na entrada.

O primogênito sonha em cursar Ciência da Computação e recebeu as bênçãos da mãe e do irmão caçula, Pietro Davi, 8. “Eu sempre digo a ele que, independentemente do resultado, eu o amo e vou estar torcendo”, contou Cyntia, emocionada.

Entre um abraço e outro, ela relembrou a importância do momento. “Ele (Carlos Eduardo) foi meu primeiro orgulho, e ele (Pietro Davi) é o meu segundo orgulho, que veio após a perda da minha mãe.” 

Do lado de fora, o movimento era observado por Ailton, vendedor ambulante que há anos aproveita os dias de eventos na Uece, incluindo o Enem, para trabalhar nas imediações. Com paciência, ele exibia as garrafas d'água, chocolate, salgadinhos e barrinhas de cereal para os candidatos que ainda não tinham o material completo.

Enquanto o sol subia e o fluxo de estudantes aumentava, Ailton disse que o Enem se tornou um marco no seu calendário. 

Ele confessa que o vestibular não traz muitas vendas na entrada, mas na saída as pessoas buscam um lanche para comer com calma, estejam confiantes ou tristes. “A gente vê o esforço do povo, cada um com seu sonho. É bonito demais.”

O Enem deste ano, distante das cenas de correria e atrasos que marcaram outras edições, foi dominado por histórias de recomeço e afeto, com personagens fantasiados, mães em oração, famílias inteiras estudando e pessoas que decidiram retomar os estudos depois dos 50.

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