Elmano: R$ 15 milhões do TikTok vão atender demandas de indígenas
Governador afirmou que todo data center em prospecção no Ceará terá de dar contrapartidas e os recursos serão aplicados nas comunidades a partir de uma agenda construída em conjunto
10:53 | Dez. 05, 2025
Os R$ 15 milhões de contrapartida do TikTok para o Ceará devido à construção do data center no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) devem ser revertidos em investimentos para atender a demanda dos povos indígenas anacé e tapeba, segundo afirmou o governador Elmano de Freitas (PT).
“Tenho duas prioridades: o povo anacé e o povo tapeba. Tive com a executiva da empresa e são prioridades do data center e também do Estado”, disse em entrevista exclusiva ao O POVO, nesta sexta-feira, 5 de dezembro.
Leia mais
As comunidades estão localizadas no entorno da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará e relataram deficiências estruturais e o descumprimento de promessas feitas pelo Estado a eles há mais de 20 anos, quando o Complexo foi instalado entre Caucaia e São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
O POVO trouxe as falas dos indígenas relatando dificuldade no acesso à água potável e energia em reportagem especial.
LEIA TAMBÉM | Data centers no Ceará
O que deve ser feito pelos indígenas?
A construção de escolas indígenas e as obras de estradas de acesso às áreas foram citadas pelo governador como medidas prioritárias do Estado para com os povos anacé e tapeba.
Mas Elmano ressaltou que a contrapartida de R$ 15 milhões deve atender às demandas deles a partir de uma agenda construída entre Estado, empresa e comunidades.
De acordo com ele, isso será uma agenda permanente. “Quase como um pequeno orçamento”, exemplificou, no qual, “a cada ano, aquele povo vai dizer quais as prioridades”.
Leia mais
“São pedidos ainda de negociações da época da refinaria e, como a refinaria não aconteceu, a Petrobras não fez, mas o terreno foi cedido e eles cobram com razão, há uma dívida. E nós estamos aproveitando para colocar essa dívida na pauta com os data centers”, acrescentou.
O governador fala da refinaria Premium II. O empreendimento foi uma promessa do Governo Federal para o governo cearense via Petrobras. À época, seria o maior aporte do Pecém na história, com previsão de R$ 11 bilhões, mas foi cancelado em 2015 pela Companhia e não saiu do papel.
No entanto, a área onde seria instalada foi desapropriada, como reconhece Elmano, e, atualmente, faz parte da ZPE do Ceará, onde serão aportados os projetos de data centers e hidrogênio verde, principalmente.
Mais contrapartidas e aumento do salário médio
Elmano disse ainda que “todos os data centers em negociação com o Ceará terão que dar contrapartidas ao Estado”, mas os detalhes do que cada um dos cinco em negociação hoje devem prover são mantidos em sigilo devido à confidencialidade dos contratos.
“Nós queremos ter um cuidado no qual o nosso porto tenha um crescimento minimamente planejado e com melhoria de renda de quem mora no entorno”, acrescentou, citando uma meta de renda média de R$ 5 mil para o entorno do Pecém.
Vale lembrar que, no dia 4 de novembro deste ano, o Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportações (CZPE) aprovou a instalação de cinco data centers, incluindo o do TikTok, e uma indústria de amônia verde na ZPE-CE, com R$ 583 bilhões de aportes estimados.
Água de reúso e energia excedente
O governador ainda rechaçou as críticas sobre o consumo de água e energia pelos data centers e demais projetos captados pelo Estado para o Complexo do Pecém.
Segundo ele, todo recurso hídrico consumido industrialmente, ou seja, para a operação dos empreendimentos no Cipp, será água de reúso.
A origem é do esgoto de Fortaleza e será tratada pela Utilitas, empresa criada em parceria público-privada e liderada pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), em parceria com Marquise, GS Inima e PB Construções.
Na primeira fase, a Utilitas tem capacidade de fornecer 1,6 metros cúbicos por segundo (m³/s) de água de reúso, o que representa mais do que a demanda atual do Complexo do Pecém.
Leia mais
“Então, a água do consumo humano não será utilizada por data center. E o data center que está sendo pensado, o máximo de consumo deste reuso é correspondente a 190 residências”, afirmou.
Quanto à energia, Elmano assegura que o Ceará tem excesso de energia e a chegada dos empreendimentos de alto consumo ajudam em duas perspectivas: na criação de novos negócios entre os geradores e os consumidores e na redução da tensão sobre a rede elétrica, que obriga parques eólicos e solares a interromperem a geração por não ter capacidade de transmissão.
“Nós temos um excesso de energia. Então, o data center para aqueles estados é um problema. Porque eles não têm energia. Para nós é uma solução, porque nós estamos com sobra de energia”, afirmou, referindo-se aos estados do Sudeste do País.