Queimadas podem afetar soja e milho e mexer na economia do Brasil; entenda
Nas áreas atingidas, o aquecimento das plantas e do solo tem o potencial de atrapalhar a produção e reduz o rendimento das colheitas
As intensas queimadas que ocorrem pelo Brasil, mais especificamente nos estados de São Paulo, Goiás e Amazônia, podem afetar o preço da soja, milho e outras culturas cultivadas no País. É o que aponta o analista de mercado da Companhia de Abastecimento do Ceará (Ceasa), Odálio Girão.
Isso porque, nas áreas atingidas, o aquecimento das plantas e do solo tem o potencial de atrapalhar a produção e reduz o rendimento das colheitas. Ou seja, causar grande queda na safra desses produtos, especialmente em regiões de agronegócio. Porém, o efeito será mais a longo a prazo.
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"No Centro-Oeste há a produção de soja e milho, que seriam os primeiros a serem afetados, pois são amplamente cultivados nessas regiões. Já o feijão, presente em áreas irrigadas, pode sofrer menos com as queimadas. No entanto, se essas queimadas forem intensas, outras culturas, como algodão e arroz, também poderão ser afetadas."
Ameaça ao abastecimento no País
Assim, os impactos, conforme explica Odálio Girão, não se limitam à exportação, mas também são capazes de afetar o abastecimento dos mercados brasileiros, incluindo o Nordeste.
"No momento, estamos aguardando para ver quais serão os efeitos dessas queimadas na cadeia produtiva. Como o impacto é recente, ainda não temos uma visão clara das consequências", ressalta.
Sobre o cenário atual do abastecimento agropecuário, especialmente no Ceará, é um momento de grande oferta de produtos como cebola, batata inglesa, cenoura, beterraba e folhosas. Entretanto, algumas frutas, como a banana e o abacaxi, tiveram uma safra abaixo do esperado, o que elevou seus preços.
"No geral, o mercado está bem abastecido, mas continuamos monitorando a situação para ver como ela evoluirá nos próximos meses, especialmente em outubro, quando se espera uma forte produção nas colheitas."
Pobreza no solo também
Além disso, Fábio Sobral, professor de economia ecológica na Universidade Federal do Ceará (UFC), chama a atenção para o empobrecimento do solo a médio e longo prazo devido às alterações climáticas.
"Esse processo de degradação do solo pode conduzir à desertificação. Assim, as queimadas durante esse período contribuem significativamente para o empobrecimento da capacidade produtiva do solo, o que é uma tragédia para a região."
Outro ponto destacado pelo professor de economia ecológica é o aumento da escassez hídrica por causa da degradação.
"A falta de água é terrível porque afeta todos os setores urbanos, incluindo serviços como restaurantes, supermercados, salões de cabeleireiro, além de impactar diretamente a população."
Mesmo com projetos de transferência de água como o Cinturão das Águas, Fábio Sobral reforça que não é suficiente. "É necessário um programa robusto de restauração ambiental, com foco na recuperação das árvores e da vegetação nativa do semiárido."
Preservar é compromisso do produtor rural
Já o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, criticou o cenário de queimadas criminosas.
"No Ceará, nossa legislação e o bioma semiárido exigem que os produtores rurais preservem 20% de suas áreas. A preservação do meio ambiente é uma obrigação do produtor rural, e o governo oferece incentivos para isso."
Com o período de seca, que vai de setembro a novembro, Amílcar Silveira salienta que a preocupação com as queimadas cresce, pois resultam em uma perda significativa de nutrientes no solo.
"Quem ainda faz queimadas provavelmente desconhece o impacto que isso causa. Por isso, estamos mobilizando nossos técnicos para levar esse conhecimento aos campos e explicar que a melhor prática é evitar queimadas. Essa não é apenas uma questão climática, mas também econômica."
Governo quer minimizar os impactos da alta temperatura
No âmbito do Ceará, o secretário-executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE), Silvio Carlos, afirmou que o tema é bastante discutido e haverá reuniões com outras pastas, como a do meio ambiente e a Casa Civil, para minimizar os impactos da alta temperatura, que deverão ser sentidos no próximo trimestre.
"Estamos formando um grupo na secretaria para discutir e planejar ações que possam nos ajudar a antecipar problemas. Nosso setor agropecuário pode não ser tão extenso ou tão grande quanto o de outras regiões, mas ainda assim, há riscos que podem causar prejuízos ao interior do Estado."
No entanto, reforça que, além das queimadas, as mudanças climáticas têm impacto direto no agronegócio de diversas formas. Regiões que ficaram mais quentes ou mais frias, por exemplo, exigem novas variedades de plantas e um planejamento diferente para irrigação, o que afeta a produtividade.
"A ciência tem contribuído bastante para essa adaptação, principalmente com o melhoramento genético, tanto vegetal quanto animal. Hoje, mesmo com as mudanças climáticas, conseguimos manter ou até aumentar a produtividade em algumas regiões, graças a essas inovações."
Convivência sustentável
Também enfatizou a importância de conviver de maneira sustentável com o meio ambiente, já que o Ceará é conhecido por ser um grande exportador e os países que recebem os produtos exigem práticas ambientais rigorosas.
"Isso inclui desde o descarte adequado de agrotóxicos até o uso eficiente da água e a adoção de boas práticas sociais e ambientais. No Ceará, temos feito um grande esforço para garantir que nossos produtores obtenham as certificações necessárias para atender a essas exigências."
Alguns projetos citados pelo secretário-executivo envolvem a eficiência do uso da água, especialmente em bacias hidrográficas do Estado, com financiamento do Banco Mundial, para garantir a utilização dos recursos de maneira sustentável e agregar valor aos produtos.
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