Saiba como se estrutura a facção cearense Guardiões do Estado

Saiba como se estrutura a facção cearense Guardiões do Estado, conforme a Polícia Civil

O Núcleo de Inteligência da Polícia Civil elaborou um organograma do grupo, detalhando as funções de diversos de seus setores e elencando lideranças

O Núcleo de Inteligência (Nuip) da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) destrinchou a estrutura organizacional da facção criminosa cearense Guardiões do Estado (GDE). O relatório técnico nº 57/2025/DPC/NUIP, ao qual O POVO teve acesso, descreveu, “com base em levantamento de fontes abertas e material de inteligência, o quadro de funcionamento” da GDE, “com ênfase em sua estrutura financeira, disciplinar e hierárquica”.

Leia Mais| A escalada do CV no Ceará: declínio de rivais, comando à distância e "serviços" do crime

O relatório embasou investigação do 2º Distrito Policial (2º DP) que levou ao oferecimento, em 5 de setembro passado, de denúncia contra 24 suspeitos de integrar a facção.

Como O POVO mostrou, a investigação teve início com o depoimento de um ex-integrante da GDE, que foi assassinado após colaborar com a Polícia Civil.

Leia Mais | Após queima de fogos em comunidades de Fortaleza, 19 criminosos são presos

Conforme o relatório do Nuip, a GDE “apresenta uma organização financeira complexa e sistematizada”. “A organização criminosa possui 11 quadros principais, cada um com capacidade de até 12 membros, totalizando até 132 operadores diretos apenas na estrutura formal de gestão”, consta em outro trecho da peça.

A PC-CE já havia esmiuçado o organograma da facção em outras situações, como O POVO mostrou, por exemplo, em 2021. O relatório técnico nº 57/2025/DPC/NUIP, porém, apresenta novidades, como a existência de uma célula específica na facção para tratar da exploração do “Jogo do Bicho”.

O POVO mostrou no sábado, 13, que o jogo de azar tornou-se a principal fonte de renda da GDE, superando, até mesmo, o tráfico de drogas. Os ganhos com o Jogo do Bicho podem atingir até R$ 300 mil mensais, conforme o relatório do Nuip.

Além de detalhar as funções de cada um dos setores da facção, o Nuip também descreveu quais seriam os ocupantes de algumas dessas células. Na “Cúpula” (ou “Alta Direção”), aparecem os nomes de Yago Steferson Alves dos Santos, “Branquinho Jhonatan”, “Padeiro Edgley” e “Rei da Colômbia”.

Como O POVO já havia mostrado nessa segunda-feira, 15, Yago Steferson teria se tornado a maior liderança da GDE. O Nuip ressaltou que Yago Gordão, como é conhecido, é o único dos líderes máximos da facção ainda em liberdade, assinalando que é ele quem “distribui drogas e lucros”.

O relatório ainda indica que os chefes da GDE recebem uma remuneração mensal fixa da organização criminosa, que varia entre “R$ 10.000 + R$ 5.000 (bônus)”, quando em liberdade; e R$ 15 mil quando as lideranças estão presas.

Na GDE, cada integrante é obrigado a contribuir mensalmente com uma determinada quantia, cujo valor inicial é R$ 50. “Hoje a GDE conta com mais de 2.000 contribuintes da ‘caixinha’”, afirmou o Nuip. Os “frentes” dos bairros são obrigados a pagar um valor maior, que, de acordo com o Nuip, varia entre R$ 250 (áreas pequenas) a R$ 500 (áreas grandes).

Outras quantias são exigidas pela GDE referentes a punições aplicadas aos integrantes. A depender da gravidade da “infração”, as multas variam entre R$ 300 e R$ 1.500.

”Em casos graves, incluem-se exigências como entrega de veículos roubados e transporte para ações violentas (‘guerras’) e solicitação por arma de fogo para quitar dívida. Em casos extremos é decretada a punição severa , a morte”, afirma o relatório técnico nº 57/2025/DPC/NUIP.

A facção ainda realiza sorteios, cujos bilhetes custam R$ 100 e têm prémios de R$ 5.000 ou “ferramentas” (armas de fogo, por exemplo).

Confira como se estrutura a GDE:

Geral da Caixinha

“Responsável por conduzir e cobrar os membros que estão com atraso superior a três meses no pagamento da contribuição mensal obrigatória (‘caixinha’), cujo valor inicial base é de R$ 50, podendo variar de acordo com a localização. O total em aberto pode chegar a até R$ 40 mil por mês. Hoje a GDE conta com mais de 2.000 contribuintes da ‘caixinha’”.

Geral da Biqueira

“Responsável por arrecadar mensalmente os valores dos ‘frentes’ dos bairros (responsáveis pela venda de entorpecentes). Cada ‘frente’ paga de R$ 250 (áreas pequenas) a R$ 500 (áreas grandes), totalizando uma média mensal entre R$ 70 mil e R$ 80 mil. A supervisão fica a cargo do frente de área”.

Punição

“Aplica multas a membros por condutas consideradas indisciplinadas, com valores entre R$ 300 e R$ 1.500, com prazo para quitação. Em casos graves, incluem-se exigências como entrega de veículos roubados e transporte para ações violentas (‘guerras’) e solicitação por arma de fogo para quitar dívida. Em casos extremos é decretada a punição severa , a morte”.

Caixinha

“Pagamento obrigatório de R$ 50 por membro. A arrecadação total mensal pode variar entre R$ 120 mil e R$ 125 mil”.

Cota (Distribuição de Drogas)

“A cúpula disponibiliza entorpecentes para os ‘frentes de área’ mediante crédito (fiado), com cobrança semanal e valor acrescido. Os pagamentos são remetidos à cúpula nas segundas ou terças-feiras, sob controle do chamado CSL Final (Conselho Final)”.

Jogo do Bicho

“Os donos de bancas que operam em áreas controladas pela facção realizam pagamentos mensais para permissão de funcionamento. Os valores variam conforme o número de bancas, podendo alcançar até R$ 300 mil mensais por banca. Controle rigoroso e hoje é uma das principais fontes de receita da organização”.

Quadros de Condução e Julgamento Interno (Punição)

Esclarecimento

“Destinado à mediação de conflitos de menor gravidade (atrasos, brigas interpessoais, desentendimentos locais). Atua também como suporte ao GDL(GERAL DA LIBERDADE) quando este estiver sobrecarregado”.

Geral da Liberdade (GDL)

“Responsável por conduzir situações de média gravidade e garantir o controle da disciplina nos bairros. Atua em regime de plantão contínuo (24h) e pode ser destituído por negligência”.

Legionário (3º CSL)

“Composto por quatro membros responsáveis pelo setor financeiro e oito com atribuições diversas (controle de quadros inferiores, condução de situações, produção de relatórios). Também atua na triagem de casos graves para o (...) Conselho Geral. EX: Derramamento de sangue entre membros”.

Conselho Geral (2º CSL)

“Responsável pela análise de situações graves, com necessidade de autorização do CSL Final Conselho Final, para execução de medidas extremas. Atua também como gestor do sistema financeiro da organização”.

Conselho Final 

“Instância superior, abaixo apenas da cúpula. Decide sobre execuções e ações críticas. Controla 80% dos recursos da facção (armas, drogas, dinheiro, logística)”.

Integrantes do Conselho que estão atualmente livres, conforme o Nuip: Francisco Jeferson Santos Sousa, vulgo Caju (Maracanaú), Bigolino ou 03 (Maracanaú), Nasa ou Farinha (comunidade da Verdes Mares, no Papicu), Gasparzinho (Edson Queiroz), Lázaro Diogo (Parque Santa Rosa), Leomax Xavier da Costa, vulgo Mônica ou Caleb (Vicente Pinzón), Sheik (Pacatuba) e Patinhas (Horizonte).

Integrantes do conselho que estão presos, mas com telefones na cadeia, conforme o Nuip: João Paulo Calado de Sousa, vulgo JP (Mondubim); Reginaldo Alves dos Santos, vulgo Play (Conjunto Esperança); Zé Galinha (Aracapé)/; Vela ou Lampião (Tauá); Felipe Pereira da Silva, vulgo Cabeça ou Abóbora (Vicente Pinzón); José Paulo Carneiro de Moraes, o Preto (Lagamar, no São João do Tauape); Negão André (Jardim Fluminense, no Canindezinho); Chuck (Aracape); e Patrícia de Paula de Sousa Bezerra, a “Fatare” (Vicente Pinzón).

Quadros Secundários e de Suporte
Divulgação

“Responsável pela veiculação de comunicados internos nos grupos da facção. Ex: salves, decreto, informativos e informações de ampliação de área de atuação”.

Fiscalização

“Avalia produtos e preços antes da divulgação em grupos internos, garantindo a padronização das postagens. Nesse grupo os envolvidos participam da produção de bens roubados ou furtados (veículos, armas, etc)”.

CAB (Cadastro, Análise e Batismo)

“Responsável pelo registro e avaliação de novos membros (‘batismo’), com análise prévia de elegibilidade. Necessário enviar foto e informações, é necessário 3 referências internas , geralmente do ‘frente de área’”.

STF (Setor de Fiscalização de Território)

“Fiscaliza o cumprimento das obrigações dos membros em cada área, cobra a “caixinha” e monitora todas as situações ocorridas no território”.

O relatório do Nuip aponta Miquelvis Brendo Lopes da Silva, o “MK”, como STF do Presidente Vargas

STG (Supervisão dos STF)

“Coordena os STF, atualiza as listas de pagamentos da caixinha e supervisiona os mapas por bairro e sua ampliação”.

O relatório do Nuip aponta Paulo Henrique Martins dos Santos, o “PH”, como Sintonia Geral do Grande Santa Rosa (STG)

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar