Fortaleza: chuva deste fim de semana é a 2º maior em 50 anos; entenda

Foram 215 mm registrados neste fim de semana de carnaval. Maior precipitação só ocorreu em 2004

Este fim de semana de Carnaval contou com a segunda maior chuva dos últimos 50 anos, em Fortaleza. Foram 215 mm registrados das 7 horas da manhã de sábado, 10, às 7 horas deste domingo, 11.

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Em toda a série histórica, que data de 1973, volume maior de precipitação só ocorreu em 2004, com 250 mm, no que ficou conhecida como "a chuva do século". Confira o ranking no fim da matéria.

Dados são da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), divulgados neste domingo e seguem em atualização.

Com o alto volume de chuvas, a Cidade apresentou cenários de ruas alagadas, quedas de energia, quedas de árvores, além do cancelamento de tradicionais festividades de carnaval ao ar livre: o Carnaval das Crianças, no Passeio Público e o Carnaval do Parque Rachel de Queiroz.

Ainda conforme a Funceme, o segundo dia de Carnaval deve ser marcado chuvas, porém, mais isoladas e menos intensas ao longo do estado.

Além da capital, precipitações foram registradas, até meio-dia, em outros 138 municípios cearenses.

Carnaval em Fortaleza: por que choveu tanto?

As precipitações ocorreram devido a áreas de instabilidade, efeitos de brisa, além da combinação de temperatura, umidade e relevo. Segundo o pesquisador da Funceme, Francisco Júnior, houve um transporte de umidade do Oceano Atlântico para o continente, que, por sua vez, já estava muito quente.

"A gente diz que a atmosfera ficou muito instável. O resultado é uma grande área com grande instabilidade. Como se tivesse um motor com alta umidade. Está mais quente e ainda moramos em uma metrópole. Oceano aquecido possibilita esses eventos mais severos", disse.

O especialista ainda frisa que esses eventos pontuais devem acontecer mais vezes ao longo do ano de 2024, marcado pelos efeitos do El Niño — fenômeno que provoca aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial.

Por conta desse fenômeno, apesar do grande volume de chuvas apresentado ontem, as previsões da Fundação são de que a estação chuvosa do Ceará (referente aos meses de fevereiro, março e abril) conte com precipitações abaixo da média.

Fortaleza: 20 anos após a "chuva do século", de 2004

Segundo maior índice ocorre 20 anos depois do que ficou conhecida como a “chuva do século” de 2004, que registrou 250 mm. Foram 13 horas de precipitação, sem parar.

Conforme Francisco Júnior, o cenário do início do século é bem diferente do que foi presenciado neste sábado. As chuvas de 250 mm foram influenciada pelo dito "vórtice ciclônico de altos níveis", fenômeno que faz com que o ar seco dos níveis mais altos da atmosfera desça para a superfície.

Nesse caso, boa parte do estado do Ceará se encontrava nas bordas do vórtice, que são caracterizadas por baixa pressão, com ventos poderosos e chuvas torrenciais, durante dias a fio. Fenômeno provocou, dentre outras coisas, a primeira sangria do Açude Castanhão, no leito do rio Jaguaribe.

O evento deste sábado, em comparação ao anterior, é considerado pequeno em termos de área, mas intenso no volume de chuvas. "É engraçado, você olhava para a Majorlândia, na cidade de Aracati, o pessoal estava brincando carnaval no sol", comenta o pesquisador.

Isso ocorre pois, hoje, a atmosfera consegue sustentar menos calor que antigamente. "Ela satura muito rápido. Como está muito quente, ocorrem esses eventos muito fortes. Que estão ficando mais frequentes, são frutos desse novo clima que temos", comenta.

Essa nova realidade climática é provocada pela quantidade de gás carbônico na atmosfera, que resulta no efeito estufa.

Como forma de mitigar os malefícios do clima, portanto, é preciso que essa realidade seja revertida o que, segundo o pesquisador, ao menos a curto prazo, já não é possível.

"No curto prazo, é tentar se adaptar e a mitigação é em escala mais global, né? Prezarmos por regiões com mais vegetação, para absorverem mais a chuva, para não alagar, né? Reduzir a quantidade de gás carbônico na atmosfera, que faz o efeito estufa e por aí vai", diz Francisco Júnior.

Fortaleza tem alagamentos, queda de árvores e falta de energia

Apesar das diferenças, duas décadas depois, Fortaleza segue com problemas de drenagem, acúmulo de lixo, quedas de energia, de internet e semáforos sem funcionamento, quando acometida por fortes chuvas.

Em 2004, eram comuns os relatos de moradores das margens dos rios Maranguapinho e Cocó, que tiveram de sair de suas casas pelo alagamento. "Além disso, a Comunidade do Lagamar e o bairro Aerolândia ficaram tão cobertos de água que nem o Corpo de Bombeiros podia ajudar os moradores. As regiões se isolaram", relata o jornalista Rômulo Costa, em um texto do O POVO sobre o período.

Já neste sábado, além do alagamento de casas, ruas, canais e avenidas, houve problemas com falta de energia e queda de árvores.

Em resposta, o prefeito José Sarto (PDT), por meio das redes sociais, frisou que, no dia, "desde cedo" a Prefeitura esteve atenta e "atuando fortemente nas ruas para lidar com os efeitos da chuva em nossa cidade.

"Eu estou pessoalmente monitorando as ocorrências e os atendimentos, em contato direto com nossos secretários, cobrando celeridade nos serviços para minimizar prejuízos e riscos eventuais. Acionei toda nossa estrutura para garantir as condições de trabalho necessárias para nosso time trabalhar", acrescenta.

Veja as dez maiores chuvas já registradas em Fortaleza

  1. 29 de janeiro de 2004: 250 mm, no posto Pici
  2. 11 de fevereiro de 2024: 215 mm, no posto Pici
  3. 23 de junho de 2012: 197,6 mm, no posto Pici
  4. 27 de março de 2012: 197,5 mm, no posto Pici
  5. 20 de março de 1988: 189 mm, no posto Castelão
  6. 29 de janeiro de 2004: 180,6 mm, no posto Castelão
  7. 23 de junho de 2012: 177,8 mm, no posto Defesa Civil (atualmente inativo)
  8. 7 de março de 2004: 173,8 mm, no posto Pici
  9. 29 de janeiro de 2004: 170,3 mm, no posto Pici
  10. 31 de março de 2014: 169 mm, no posto Messejana

Atualizada às 14 horas

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