Dia do Estagiário: histórias de quem vive o início da jornada profissional
Dia do estagiário foi criado no Brasil em 1982, com decreto que regulamentava normas da modalidade; veja histórias de pessoas que vivem a realidade do começo da carreira
Eles estão começando no mercado de trabalho, ou iniciando a carreira. Sem vínculo empregatício, precisam seguir normas específicas, ficando em uma situação mais delicada. No Dia do Estagiário, nesta quarta-feira, 18, O POVO ouviu histórias de pessoas desse grupo, atravessadas por situações inesperadas ou pelo efeito dramático da pandemia. Todas construindo uma bagagem profissional.
O dia do estagiário foi criado no Brasil em 18 de agosto de 1982, data em que ocorreu a publicação de um decreto que regulamentava as normas da modalidade de aprendizado. O texto foi revogado em 2019. As normas para os estágios no País são regidos atualmente pela lei n° 11.788, de 2008.
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A matéria estabelece regras e limites para a atividade, que busca inserir o estudante no mercado de trabalho de forma a capacitá-lo sem prejudicar seus estudos. O texto dá definições sobre férias, pagamento de bolsa, carga horária de trabalho, entre outros, estabelecendo a contratação do estagiário sem um vinculo empregatício, com base em normas especificas para esse tipo de atuação.
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Segundo Érica Martins, membro da Comissão de Direito do Trabalho da Ordem dos Advogados do Brasil Secção Ceará (OAB-CE), a lei segue praticamente a mesma até hoje. A única alteração que a matéria teve foi em decorrência da pandemia. "A lei é muito bem feita, mas o que teve de alteração foi na pandemia a questão de home office, os estágios obrigatórios foram suspensos", aponta a representante.
Antes da regulamentação da modalidade, estudantes costumavam realizar atividades sem pagamento, de forma voluntária. Conforme a advogada, com a lei eles tiveram a possibilidade de receber pelo serviço, sendo resguardados de alguma forma. "O estagiário tem uma oportunidade de ter uma experiência profissional no curso de ensino médio ou na faculdade e o beneficio da empresa é que esse vinculo não é de emprego", destaca Érica.
O contato inusitado com a profissão
Amparados pela legislação, estudantes entram no mercado de trabalho e têm o primeiro contato prático com a carreira que anseiam seguir. Essa experiência nova pode resultar em um "choque de realidade", provocado por situações inusitadas. É nesse momento, afinal, que o aluno passa a praticar o que ele só conhecia teoricamente. Uma sensação semelhante a de conhecer alguém de quem só se ouviu falar.
Esse é o caso de Eduarda Porfirio, 22, estudante do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC). Atualmente no 7° semestre, ela viveu as primeiras experiências de estágio em ambientes de redação, escrevendo matérias. No estágio em que está atualmente, contudo, precisou se adaptar a outro tipo de atuação: a de assessora de comunicação em uma escola de gastronomia.
Se antes a estudante trabalhava só com escrita, agora ela se vê pensando no ângulo certo para fotografar pratos ou nos alimentos e talheres necessários para construir uma receita - cuja produção irá ajudar a gravar. Uma nova e divertida experiência. "Teve uma vez que a gente foi gravar um vídeo e tava faltando colher de sopa e eu tive que rodar todas as cozinhas atrás de uma colher de sopa, no final deu certo, mas foi muito engraçado", relembra aos risos.
Por falar em comida, quem também passa por situações inusitadas com alimentos é Ially Maria Lima, 23, estudante do curso de Psicologia da UFC. Atualmente a estudante estagia na Clínica-Escola da instituição, mas faz atendimentos apenas de forma remota por conta da pandemia.
"Talvez uma das experiências mais comuns e engraçadas seja a de não conseguir mais conversar porque tem tipo um carro do ovo passando", cita, apontando um problema de ruído sonoro que pode ser enfrentado por quem atua em home office. No caso dela, contudo, serve como prova de que já tem postura para lidar com esse tipo de situação, uma vez que acaba brincando sobre o fato no atendimento, não se deixando constranger.
Consequências da pandemia e outras experiências
Além de provocar situações como a citada acima, o home office afastou Ially da experiência do atendimento clínico presencial. O tipo de atendimento remoto, contudo, acabou resultando em mudanças significativas no modo de atuar da profissão, que a estudante não apenas presenciou como praticou, demonstrando ter confiança e capacitação necessária para isso.
"A modalidade remota de atendimento terapêutico não era tão discutida ou utilizada ao meu redor, e agora é bem comum, por exemplo, que colegas recém formados comecem a atender profissionalmente através dessa forma. Algo que antes só poderia ser feito com a burocracia de alugar sala comercial, por exemplo", conta.
Embora seja algo que tenha se tornado mais comum, o atendimento remoto trouxe problemas que vão além das dificuldades tecnológicas das pessoas atendidas. "É comum que as sessões tenham que ser pausadas momentaneamente porque algum parente está por perto, muitas vezes o tópico da sessão é justamente as pessoas com quem o convívio é mais próximo, e não ter a privacidade garantida é uma perda com certeza", destaca Ially, que já mantém postura de uma profissional veterana.
Mesmo que demostrem competência para o cargo que ocupam temporariamente, estagiários ainda podem ser vistos em posição de inferioridade, por não terem vinculo empregatício e ainda serem estudantes. Eduarda passou por uma situação como essa quando precisou atender uma cliente da empresa onde atua.
"Ela ficou me olhando como se eu fosse o ser mais inferior do mundo. Eu fiquei mal porque aquela pessoa tava me tratando daquele jeito, como se eu fosse inferior a ela", relembra Porfirio, destacando ainda ter se sentido vítima de racismo. "Não é porque eu sou estagiária que eu sou inferior a quem quer que seja, porque a pessoa tem um doutorado, mestrado, é branca, etc.".
Apesar de ter passado por esse tipo de situação, a estudante destaca viver uma experiência nova, que a possibilita conhecer "novas formas de fazer jornalismo", diferentes até mesmo daquelas que já estudou na faculdade. Isso Eduarda e Ially tem em comum, são estudantes buscando capacitação na prática, driblando problemas e ganhando uma maturidade fundamental para as profissionais que serão no futuro.