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Mata Atlântica concentra maior número de espécies ameaçadas e extintas no Brasil

Considerado o bioma com a menor proporção de cobertura original preservada, Mata Atlântica possui 1.989 espécies ameaçadas segundo levantamento do IBGE
11:52 | Nov. 05, 2020
Autor Lais Oliveira
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Lais Oliveira Estagiária do O POVO Online
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Tipo Notícia

Dos biomas brasileiros, a Mata Atlântica concentra o maior número total de espécies ameaçadas de extinção, considerando fauna e flora (1.989), além de deter o maior número de espécies extintas (6). Entre 2010 e 2018, as espécies do bioma, que tem a menor proporção de cobertura original preservada, sofreram um aumento do risco de extinção em todos os ambientes — terrestre, água doce e marinho.

No ranking das espécies ameaçadas, o Cerrado (1.061) tem a segunda posição, seguido pela Caatinga (366 espécies). As informações constam na pesquisa “Contas de Ecossistemas: Espécies ameaçadas de extinção no Brasil 2014”, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, 5,

O levantamento aborda espécies e seu estado de conservação na natureza, detalhadas por biomas – Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pampa, Pantanal e Mar e ilhas oceânicas – e tipos de ambiente (terrestre, água doce e marinho).

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No estudo, foi observado o estado de conservação das espécies em 2010, 2014 e 2018. Para avaliar as variações em relação ao risco de extinção das espécies ao longo dos anos, a pesquisa utiliza o Índice da Lista Vermelha (ILV).

Os valores do ILV variam de 0% a 100% e são como uma proporção do número de espécies em cada categoria de risco de extinção (com pesos maiores para categorias de maior risco) em relação a um cenário ideal em que todas as espécies avaliadas estão na categoria “Menos Preocupante”.

Dessa forma, um valor do ILV igual a 100%, por exemplo, equivale a todas as espécies sendo categorizadas como “Menos Preocupantes”. Ou seja, não se espera que nenhuma seja extinta no futuro próximo. Enquanto isso, um valor do ILV igual a 0% indica que todas as espécies foram extintas.

Confirmando o que já se evidenciava nas análises anteriores, entre 2010 e 2018, as espécies da Mata Atlântica sofreram um aumento do risco de extinção em todos os ambientes, representado pelas seguintes reduções do ILV: de 0,23% das espécies terrestres; 0,22% das espécies de água doce; e 0,11% das espécies marinhas. Segundo a análise do IBGE, tal evolução indica que houve um aumento do grau de ameaça, logo, do risco de extinção de espécies, no bioma, nos três tipos de ambientes.

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Maior ação humana

 

Sendo a região com maior presença de ambientes antropizados (que possuem ação do homem), a Mata Atlântica se destaca ainda pelo maior número total de espécies ameaçadas proporcionalmente aos maiores números de espécies avaliadas (25% das espécies do bioma estão em categorias ameaçadas), e é o bioma de ocorrência original do Mutum-do-Nordeste (Pauxi mitu), espécie atualmente extinta na natureza, cuja sobrevivência depende de programas de reprodução em cativeiro.

Cerca de 12% das espécies que ocorrem na Mata Atlântica são categorizadas como “Dados Insuficientes”, e cerca de 5% como "Quase Ameaçadas". Essa é a segunda maior proporção de espécies sem dados entre os recortes ecológicos analisados na pesquisa, ficando atrás apenas dos mais de 14% no Mar e Ilhas Oceânicas.

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Amazônia

Ainda sobre a variação percentual do ILV, entre 2010 e 2018, das espécies terrestres, de água doce e marinhas de cada um dos biomas, a pesquisa mostrou que a Amazônia, marcada pelos recordes de focos de incêndios em 2020, teve piora do ILV em todos esses ambientes.

Desse modo, houve um aumento do risco de extinção, representado pelas seguintes reduções do ILV: de 0,83% das espécies terrestres; 0,55% das espécies de água doce; e 0,12% das espécies marinhas.

A Amazônia possui 5.944 espécies avaliadas considerando fauna e flora. Apesar desse alto número total de espécies avaliadas, dado sobre espécies ameaçadas é relativamente baixo (278 espécies) — equivalente a uma proporção de cerca de 5%.

Pouco mais de 9% das espécies avaliadas que ocorrem na Amazônia são categorizadas como “Dados Insuficientes”, e cerca de 2% como “Quase Ameaçadas”. Além disso, o bioma Amazônia apresenta a segunda maior proporção de espécies na categoria “Menos Preocupante” (84,3%).

Pantanal

No Pantanal, que já perdeu 19% da área por queimadas em 2002, a principal variação do ILV foi observada no ambiente de água doce, com uma redução de 0,33%.

Considerando fauna e flora em conjunto, o Pantanal apresenta a menor proporção de espécies ameaçadas entre os biomas (cerca de 4%). Cerca de 5% das espécies do Pantanal são categorizadas como "Dados Insuficientes" e 2% são consideradas "Quase Ameaçadas de Extinção". O Pantanal apresenta ainda a maior proporção de espécies na categoria "Menos Preocupante" (88,7%).

Em relação à fauna no ambiente terrestre são registradas 35 espécies ameaçadas no Pantanal (cerca de 4% das espécies avaliadas no bioma. Além dos dados visíveis no gráfico, há uma espécie extinta no Pantanal - a ave Maçarico- esquimó (Numenius borealis), que já havia sido registrada no bioma, além dedo Pampa e na Mata Atlântica.

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Pampa


Enquanto isso, os ambientes terrestres e de água doce do bioma Pampa permaneceram estáveis, e o ambiente marinho apresentou uma redução de 0,10%. São registradas 38 espécies ameaçadas de extinção entre a fauna no ambiente terrestre do Pampa (cerca de 5% das espécies avaliadas no bioma).

Há duas espécies na categoria extinta no Pampa: as aves Peito-vermelho-grande (Sturnella defilippii) e Maçarico-esquimó (Numenius borealis). Em contraste com os demais biomas, o ambiente de água doce no Pampa possui uma proporção de espécies ameaçadas maior do que o ambiente terrestre (48 espécies, 8% das espécies de água doce do Pampa).

Cerca de 5% das espécies da fauna de água doce são categorizadas como "Dados Insuficientes", ressaltando a necessidade de melhores informações para grupos como os peixes continentais e invertebrados de água doce.

Caatinga

Com 71% das espécies estão na categoria de menor preocupação em relação à ameaça de extinção, o bioma Caatinga teve a menor variação do ILV entre os demais do País, registrando uma pequena redução das espécies de água doce (-0,02%) e valores estáveis nos demais ambientes.

Por volta de 7% das espécies que ocorrem na Caatinga são categorizadas como "Dados Insuficientes", e cerca de 4% como "Quase Ameaçadas". Dentre as espécies avaliadas considerando fauna e flora, 2.015 ocorrem no bioma Caatinga. O número total de espécies ameaçadas de extinção foi de 366 espécies (cerca de 18% do total avaliado).

Cerrado

Detendo o segundo maior número de espécies ameaçadas, o Cerrado teve uma redução do ILV, de 0,22% das espécies terrestres, e de 0,22% das espécies de água doce. Segundo a pesquisa, a evolução indica que houve um aumento do risco de extinção de espécie, no bioma, nesses dois ambientes. Já o ambiente marinho permaneceu estável.

Cerca de 10% das espécies do Cerrado são categorizadas como “Dados Insuficientes” e quase 4% são consideradas “Quase Ameaçadas de Extinção”, sendo prioritárias para novas pesquisas por terem grande chance de se enquadraram em uma das categorias de ameaça. O Cerrado apresenta a segunda menor proporção de espécies na categoria “Menos Preocupante” (67%).

A pesquisa do IBGE mostrou ainda que as espécies marinhas das ilhas oceânicas e do Sistema Costeiro-Marinho foram os únicos grupos a apresentar melhora nos valores do ILV (0,39% e 0,02%, respectivamente).


Avaliações nacionais

 

Atualmente são reconhecidas no Brasil um total de 49.168 espécies de plantas e 117. 096 espécies de animais, com estimativas de que o número de espécies animais ultrapasse 137 mil. Desse total, o Centro Nacional de Conservação da Flora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (CNCFlora/JBRJ) realizou até 2014 a avaliação de 4.617 (11%) espécies da flora, e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) avaliou 12.262 (10%) espécies da fauna.

A análise do IBGE considera as as listas de espécies nacionais oficiais do ano de 2014, resultantes de avaliações do estado de conservação da fauna e da flora publicadas pelo ICMBio e pelo CNCFlora/JBRJ.

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