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Em resguardo físico, religiosidade cearense continua mesmo em tempos de pandemia

Programações religiosas do Estado estão sendo realizadas de forma virtual; O POVO mostra as mudanças e elenca a programação diária diversa de lives religiosas
12:29 | Mai. 14, 2020
Autor Marília Freitas
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Marília Freitas Estagiária do O POVO Online
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Tipo Notícia

Para os que acreditam, a religiosidade pode sim restaurar vidas. Em tempos de pandemia, a sensação não é diferente, mas vem passando por alterações nas missas, cultos e festas que não estão sendo celebradas presencialmente. No entanto, a prática da devoção permanece nos corações e nas telas dos fiéis, que perpassam de telespectadores a produtores de conteúdos para lidar com o isolamento social decretado no Ceará desde o último dia 19 de março e com o estado de lockdown em Fortaleza.

A necessidade de resguardo fez igrejas e terreiros adaptarem suas formas de comunicação com os devotos. É o caso do padre Reginaldo Aragão da Paróquia Nossa Senhora das Dores, no município de Caridade (CE), que tem dez casos confirmados e dois óbitos por Covid-19 até última atualização do IntegraSUS. A paróquia não tinha o costume de transmitir seus eventos pelas redes sociais, mas precisou se adaptar devido à pandemia.

As transmissões das missas, antes divulgadas em megafones da sede oficial devido à baixa viabilidade da internet na região, precisaram ser interrompidas devido a aglomerações na porta da igreja que aconteciam mesmo estando fechada ao público. As ações passaram a ser em outro lugar que não tem os megafones, mas com sinal de internet. “Em contrapartida, temos outros fiéis devido à divulgação nas redes sociais como o Facebook e o Instagram”, explica o padre, que conseguiu repercutir suas palavras até mesmo para países do golfo Pérsico, no Oriente Médio. “Enquanto as igrejas estão de portas fechadas, as casas se abriram às igrejas”, comenta Reginaldo ao O POVO.

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O caso é parecido com o que tem acontecido em outros municípios do interior do Estado, no qual a doença começa a se espalhar massivamente. Os moradores da pequena cidade de Morrinhos, a 214 km de Fortaleza, nunca haviam precisado se reunir virtualmente devido ao fácil acesso entre os moradores. Com 41 casos confirmados e dois óbitos pelo novo coronavírus no município, o pastor Jânio Clever precisou encontrar novos métodos de se reunir com os fiéis evangélicos da Igreja Bíblica de Morrinhos.

Através de videoconferência, a congregação vem se reunindo internamente e realizando atividades como o canto de louvores e conversas sobre a rotina diante da pandemia. "Optamos por algo mais interativo, falamos mas também queremos ouvir os demais. A fé é um elemento de suma importância nesse momento", conversa Clever.

Apesar de não substituir o aconchego dos encontros presenciais, o pastor vê potencial nas ferramentas utilizadas nos encontros, como o Google Meet e WhatsApp. "Somos um exemplo de que não tínhamos os olhos abertos para essas oportunidades. Mesmo quando tudo voltar, faremos o uso para comunicar com aqueles que estão à distância e não estão dentro do núcleo de congregação", diz.

Redes sociais trouxeram novos adeptos e intensificação de conteúdo nas plataformas

As redes sociais também possibilitaram que novos devotos conhecessem e passassem a acompanhar mais sobre as religiões disseminadas nos encontros. Mãe Kelma de Iemanjá, integrante da Rede Ayoká, na última semana protagonizou lives no Instagram que trabalharam a força ancestral de orixás na pandemia. “Outras pessoas que não são do candomblé nos mandaram cartas e nos parabenizaram dizendo que é uma iniciativa muito legal”, conversa a egbon, cargo de maioridade dentro da religião afro-brasileira.

Como as atividades presenciais nos terreiros foram paralisadas, a alternativa virtual chamou a atenção de integrantes de um terreiro em São Paulo, que irá retransmitir os encontros do coletivo cearense também nas redes sociais. A expectativa é de que as lives continuem na próxima semana no Instagram de Mãe Kelma, que acredita que o isolamento é fundamental. "Tudo com o tempo tem tempo. O Tempo para gente é um orixá, um tempo de resguardo necessário para que os cientistas possam criar algo para combater o vírus". O isolamento social pode trazer energias de angústia e medo, mas Kelma contorna. "Temos a consciência de que não estamos sozinhos. Porque o nosso orixá está sempre conosco, no nosso coração. Estamos passando apenas por um resguardo", conclui.

Os que já costumavam produzir conteúdo on-line para os fiéis também precisaram se adaptar, como conta o pastor Aristides Ulchôa, da Igreja Batista Central de Fortaleza (IBC). A programação de quarentena, antes em dias e horários específicos, precisou ser diária devido às demandas por conteúdo dos membros que estavam isolados em casa. No Ceará, a maior parte dos índices de Covid-19 está na Capital, que tem mais de 13 mil casos confirmados e mil óbitos de acordo com última atualização do IntegraSUS.

"Foi um desafio, pois exigiu da equipe um conhecimento e uma dinâmica de produção de material que não existia", explica o pastor. Os próprios membros da IBC estão ajudando na produção do conteúdo, como advogados, médicos e outros profissionais que estão isolados e participam das lives da igreja como palestrantes ou ministradores. A programação vem dando um retorno de 10 mil visualizações semanais nos canais do Youtube, Instagram e Facebook da comunidade.

A expectativa de Aristides era de que os encontros presenciais voltassem logo. Como isso ainda não aconteceu, encontros virtuais também precisaram ser criados para lidar com a sensação de carência humana bastante relatada entre os fiéis "É o mais próximo do presencial que encontramos ser.”

Apesar dos novos conteúdos, a possível saturação vem sendo outro desafio. "Vai chegar um momento em que as pessoas não querem mais lives. Elas querem relacionamentos e isso tem a ver com a essência humana. Isso só vai ser contornado com a intensidade do mundo real”, conclui.


Confira a programação de encontros religiosos virtuais no Ceará

IGREJA BATISTA CENTRAL DE FORTALEZA (IBC)

Onde
Facebook, Instagram e Youtube da igreja
O quê
Lives, grupos de apoio e celebrações
Quando
Segundas-feiras, 19h30min, 20h, 20h30min e 20h40min;
Terças-feiras, 20h;
Quartas-feiras, 19h30 e 23h;
Quintas-feiras, 20h;
Sextas-feiras, 19h30;
Sábados, 20h30min;
Domingos, 8h30min e 17h;

COLETIVO AYOKÁ

Onde
Instagram da egbon Mãe Kelma de Yemanjá
O quê
Lives, palestras e conversas
Quando
Domingo, 17 de maio, das 17 às 18 horas

PARÓQUIA NOSSA SENHORA DAS DORES

Onde
Facebook e Instagram;
O quê
Lives, missas e palestras;
Quando
Segundas aos sábados, 6h;
Terças aos sábados, 19h.
Domingos, 17h;

PADRE EUGÊNIO PACELLI

Onde
Instagram e Aplicativo para Android
O quê
Lives, missas e palestras
Quando
Quarta-feiras, 19h.
Domingos, 18h.

 

 

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