CineBH: cinema comunitário causa transformação em 'Chicharras'

CineBH: cinema comunitário causa transformação em 'Chicharras'

Em entrevista ao O POVO, roteirista Rosalinda Dionísio destaca visibilidade adquirida por meio do cinema comunitário no México

De que maneira o cinema pode criar novas realidades para grupos historicamente invibilizados? Este é um dos questionamentos por trás do filme "Chicharras", de Luna Marán, exibido pela primeira vez no Brasil durante programação na 19ª edição do CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte.

Cerca de 120 moradores das comunidades indígenas de Oaxaca, no México, decidiram participar da história escrita por Jenny García, Yuliana Berenice, Rosalinda Dionisio, Julio López, Ernesto Martínez e Luna Marán para trazer realidade à ficção que se espelha no estilo documental.

Leia no O POVO + | Confira histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

São eles que tomam frente quando San Pablo Begú, uma das comunidades do território, se torna a mira de um conjunto de máquinas que tenta construir uma rodovia sem autorização prévia. Na película, são os habitantes que assumem, de forma rotativa, as responsabilidades de autogoverno.

Eles, portanto, vivem em comunalidad (ainda sem tradução para o português), sistema de vida e governança do norte de Oaxaca, inspirado pelos pensamentos dos antropólogos Jaime Martínzez Luna y Floriberto Díaz Gómez.

A produção feita pela primeira geração de egressos do Acampamento Audiovisual Itinerante, promovido pela encubadora de cinema comunitário Too Lab, busca exibir a dinâmica: compreensão integral da vida em comunidade, incluindo a defesa da natureza; o consenso comunitário para decisões políticas; o serviço gratuito e o trabalho coletivo, assim como a valorização de ritos e cerimônias.

Rosalinda Dionísio e o cinema comunitário do México

O mesmo protagonismo dentro do modelo social-político-econômico é levado para as telonas, "sem colocar algo que não está", como expressou a roteirista Rosalinda Dionísio em seminário realizado durante programação do festival.

LEIA TAMBÉM | Netflix, HBO Max e Disney+: veja lançamentos da semana no streaming

Para registrar esta história, os personagens - aqui muitas vezes não interpretados por atores profissionais - devem aparecer com as vestimentas tradicionais, com os idiomas que falam e as músicas que tocam.

"Chicharras" faz a escuta das vozes indígenas e vibiliza a participação das mulheres nos cargos comunitários, como destaca a roteirista em entrevista ao O POVO. "Estamos dando nossa voz e estão escutando nossa voz, de uma maneira que as produções comerciais não fariam. Eles colocam valor em algo que venda, e nós não estamos à venda", contesta.

Ainda é novidade que o sistema das comunidades de Oaxaca, especificamente de Guellatao, onde aconteceu a maior parte das gravações, possam ser tema de uma narrativa audiovisual distribuída internacionalmente. A continuidade de projetos similares possibilida a evidência da realidade vivida e atribui autoestima para aqueles que vivem no espaço.

"Fazemos coisas que não são ditas, e temos capacidade. Queremos dizer que o território, para a gente, é como a vida. Se destroem o território, nos destroem", defende a também advogada. Com poucos recursos de incentivo para a produção na área, Rosalinda destaca o interesse pessoal em possibilitar a finalização do projeto e a importância do cinema comunitário.

"Como fazemos para falar da comunidade e também para denunciar? Porque temos que denunciar também, como a violência, o extrativismo, o que temos conseguido", pontua. Com uma equipe marjoritariamente formada por mulheres, o longa-metragem mexicano consegue abordar as complexidades comunitárias com leveza e fidelidade, abrindo caminho para as próximas.

"Estamos fazendo essas outras brechas para que os jovens cheguem a ter essa outra forma de direito e possa alçar as próprias vozes", complementa.

*A jornalista viajou a convite do evento.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar