CineBH: 'Punku' ignora estereótipos e aproxima o Brasil da mitologia peruana

CineBH: 'Punku' ignora estereótipos e aproxima o Brasil da mitologia peruana

Longa-metragem de J. D. Fernández Moleto foi apresentado na mostra Territórios, parte da programação do 19º CineBH

A convergência entre fantasia e realidade constrói a narrativa de "Punku", longa-metragem de ficção cujo título significa "portal" em Quechua, idioma indígena da América do Sul.

Nesta abertura imagética e conceitual, o diretor Juan Daniel Fernández Molero propõe panoramas experimentais sobre os seres mitológicos da Amazônia peruana.

A jovem Matsigenka (Maritza Kategari) encontra Ivan, garoto desaparecido há dois anos, já machucado e desacordado. Ele é levado à cidade de Quillabamba, localizada na região de Cusco, no Peru, para receber cuidados médicos.

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No hospital, passa por cirurgia de um olho infeccionado. É a partir deste ponto que o horror e o suspense dão tom para desenvolver a história, rodeada por lendas, traumas e rituais.

"Eu gosto dos retratos que abrem significados, não que os fecham", explicou o diretor durante seminário realizado na quinta-feira, 25, na 19ª edição da mostra CineBH, em Belo Horizonte. O filme foi exibido pela primeira vez no Brasil na mesma data.

Identidade no cinema peruano

Juan expande visão ao fugir dos conceitos acadêmicos e midiáticos, por vezes influenciados por concepções ocidentais, e utilizar a experiência como base. Os mistérios dos sonhos, assim como as paralisias que acometem o sono, são pontos de partida para apresentar criaturas como El Tunche - espírito da floresta que adota imagem simpática para atrair pessoas e devorá-las.

O misticismo do diretor é guiado pela intuição e tradição oral, aquela que, como pontua, não tem registro físico nem delimitação. "Ao falar de identidade, de pertencimento, tem que ter autocrítica para romper com certos esteriótipos autoimpostos", desenvolveu Juan.

O resultado leva para tela o que ele chama de fantasmas culturais, "essas coisas que não estamos vendo, não estamos falando, mas que está aí presente, inclusive na linguagem. Está em tudo que é, que será e o que foi".

"Punku", de acordo com o cineasta, brinca com a liberdade criativa para entender a cultura peruana. Os delírios de Ivan tornam visíveis as origens destes mitos, enquanto o desenvolvimento da amiga Meisha mostra os influxos da tecnologia. Juntos, os dois caracterizam a mistura de linguagens no trabalho de Juan.

Ao mesmo tempo, o rio, assim como a terra, se torna personagem para nortear o território. "Tem um compromisso com o espaço que está sendo filmado, de retratá-lo desde o amor, desde o pertencimento. Mas pensar o coletivo não exclui o pessoal, o íntimo", considerou o diretor para dimensionar a importância de gravar na região. “Sim, é um povoado afastado, mas para a comunidade indígena é a grande metrópole”.

O longa-metragem estreou no 75º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro, e venceu o prêmio de Melhor Fotografia Ibero-Americana no 64º Festival Internacional de Cinema de Cartagena de Índias (FICCI). 

*Jornalista viajou a convite do 19º CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte

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