Nostalgia e saudade de casa: como cearenses celebram o Natal morando no exterior
Entre a nostalgia e saudade de casa, cearenses comemoram o período de festas natalinas no exterior; confira relatos
Remetendo à união, família e bons momentos, o Natal é um dos feriados mais aguardados do ano.
No Brasil, as comemorações começam na véspera, dia 24 de dezembro, com as ceias fartas compartilhadas entre as famílias.
O dia seguinte, 25 de dezembro, está marcado como feriado nacional. Este é o momento em que as sobras ou uma nova receita são consumidas no almoço, em outra reunião familiar, por exemplo.
No entanto, nem todos passam com parentes: alguns passam a sós, com os amigos ou nem mesmo comemoram.
Também tem o caso de pessoas que celebram o Natal todos os anos, mas longe de casa e com costumes completamente diferentes do que estão acostumados.
Leia mais
Natal entre saudade e família: histórias de cearenses que moram no exterior
Leia mais
Por trabalho ou sonho pessoal, muitos brasileiros decidem tentar a vida fora do País. Com o tempo, a rotina se adequa, mas, ao chegar o período de festas de fim de ano, a situação muda pela saudade de casa, por exemplo.
Enquanto alguns viajam ao Brasil para visitar os entes queridos e passar o Natal e o Ano Novo, outros permanecem nos países onde estão residindo.
Juliana Diógenes
É o caso da jornalista Juliana Diógenes, 35 anos que já passou vários natais com grupos de amigos brasileiros ou não, estes que, com o tempo, se tornaram a sua família por lá.
Com quase cinco anos morando em Porto, no norte português, Juliana Diógenes passou os quatro anos anteriores à mudança em São Paulo. Com isso, são 10 anos comemorando o Natal longe de casa.
“Já fiz essa comemoração de muitas formas. Tanto que já me juntei com outras pessoas deslocadas dos seus habitats, cidades, como imigrantes”, comentou a jornalista em entrevista ao O POVO. Hoje, passa a data com o marido.
Sabrina e Marcelo
Já o casal cearense Sabrina Luna, 42, e Marcelo Pinheiro, 47, que mora em Berlim, na Alemanha, passa a festa com amigos brasileiros há três anos, mas nem sempre foi assim.
Marcelo Pinheiro chegou antes da companheira, em novembro de 2021, indo apenas em abril do outro ano. Por isso, passou o seu primeiro Natal fora de casa com um amigo com quem trabalhava no Brasil.
“Foi uma mistura de sentimentos: feliz, porque tinha dado tudo certo depois de bastante trabalho com entrevistas, visto, viagem… Mas triste, porque não estava perto do resto da família”, conta o engenheiro de software.
Em 2022, na primeira celebração juntos, o clima foi diferente. “Foi bem divertido e não tão diferente para nós, porque já tínhamos o costume de passar o Natal com amigos e familiares mais próximos - nosso núcleo familiar é bem pequeno”, disse a advogada Sabrina Luna.
Camila Novais
Da mesma forma que os outros entrevistados, Camila Novais, 41 anos, celebra com outros amigos brasileiros e cada um levava o próprio prato, sendo tradicional do país ou não.
Relacionando à época a uma comemoração familiar e religiosa, Camila Novais diz ter passado as primeiras vezes com o esposo e a filha na sua casa em Setúbal, localizada a cerca de 50 km de Lisboa, em Portugal.
Desde 2019, ano em que chegaram, a tradição mudou para melhor: o nascimento do filho mais novo e a chegada da irmã com os filhos e a mãe no país.
“O nosso Natal ficou como no Brasil: ceia, troca de presentes e chamadas de vídeo para vermos a [outra parte] família”, explicou a assistente de backoffice.
Alda Caúla
Também na Europa, mas na França, a artista Alda Caúla, 45, passa as festas de fim do ano com o esposo francês e alguma amiga brasileira que convida para a comemoração.
No entanto, por passar longe da filha e da mãe, a sensação não é de alegria. Ao OPOVO, descreve o período como “difícil” e que a presença de uma amiga do seu país no Natal alivia a nostalgia da vida no Brasil.
“Sou muito família. Então, no Natal, é mais difícil, porque todos os meus familiares se reúnem na casa de praia. Me sinto ainda mais solitária nesse período”, diz.
Alda mora há quatro anos em Cergy, vila que faz parte da Île-de-France, em Paris, capital francesa, por convite do companheiro.
Ao chegar no país, trabalhava na limpeza de boutiques de luxo, como Chanel e Prada. Até que decidiu seguir o talento das artes, com a pintura. Hoje, vende pinturas em porcelana - como canecas - pela sua loja Pincée D’art.
Natal no exterior: veja relatos sobre as diferenças culturais
Cada lugar do mundo tem a sua maneira de passar o Natal, de acordo com sua cultura e tradições.
Ceias
Em Portugal, a ceia não é tão diferente do que como é feita no Brasil, por exemplo, segundo as entrevistadas. Entretanto, o diferencial está no prato principal, informou Juliana Diógenes.
Segundo a jornalista, ao invés do tradicional Peru presente nas mesas das famílias brasileiras, os portugueses comem bacalhau, receita tradicional do país.
Já na França, a ceia é menos farta de comida do que a brasileira. Mesmo assim, Alda explica que prepara a mesa com pratos típicos que fazia em casa, como salpicão e pernil.
Com a mistura do país residente e de origem, Sabrina e Marcelo preparam a festa com comidas alemãs e brasileiras. Entre as da Alemanha, estão o Stollen, descrito por eles como um “panetone guaribado [superficial]”, e biscoitos amanteigados feitos por crianças.
Clima natalino: afeto entre pessoas e tempo
Outra diferença apontada por Juliana, em Portugal, é o tempo climático no período de fim do ano, principalmente quando se aproxima à virada do ano.
Descreveu o Natal como “mais escuro, familiar e fechado” em comparação ao calor e o momento de aproveitar a festa no Brasil.
A saudade deste calor está presente na fala de Camila Novais, principalmente durante este período. Ela explica que “os brasileiros são mais afetuosos e calorosos”, diferente dos portugueses.
Apesar de as decorações serem parecidas com as brasileiras, destaca que as cidades de lá são mais enfeitadas, por uma segurança local maior e com menos risco de roubo.
No quesito temperatura, o casal Sabrina e Marcelo comenta que chega ao negativo, sendo um período de bastante frio na Alemanha também.
Mercados de Natal
Em comum, todos os entrevistados citaram os mercados de Natal, que movimentam o comércio de países como os mencionados. A partir do final de novembro, estão abertos ao público.
Camila os descreve como “barracas quintas de madeiras, onde as pessoas expõem produtos que vão desde alimentos e bebidas regionais a roupas e artigos de Natal”.
As idas aos mercados são tradicionais entre os europeus e quem vive no continente. Sabrina e Marcelo, por exemplo, saem de Berlim para visitar os de outros países, como os da Polônia.
Quando estão em mercados locais, costumam comprar o glühwein, vinho quente tradicional feito com especiarias. O casal consome o produto, principalmente, em dias frios, como relatado.
Na França, os chamados marchés de Noël representam várias regiões do país, a partir da culinária de cada um.
Alda conta que a sua preferida é a raclette, queijo derretido com batata. Também gosta de vinho quente para aquecer dias frios de inverno, como é feito pelo casal na Alemanha.
Além de ser uma forma de experimentar diferentes produtos gastronômicos, é uma programação familiar. Todo ano, Camila, marido e os filhos visitam os mercados e passeiam pela cidade.
Outras tradições
Cada país celebra o Natal de acordo com a sua cultura e algumas tradições podem ser consideradas até inusitadas no Brasil; veja outras que foram citadas pelos entrevistados:
Feriado de três dias
Em várias regiões da Europa, o período de Natal é feriado nos dias 24, 25 e 26 de dezembro;
“Papai Noel como mais uma figura mitológica natalina”
Segundo Sabrina, o tradicional velhinho não é o maior símbolo do Natal europeu. Há o São Nicolau, que deixa tangerinas, nozes e chocolates nas botas das crianças “boas” e os Krampus, que aprontam com as “más”.
Natal não é relacionado ao cristianismo
A França é um dos países europeus laicos - quando o Estado é neutro quanto a religião. Por isso, não é permitido falar sobre ela, segundo Alda. “Isso me choca, porque, no Brasil, o Natal é uma festa cristã.”