Artista italiano vende escultura invisível por R$ 87 mil; entenda
Obra "Eu Sou", feita "apenas de ar e espírito", foi vendida por R$ 87 mil e reacendeu o debate sobre o que pode ser considerado arte
Vender o que não pode ser visto, e ainda convencer alguém a pagar por isso, é uma façanha que desafia não apenas o mercado de arte, mas também a própria noção do que é real.
Foi o que fez o artista italiano Salvatore Garau, que em 2021 leiloou uma escultura invisível por 15 mil euros (cerca de R$ 87 mil).
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A obra, intitulada “Io Sono” (“Eu Sou”), não tem forma física e foi “exposta” em um espaço vazio de 1,5m x 1,5m. O comprador recebeu apenas um certificado de autenticidade e nada mais.
Três anos depois, a criação voltou aos holofotes após um post viral do perfil britânico Pubity, que tem mais de 40 milhões de seguidores.
A publicação resgatou o caso e acumulou quase 1 milhão de curtidas, reacendendo o debate sobre os limites da arte contemporânea e o valor do intangível.
Para Garau, a escultura é feita de “ar e espírito”. O artista, hoje com 67 anos, defende que o vazio também é matéria criativa, um campo de energia que ganha forma por meio da percepção de quem o observa.
“O vácuo nada mais é do que um espaço cheio de energia, mesmo que o esvaziemos. De acordo com o princípio da incerteza de Heisenberg, ele tem peso e se transforma em partículas, ou seja, em nós”, explicou em entrevistas.
No certificado que acompanha a obra, o artista descreve a peça como uma “escultura imaterial para ser colocada em um espaço livre de qualquer obstáculo”, com dimensões variáveis e registro oficial.
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O documento, assinado e carimbado, recomenda que o local da exposição tenha iluminação e temperatura controladas, ainda que a obra não possa ser vista de forma alguma.
Garau, que já havia vendido outra peça invisível intitulada “Buddha in Contemplation” por cerca de R$ 93 mil, argumenta que não comercializa o nada — e sim um conceito. “Quando decido expor uma escultura imaterial em determinado espaço, ele passa a concentrar uma densidade de pensamentos. É isso que dá forma à obra”, afirma. “Afinal, não moldamos um Deus que nunca vimos?”
A provocação é clara: se a arte é feita de ideias, emoção e presença simbólica, até o invisível pode ocupar lugar no mundo. E, no caso de Garau, esse lugar precisa ter ao menos 150 cm x 150 cm de vazio — e muito espaço para a imaginação.