E-books ficam fora da Amazon por duas semanas após remoção sem aviso

A remoção aconteceu após o contrato da empresa com a distruibuidora das editoras chegar ao fim e sem um acordo ter sido fechado, mas as editoras não foram avisadas

Imagina acordar e descobrir que um livro digital que estava em sua biblioteca virtual não está mais disponível? Isso aconteceu no dia 22 de fevereiro, quando alguns e-books foram retirados do Kindle, local de vendas de livros digitais da Amazon.

O motivo para a saída tão repentina foi o fim do contrato entre a empresa de Jeff Bezos e a Bookwire, distribuidora alemã de e-books com alcance internacional, da qual muitas editoras menores e médias mantêm parceria. Por duas semanas, os livros ficaram indisponíveis, retornando apenas no dia 13 de março.

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De acordo com a coluna do editor Walter Porto para a Folha de S. Paulo, a negociação de um novo contrato entre as duas empresas, que são líderes em seus segmentos, começou em novembro de 2023, mas o acordo demorou a ser tomado pois ambas “estavam em busca das condições ideais para um acordo equilibrado".

Entretanto, com o fim do contrato e nenhum acordo, a Amazon afirmou ao veículo que a alternativa no momento era “remover os ebooks” que são distribuídos pela Bookwire “globalmente para cumprir e respeitar o término do nosso direito contratual de revenda”.

Impacto no Brasil

A remoção teve grande impacto no universo literário digital devido a importância de ambas as empresas. A distribuidora, por exemplo, é considerada uma das maiores do mundo. No Brasil, por exemplo, estima-se que cerca de 700 editoras — grandes, médias ou pequenas — tenham parceria com ela.

Já a Amazon é a líder no campo de vendas. De acordo com o Panorama do Consumo de Livros, estudo feito pela Câmara Brasileira do Livro e Nielsen, e divulgado em dezembro do ano passado, 46,6% das pessoas que consomem livro digital no País compraram pela empresa varejista.

Retirada sem aviso prévio

As publicações da editora Moinhos, por exemplo, são distribuídas pela Bookwire e vendidas pela Amazon, e ela foi uma das afetadas pela repentina retirada. Nathan Matos, editor da Moinhos, afirma não lembrar de ter recebido um aviso prévio sobre a remoção e que ficou sabendo por meio de uma pessoa próxima.

“Achei estranho e fui averiguar, foi quando algumas pessoas próximas, editoras, comentaram que também isso havia ocorrido com os livros de suas editora”, relembra. “Ficou confirmado quando uma matéria foi veiculada e, logo em seguida, a Bookwire enviou um aviso a todos os clientes”, continua.

Inicialmente, um prazo foi dado para a editora para a volta dos títulos ao site. No entanto, dias depois um informativo indicou que ele seria modificado, “e depois ainda teve mais demora”.

“Tenho plena confiança na Bookwire, a preocupação era apenas se algo pior acontecesse e não renovassem, teríamos assim um problema bem maior, pois ficaríamos muito mais tempo até alguém ocupar esse lugar de intermediação”, afirma o editor, que em sua percepção, acredita que o maior impasse vinha da Amazon “por questão de capital”.

“Lógico que para a Bookwire também, são todas empresas e que buscam defender seus interesses. No entanto, a Amazon não estava ali defendendo os direitos autorais dos livros, mas a Bookwire sim”, completa.

Prejuízo

Nathan avalia que as duas semanas, de certa forma, foram prejudiciais, “pois qualquer valor constante que deixa de entrar no caixa é algo ruim”. Porém, apesar de ainda não ter parado para mensurar, pelo peso que o e-book representa no faturamento da editora, acredita que não foi algo tão impactante.

Ainda assim, ele garante que houve vendas perdidas, “porque o e-book vende menos, mas ele vende sempre”. “A curva é sempre ascendente, mesmo que com quedas pontuais, a curva, se pusermos em um gráfico, é sempre rumo ao céu”, graceja.

Anna K. Lima, editora da Aliás, afirma que acompanhou o que aconteceu a partir de um grupo virtual que participa com outras editoras independentes e que o ocorrido apenas endossou o motivo de manter fora as publicações da Amazon.

“É sempre uma hierarquia de cima para baixo e não estamos a fim de participar dessa situação”, declara.

Respeitando a ideologia a qual a Aliás foi criada, ela acredita ser uma das formas de “não sucumbir a cadeia produtiva do livro”. “No sentido que de fato é um aprisionamento como cadeia e não um ciclo”, elabora.

Outras estratégias de venda

A escritora reconhece a necessidade de vendas e do dinheiro que ele traz, mas pontua que a Amazon e outros locais de venda não se “importam com o material a ser divulgado e produzido”, e que por opção a editora prefere trabalhar com meios mais tradicionais, como “indicação das pessoas” e a participação em feiras.

Ela também conta que a Aliás já recebeu uma proposta de Jeff Bezos para que suas publicações fossem vendidas pela varejista e que ficassem armazenadas no galpão localizado na Rodovia do 4º Anel Viário, no Ceará.

Entretanto, a proposta não se mostrou favorável para a editora, afirmando que eles “oferecem muito pouco”. “Só receberíamos seis meses depois e uma porcentagem bem pequena”, explica como funcionaria a cada livro vendido que estivesse no galpão.

Por isso, a Aliás vende todos seus livros pelo site. Para torná-los acessíveis a todos os dispositivos, não apenas a aqueles próprios para a leitura. Além do e-book, também é oferecida a opção PDF.

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