Artistas cearenses denunciam atraso em pagamento de cachê do Carnaval

Artistas cearenses que se apresentaram no Ciclo Carnavalesco 2024 em Fortaleza relataram atrasos no pagamento dos cachês; Secultfor afirma que pendências serão concluídas nesta sexta-feira, 22

Mais de um mês se passou desde que Baby do Brasil subiu ao palco montado na Praia de Iracema para o Carnaval em Fortaleza. Em 13 de fevereiro, a artista foi a principal atração da conclusão do Ciclo Carnavalesco na Capital, marcado por apresentações de grandes nomes da música nacional, como Diogo Nogueira, Olodum, Maria Rita e Roberta Sá.

É possível dizer também, entretanto, que este ciclo também tem sido marcado por pendências de pagamento de cachês de atrações que se apresentaram em Fortaleza. É o que afirmam artistas cearenses como o cantor Caio Castelo e a drag queen Mulher Barbada.

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Em seus perfis no Instagram, cobraram da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor) a quitação dos valores acordados para apresentações no período carnavalesco e indicaram atrasos de mais de um mês.

Mulher Barbada publicou um vídeo na quinta-feira, 21, no qual afirmou que a Páscoa estava chegando e ainda não havia recebido “um centavo” do cachê. Caio Castelo, por sua vez, questionou em 12 de março se artistas como Diogo Nogueira e Baby do Brasil estariam esperando até hoje a “Secultfor pagar o cachê dos shows no Carnaval”.

Tanto Caio Castelo quanto Mulher Barbada se apresentaram com o Bloco Mambembe no Pré-Carnaval e no Carnaval 2024. Segundo Castelo, foram quatro participações em polos como Mercado dos Pinhões, Praça da Gentilândia e Aterro da Praia de Iracema, sendo a última apresentação em 13 de fevereiro.

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Procurada pelo O POVO, a Secultfor afirmou que realizou o pagamento da maioria dos artistas e as pendências seriam concluídas nesta sexta-feira, 22.

Pagamento de cachês do Carnaval têm mais de um mês de atraso

De acordo com Luana Caiube, produtora do Bloco Mambembe, o prazo previsto para pagamento era de até 30 dias após a apresentação e cachês de menor valor haviam sido pagos a outros artistas da programação. Entretanto, até a manhã desta sexta-feira, 22, o valor do cachê do Bloco não havia sido transferido - nem mesmo o relativo ao Pré-Carnaval. Assim, a espera foi maior do que a prevista.

Em entrevista ao Vida&Arte na manhã desta sexta-feira, 22, Luana afirmou que chegou a receber a informação de que o pagamento só seria liberado em 10 de abril - isso depois de prazos terem sido adiados em comunicações feitas com a Secultfor.

A pasta alegou, segundo a produtora, que estava tendo problemas com a liberação da verba por parte da Secretaria Municipal das Finanças (Sefin) devido a um limite de transferência por dia.

O posicionamento, porém, mudou na tarde desta sexta, quando Luana foi informada de que os valores estavam agendados para serem transferidos ainda hoje. Mesmo assim, o desgaste é visível: “A sensação é de frustração com o processo inteiro, desde a formatação da programação até a forma de tratamento quando comparada com a dos artistas nacionais”.

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Diferença do tratamento entre artistas locais e nacionais no Carnaval de Fortaleza

A aparente diferença de tratamento dada a artistas cearenses em relação a artistas nacionais não se manifesta apenas nos valores dos cachês ou nas datas dos pagamentos deles. Segundo Caio Castelo, a questão se alastra para outras situações.

O músico relata que em 2023 e em 2024 a produção do bloco “precisou discutir e bater o pé” para permanecer em seu camarim, pois a Secultfor teria solicitado que ele fosse liberado logo após o show “para que a ‘atração nacional’ pudesse usar dois”.

“O que acho o mais grave de tudo é essa postura subserviente que a Prefeitura quer impôr a nós, que eles chamam de ‘atrações locais’. Enquanto nós estamos aqui arrancando os cabelos pra pagar nossas contas e tendo que fazer barulho pra fazer a Secultfor pagar o que nos deve, todos os artistas que vieram de fora já receberam, obviamente. A mensagem que isso passa é simples: pros de fora, tudo. Pros de casa, nada”, pontua.

Mulher Barbada também aponta como atrações cearenses têm seus “cachês deixados para o final” diante de uma “burocracia que não respeita as nossas contas nem a nossa vida”. “Quando a gente está lá em cima do palco, a gente respeita o horário, respeita a assinatura de contrato no dia certo, tudo direitinho para a coisa acontecer da forma certa, para a gente entregar o melhor para o nosso público, mas na hora de nos pagar é sempre essa desculpa de burocracia”, enfatiza.

A artista ressalta o trabalho e a equipe envolvida para que a apresentação aconteça: “Para a gente, é importante estar dentro do Ciclo Carnavalesco. É uma política pública importante, não é só um evento que a gente faz para ganhar dinheiro e ir embora. A gente pensa, trabalha e ensaia muito”.

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“Não posso esperar esse tempo”

As postagens de Mulher Barbada e Caio Castelo renderam o compartilhamento de outras situações parecidas, como no caso da cantora e compositora Jord Guedes. Ela se apresentou no bairro Benfica em 28 de janeiro, no Pré-Carnaval. Quase dois meses depois, porém, ainda não havia recebido o cachê.

“Não posso esperar esse tempo por um cachê. Tenho uma banda que me acompanha, tem técnico de som, roadie, é gerada uma renda, enfim… Não é plausível isso”, afirma a artista. Ela também reclama da burocracia e da falta de um entendimento mútuo do processo, pois chegou a ser solicitada por documentos a serem entregues em um mesmo dia, mas, depois de perguntar sobre o andamento da situação, não teve retorno.

“É um sentimento que até frustração. A gente acaba ficando desestimulado de fazer arte, porque não é só criação, tem toda uma estrutura por trás. Você precisa ir para o estúdio, ensaiar, existem vários gastos das pessoas que vivem desse ofício. Imagina ir a um médico e dizer que só vai pagar a consulta daqui a dois, três meses? O artista não é diferente de outros trabalhadores. O trabalho dele não tem que ser visto como menor”, desabafa.

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O que diz a Secultfor

Diante das demandas dos artistas sobre o atraso no pagamento dos cachês, O POVO procurou a Secultfor por respostas. A reportagem questionou a pasta sobre quais artistas cearenses que se apresentaram no Carnaval 2024 e ainda não haviam sido pagos, por quais motivos os valores dos cachês ainda não haviam sido repassados aos artistas e qual era a previsão de pagamento.

Em duas linhas, a Secultfor se limitou a responder que “já realizou o pagamento da maioria dos artistas que participaram do Ciclo Carnavalesco de 2024” e que as pendências seriam concluídas ainda nesta sexta-feira, 22.

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