Ailton Krenak sobre Covid-19: "Não vem para ensinar, mas para matar"

O líder indígena participou no último domingo, 5, da Festa Literária Internacional de Paraty, onde debateu sobre capitalismo, cartografia afetiva e pandemia

No último domingo, 5 de dezembro, aconteceu o encerramento da 19ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty. Com tema "Cartografias para adiar o fim do mundo", a última mesa contou com a presença do líder indígena, filósofo e escritor Ailton Krenak e do sociólogo e tradutor Muniz Sodré e mediação de Vagner Amaro. Na conversa, eles falaram sobre capitalismo, cartografia afetiva e pandemia de Covid-19, e Krenak afirmou que a crise sanitária não veio para trazer ensinamentos, e sim para matar.

"Os humanos estão encenando uma humilhante condição de consumir a terra. Estamos perdendo a mágica que nos faz seres transcendentes. Entristecer o mundo parece que é a vontade do capital. O capitalismo quer fazer um mundo triste, em que operamos como se fôssemos robôs. Por que nossos peixes têm de carregar microplásticos em suas estruturas?", questionou.

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Sodré destacou a cartografia afetiva como resistência, na medida em que o cartógrafo compreende o mundo a partir da reflexão de seu lugar e da representatividade identitária, de gênero, raça e etnia. "Essas cartografias se realizam como uma nova forma de pensar. São instrumentos de uma política de agregação humana. O debate é muito necessário nesse momento de falta de esperança, de desinteresse", declarou.

"Só a força dos ancestrais é que possibilita imaginar essas cartografias, que contêm camadas de mundo onde as narrativas não precisam conflitar umas com as outras. Não podemos nos render a essa narrativa do fim do mundo, que nos faz desistir dos sonhos, que estão na memória dos nossos ancestrais. Minha visão de cartografia é aquela visão fantástica do astronauta olhando para a Terra e dizendo que a Terra é azul", acrescentou Krenak. 

"Sempre observei a cidade como um muro. É comum as prefeituras ficarem zangadas com árvores que arrebentam as calçadas. Eu gostaria de conclamar todas as árvores a quebrar mesmo as calçadas da cidade", declarou.

Por fim, eles falaram sobre a pandemia de Covid-19. "Se o vírus fosse pior que o humano, a gente teria desaparecido. A epidemia não vem para ensinar, mas para matar. Não sei de onde vem essa mentalidade branca de que o sofrimento ensina alguma coisa", disse Krenak. Sodré destacou o vírus como consequência da colonização. "A cidade é importante, mas é preciso ver um outro modo de inteligência, a inteligência da floresta. As lições a se tirar vêm da natureza, vem da mata", finalizou Sodré.

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