Matrix: entenda as filosofias por trás do filme com Keanu Reeves

Com o quarto filme da franquia previsto para ser lançado no dia 22 de dezembro, lembre as principais filosofias e a história por trás de "Matrix"

“Matrix” talvez seja um daqueles filmes que dispensa longas introduções sobre o enredo. Considerado um dos grandes sucessos da bilheteria mundial, é uma obra que se tornou referência no cotidiano. Quem nunca assistiu ao longa-metragem já deve ter ouvido alguém na internet falar sobre a “falha na Matrix” - uma situação que acontece “de repente”, mas que parece familiar a quem viveu.

E, para quem não conhece, a história acompanha Thomas Anderson, um programador de computador que se vê atormentado por pesadelos. Nestes sonhos aterrorizantes, está conectado a uma grande rede com outras pessoas. Depois de tanto enfrentar essa situação, ele passa a ter dúvidas sobre a realidade em que vive.

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Eis que ele conhece os misteriosos Morpheus e Trinity e lhe posta uma opção: escolher entre a pílula vermelha ou azul. A primeira lhe conduz para o mundo real, enquanto a segunda faz com que esqueça o que aconteceu e permaneça em uma realidade paralela. Descobre, então, que é uma das vítimas de um sistema artificial que manipula a mente ao criar ilusões de um mundo real.

A sequência, que conta com três filmes disponíveis na plataforma de streaming do HBO Max, ganha uma quarta continuação. “Matrix Ressurrections”, dirigido por Lana Wachowski, está previsto para estrear no dia 22 de dezembro nas salas de cinema do mundo.

Na história, Thomas continuará sua saga para libertar as pessoas que estão presas mentalmente pelas máquinas. Ele, que está entre duas realidades, precisa encontrar uma forma de ser bem sucedido em sua missão, mas terá grandes problemas no caminho. O elenco conta com Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Jada Pinkett Smith, Yahya Abdul-Mateen II, Priyanka Chopra Jonas e Neil Patrick Harris.

Mas, para além de seu enredo, “Matrix” perpassa uma série de questões filosóficas. Os espectadores não precisam entender sobre a filosofia por trás do filme, mas ela é mostrada de forma implícita (e até explícita) em diversos momentos. A partir disso, o Vida&Arte explica alguns dos principais pensamentos que guiam o longa-metragem.

Alegoria da caverna

O filósofo Platão narra uma história que teria acontecido entre Sócrates e Glauco: o primeiro pede que o segundo imagine uma caverna subterrânea, onde todos os homens vivem presos desde o início de suas vidas. Os prisioneiros não conhecem nada além do que vivenciaram.

Para eles, o mundo era a projeção de suas sombras nas paredes, iluminadas por uma fogueira. Em um determinado momento, um deles é liberto daquele local depois de encontrar sua saída.

Depara-se com a realidade e o mundo exterior repleto de luz solar. Incomodado, começa a se adaptar. Percebe, então, que o universo é muito maior do que o que conhecia dentro da caverna.

O homem tem duas alternativas: retornar para as pessoas dentro da caverna e contar a elas que existe uma realidade fora da caverna, podendo ser taxado de louco; ou viver sua vida em liberdade.

O que você faria? Essa é a pergunta que guia Thomas Anderson - ou Neo - logo no primeiro filme, quando precisa decidir entre a pílula vermelha ou azul. Ele vive ligado a uma inteligência artificial, criada para manter a população humana como fonte de energia das máquinas.

Em 'Matrix', o protagonista precisa decidir entre a pílula vermelha ou azul
Em 'Matrix', o protagonista precisa decidir entre a pílula vermelha ou azul (Foto: Divulgação)

Quem está conectado à Matrix vive em um mundo paralelo, sem conhecimento da realidade. Do lado de fora, há uma rebelião entre as pessoas livres em que alguns buscam acabar com esse sistema enquanto outras as defende.

Ao descobrir a situação, Neo parte em uma aventura com objetivo de libertar os seres humanos da Matrix. Ele, porém, precisa vencer as regras dessa simulação e manipular os códigos. O protagonista, portanto, escolheu a opção de retornar à caverna para salvar as pessoas, assim como Platão havia questionado.

“Penso, logo existo”

O filme “Matrix” reflete sobre a possibilidade de uma vida ilusória: será que existimos ou estamos apenas em um mundo de imagens irreais? O questionamento que conduz todo o longa-metragem dialoga diretamente com a célebre frase de René Descartes: “Penso, logo existo”.

No livro “Discurso sobre método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência”, o filósofo questiona tudo que está ao seu redor. Para o autor, os seres humanos não podem confiar em seus sentidos, porque eles são enganosos.

Assim como na Matrix, tudo pode ser somente um sonho. Seria impossível discernir se estamos sonhando ou acordados, se vemos a realidade ou não. Afinal, qualquer reflexão que possa acontecer também ocorre durante os sonhos - semelhante às pessoas presas entre as máquinas do filme.

Haveria apenas uma saída para essa situação: o pensamento. Para duvidar de sua própria existência, ele precisaria existir (até mesmo as pessoas ligadas à Matrix existem. Só que elas estão apenas experienciando um outro mundo distante do real).

Simulacros e Simulação

A relação de “Matrix” com o filósofo Jean Baudrillard, é, na verdade, contraditória. O filme faz referência a uma das principais obras do francês, “Simulacros e Simulação”. Em seu livro, o autor discorre que a sociedade modificou os significados dos símbolos e dos signos, criando uma simulação da realidade.

Ele acredita que, no mundo pós-moderno, passamos a viver em uma representação do real disseminada, principalmente, pela mídia. Isso criaria, portanto, um “simulacro”, que é a simulação malfeita (e mais chamativa) da realidade.

Apesar de referências sobre seu pensamento no longa-metragem, Baudrillard manifestou suas críticas à produção cinematográfica em entrevista ao “Le Nouvel Observateur”, em 2003. Ele, inclusive, foi chamado para participar da criação da a trilogia "Matrix", mas recusou.

O filme 'Matrix' faz referência a uma das obras de Jean Baudrillard
O filme 'Matrix' faz referência a uma das obras de Jean Baudrillard (Foto: Divulgação)

“Existiram outros filmes que trataram da crescente indistinção entre o real e o virtual: ‘The Truman Show’, ‘Minority Report’ ou mesmo ‘Mulholland Drive’, a obra-prima de David Lynch. O valor da Matrix é principalmente como uma síntese de tudo isso. Mas, neste, a configuração é mais tosca e não evoca verdadeiramente o problema”, pontuou o filósofo.

“Os atores estão na Matrix, isto é, no sistema digitalizado de coisas; ou eles estão radicalmente fora dela, como em Zion, a cidade dos resistentes. Mas o que seria interessante é mostrar o que acontece quando esses dois mundos se chocam”, refletiu.

Segundo ele, a maior falha do filme é representar um mundo simulado em que todas as contradições foram extintas - não permitindo a possibilidade de haver o mal para confundir ainda mais as pessoas dentro do sistema de inteligência artificial.

“A ilusão radical do mundo é um problema enfrentado por todas as grandes culturas, que elas resolveram por meio da arte e da simbolização. O que inventamos, para suportar esse sofrimento, é um real simulado, que suplanta o real e é sua solução final, um universo virtual do qual tudo o que é perigoso e negativo foi expulso”, explicou.

Para Jean Baudrillard: “Matrix é certamente o tipo de filme sobre a matrix que a matrix seria capaz de produzir”.

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