Projeto luta contra estereótipo de madrastas serem mulheres más
Mariana Camardelli é idealizadora da comunidade "Somos Madrasta", uma rede de apoio que tem como objetivo ajudar mulheres e descontruir preconceitos
Poucas pessoas sabem, mas o primeiro domingo de setembro é o Dia da Madrasta. Apesar dos estereótipos, há um movimento que luta para que a data e as madrastas sejam reconhecidas e valorizadas, não como uma vilã malvada, como é descrito nos contos de fadas, mas como um papel de afeto e carinho, independente da gestação.
Os preconceitos surgem ainda na infância, quando as crianças ouvem que Cinderela vive como serviçal da madrasta e suas filhas, após a morte do pai, ou quando escutam que a madrasta de Branca de Neve tentou a todo custo matar a jovem para que pudesse ser a mais bela em todo o reino.
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Mariana Camardelli é uma educadora parental, especialista em inteligência emocional e terapeuta, que a partir de suas próprias vivências, como mãe da Flora e madrasta do Augusto e Vicente, decidiu criar o projeto "Somos Madrastas". A comunidade acolhe mulheres que se tornam madrastas, promovendo relações mais leves, pacíficas e saudáveis emocionalmente.
As madrastas viraram tema de palestra no TEDx, onde Mariana levou suas reflexões sobre as cobranças e preconceitos associados a esse papel. "No Brasil, um a cada três casamentos acaba em divórcio. E eu faço parte dessa estatística, porque meus pais se separaram também. Eu vi a minha mãe se tornar uma madrasta, eu ganhei uma madrasta. Até que um dia, eu virei madrasta", contou.
Na palestra, ela conta que ao pesquisar o significado da palavra "madrasta", se deparou com um significado preconceituoso, que no sentido figurado dizia ser uma "mulher má, incapaz de sentimentos afetuosos e amigáveis". Mas a terapeuta explica o real significado da palavra. "O prefixo de madrasta vem de 'mater', que significa mãe, em latim. Não vem de 'má', que é uma ideia construída socialmente", explicou.
“O lugar da madrasta dentro do núcleo familiar ainda é invisível”, disse a educadora parental em entrevista à revista "TPM". "É como se você fosse ao banco para abrir uma conta pela primeira vez e descobrisse que já está devendo. Você chega e tem que provar que não é má”, desabafou.
Para a terapeuta, é essencial mudar os estereótipos que envolvem o termo madrasta. "Não somos tias, amigas, nem 'boadrastas'. Somos madrastas e tá tudo bem. O que precisa mudar é a narrativa sobre isso", afirmou em entrevista à mesma publicação.
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Mariana também ressalta que a sociedade patriarcal estimula rivalidade entre as mulheres, mas que as mães e madrastas podem mudar isso. "Precisamos do entendimento de que a madrasta não existe para tomar o lugar da mãe, nem para competir. É alguém que vai fazer parte da rede de cuidados", afirmou.
Além da rede de apoio, a terapeuta também é autora dos livros "Madrasta também educa" e "Maternidades no plural: Retratos de diferentes formas de maternar", além de produzir o primeiro podcast brasileiro exclusivo para madrastas.
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