Campbell e os heróis: entenda como a mitologia está presente no cinema e na literatura

No aniversário de Joseph Campbell (1904 - 1987), o Vida&Arte explora a teoria do "monomito", presente em seu livro "O Herói de Mil Faces"

Harry Potter era um garoto comum que vivia no armário embaixo de uma escada. Quando recebe uma carta para estudar em Hogwarts, seu tio rasga o papel. Com a intervenção de Hagrid, que visita o garoto, é levado para a escola de magia. O menino, então, conhece o mundo bruxo pela primeira vez no beco diagonial. Depois, ingressa no colégio, faz amigos e inimigos, descobre a existência da pedra filosofal, enfrenta Voldemort, recupera a substância lendária, cura-se das feridas da batalha, vence o troféu das casas e retorna ao mundo dos “trouxas”.

Esse breve resumo de “Harry Potter e a Pedra Filosofal” talvez não revele significados tão profundos em uma primeira lida. É, afinal, mais uma história da literatura em que o herói vence o mal após passar por várias provações. Mas a estrutura explicitada acima é semelhante a diversos símbolos da cultura pop: está em “Star Wars”, “Batman”, “Homem-Aranha” e tantos outros.

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Os super-heróis da Marvel, por exemplo, seguem a mesma estrutura do monomito de Campbell
Foto: Divulgação
Os super-heróis da Marvel, por exemplo, seguem a mesma estrutura do monomito de Campbell

Uma das teorias para explicar essa narrativa comum foi exposta por Joseph Campbell, em “O Herói de Mil Faces” (1949). O mitologista, que completaria 117 anos nesta sexta-feira, 26 de março, defende o conceito do “monomito”. Na sua opinião, os mitos heroicos de todas as culturas compartilham um mesmo padrão de narrativa.

“Um herói vindo do mundo cotidiano se aventura numa região de prodígios sobrenaturais, onde encontra fabulosas forças e obtém uma vitória decisiva. O herói então retorna de sua misteriosa aventura com o poder de trazer benefícios aos seus semelhantes”, explica Pati Rabelo, apresentadora do podcast “Assim Caminha a Humanidade”. Realizado em parceria com o Grupo de Comunicação O POVO, o conteúdo estabelece conexões entre mitologia, psicologia e psicanálise.

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“Esse percurso padrão da aventura mitológica do herói se confunde com a fórmula representada nos rituais de passagem das sociedades tradicionais: separação-iniciação-retorno. Essa tríade forma a unidade nuclear do que chamamos de monomito”, continua.

A jornada estabelecida por Campbell pode ser identificada em histórias antigas, como a de Jesus Cristo e Buda. Mas também está presente nas produções culturais da atualidade. Essa estrutura funciona tão bem como elemento narrativo que o roteirista de Hollywood, Christopher Vogler, adaptou os estágios descritos pelo mitologista em 12 etapas.

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“A noção de jornada do herói detalhada por ele teve grande influência sobre muitas gerações de artistas criativos — dos expressionistas abstratos na década de 1950 aos cineastas contemporâneos de hoje —, tornando-se um clássico”, indica Heráclito Pinheiro, também apresentador do podcast “Assim Caminha a Humanidade”.

De acordo com Heráclito, uma das maiores contribuições de Campbell para a mitologia foi a de identificar que os mitos são produtos criativos da psique humana. “Que os artistas são os criadores de mitos de uma cultura e que as mitologias são manifestações criativas da necessidade universal da humanidade de explicar realidades psicológicas, sociais, cosmológicas e espirituais”, expressa.

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Histórias como as de Jesus, Buda, Superman ou Harry Potter são verdadeiros scripts da alma humana. Esses modelos são psicologicamente válidos e realistas mesmo quando retratam acontecimentos fantásticos, impossíveis ou irreais, como o nascimento de uma virgem (Jesus) ou uma origem de outro planeta (Superman), por exemplo”, opina Pati.

Para ela, os mitos surgem do inconsciente coletivo e refletem preocupações universas. “‘De onde eu vim?’, ‘por que nasci’, ‘o que vai acontecer quando eu morrer?’ ou ‘como posso superar os problemas de minha vida e ser feliz?’”, mostra como algumas das questões.

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Durante o segundo semestre de 2021, a Fundação Demócrito Rocha disponibilizará um curso para tratar de assuntos que envolvem conceitos-chave da obra de Campbell. Com Pati Rabelo e Heráclito Pinheiro como conteudistas, outros temas como Psicologia da Arte e Mitologia Comparada serão abordados. Mas eles ressaltam: “por enquanto, não podemos contar muito mais. Sem spoilers”.

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