Diabetes pode ter crescido no Brasil devido a refrigerantes, diz estudo

Pesquisadores analisaram dados de mais de 750 mil pessoas; pessoas que consomem bebidas adoçadas tiveram quatro vezes mais diabetes que quem não consome

Uma pesquisa de cientistas brasileiros mostra uma possível ligação entre o aumento nos casos de diabetes e o consumo de bebidas adoçadas no Brasil. O estudo foi publicado no início deste mês na revista científica Public Health, do Reino Unido.

No estudo, pesquisadores da Universidade Federal de Rio Grande (FURG), Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Universidade Vale do Rio Doce (Univale) e Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) analisaram informações de saúde de mais de 750 mil pessoas em todo o Brasil. Os dados cobrem o período de 2006 a 2020.

Na análise, os participantes foram separados em três grupos: os que consumiam bebidas adoçadas, como refrigerantes ou sucos artificiais; quem ingeria apenas versões destas bebidas com adoçantes artificiais - diet, light ou zero; e pessoas que não consumiam nenhum tipo destes produtos.

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Os cientistas chegaram a duas conclusões. A primeira indica que a taxa de diabetes na população que ingere bebidas adoçadas artificialmente - nas versões diet, light e zero - é quatro vezes maior que na população em geral.

Entre os anos de 2006 e 2020, analisados pelo estudo, a taxa de diabetes na população foi de 5,5 para 8,2%. Em números absolutos, isso representa um aumento de 0,17% ao ano. Nas pessoas que consomem sucos e refrigerantes light, diet ou zero, houve 0,71% de acréscimo anual, levando a incidência neste grupo de 12 para 24,5% - indicando que um a cada quatro consumidores destes produtos tem diagnóstico de diabetes.

O segundo resultado da pesquisa veio ao cruzar estes dados com os do consumo de bebidas diet, light e zero. De acordo com o estudo, ao considerar a diferença nas taxas de crescimento e a proporção destas pessoas na população, cerca de 120 mil novos casos de diabetes no País anualmente teriam ligação com o consumo desses produtos. Isso representa 40% do total de diagnósticos da doença no País.

Incidência de diabetes dobrou entre quem consome refrigerantes

Outras conclusões podem ser obtidas ao analisar o conjunto dos dados. Uma delas é a incidência de diabetes nos diferentes grupos estudados.

Entre quem não consome nenhuma bebida adoçada, a taxa passou de 8,6% em 2006 para 10,9% em 2020 - o que é considerado pela pesquisa como "estável". Quem bebe as versões com açúcar teve aumento de 2 para 5,1%. Consumidores dos produtos diet, light e zero, por fim, tiveram o aumento de 12 para 24,5%.

Isto significa que, nos últimos 15 anos, a incidência de diabetes dobrou entre consumidores de bebidas light, diet e zero, e cresceu 150% entre quem bebe as versões com açúcar. Na população geral, o crescimento foi de 49%.

Consumo de produtos diet, light e zero pode ser "compensação" de outros alimentos

Os pesquisadores levantaram hipóteses sobre os resultados do estudo. Uma delas é de que as bebidas light, diet e zero podem ser consumidas como forma de "compensação".

Neste cenário, os consumidores teriam uma dieta com diversos itens ultraprocessados e alimentos com alto teor de açúcar. Na escolha da bebida, a pessoa decide por uma versão com menos calorias para "equilibrar" o cardápio.

Outra possibilidade seria o consumo destes refrigerantes por pessoas acima do peso, como adicional em dietas. Esta população tem maior incidência de diabetes, mas, segundo os pesquisadores, a taxa foi mais alta entre quem consome bebidas diet, light e zero, mas está dentro da faixa de peso recomendada.

Recomendação dos pesquisadores é evitar consumo de bebidas artificiais

Para os cientistas, a forma mais eficiente de evitar o desenvolvimento de diabetes, em relação ao consumo de bebidas, é evitando o consumo dos produtos artificiais como um todo. Na discussão dos resultados, o artigo menciona outros estudos que mostram estes efeitos.

Um deles relata que reduzir o consumo de produtos ultraprocessados e balancear os nutrientes da dieta são fatores-chave na prevenção da diabetes. Para aqueles que já têm a enfermidade, a mudança auxilia no controle da doença.

Outro menciona que a incidência de diabetes é maior entre consumidores de ultraprocessados - categoria que inclui refrigerantes e sucos artificiais - que na população em geral. O consumo de alimentos ricos em fibras, como frutas, verdures e legumes, é associado a um menor risco de desenvolver a enfermidade.

Taxação de bebidas artificiais pode reduzir incidência de diabetes

Outra medida, de teor legislativo, é sugerida no estudo. Os pesquisadores avaliam que países que aumentaram impostos sobre bebidas artificiais tiveram redução na venda destes produtos. A proposta é que, com a diminuição no consumo, a incidência de diabetes na população reduza, ou aumente de forma mais lenta.

No Brasil, um Projeto de Lei de 2019 propõe uma taxa adicional de 20% sobre o valor dos refrigerantes. A proposta, porém, segue parada na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado desde 2022.

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