De aliado a crítico, Malafaia cita Lula em mensagens a Bolsonaro e alerta sobre a anistia
Nos áudios, Malafaia alerta que Lula "sabe jogar" no cenário de sanções ao Brasil e aconselha Bolsonaro a se posicionar publicamente; Pastor já foi próximo do petista nos primeiros mandatos e tinha interlocução com o Planalto
As mensagens de áudio de Silas Malafaia enviadas a Jair Bolsonaro, reveladas pela Polícia Federal na última quarta-feira, 20, mostram um tom de cobrança e preocupação política. O pastor cita diretamente o nome do presidente Lula (PT), avaliando que o prolongamento do impasse sobre a anistia poderia reforçar a imagem do petista e enfraquecer ainda mais o bolsonarismo. Para Malafaia, apenas uma resolução rápida evitaria que o adversário político ganhasse força.
Nos áudios, Malafaia alerta Bolsonaro de que uma eventual suavização de sanções pelo governo dos Estados Unidos, sem contrapartidas concretas, poderia colocar Lula em vantagem. “Se Trump refrescar para Lula sem resolver a sua questão, Lula vai deitar e rolar e sair por cima”, disse. O pastor via no debate internacional um reflexo direto na política doméstica, temendo que o atraso na votação da anistia aumentasse o desgaste do ex-presidente.
Outro ponto destacado pelo religioso foi o papel do Supremo Tribunal Federal (STF). Em diferentes momentos, Malafaia insistiu que apenas a Corte teria condições de conter Lula ou negociar uma saída política para a crise. “Só o STF pode parar Lula”, afirmou. As falas indicam a leitura de que Bolsonaro, sozinho, não teria capacidade de enfrentar o petista sem respaldo institucional.
As mensagens também revelam que Malafaia cobrava uma postura ativa de Bolsonaro. Ele dizia discordar do silêncio do ex-presidente e argumentava que sua voz tinha muito mais peso do que a de qualquer aliado. “O meu grau é um, o teu é mil”, afirmou. O objetivo, segundo o pastor, era que Bolsonaro assumisse a dianteira do discurso contra as investigações e ligasse o tema do “tarifaço” à defesa da liberdade e da justiça.
Nos áudios, o pastor orientava que Bolsonaro não atacasse diretamente o Supremo, mas usasse o episódio para reforçar sua narrativa política. “Você não vai xingar o STF, você não vai esculhambar Alexandre de Moraes, mas você pode se colocar sim e deve”, disse. Malafaia defendia que o ex-presidente mantivesse a imagem de estadista, em contraste com a retórica atribuída a aliados.
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Em outro momento, Malafaia sugeriu que Bolsonaro se apresentasse como defensor da democracia e contra possíveis retaliações. Ele afirmou não querer ver sanções recaindo sobre ministros do Supremo e suas famílias, mas ressaltou que a solução estaria na votação da anistia. “É só resolver a questão da anistia que isso acaba”, avaliou.
As gravações também mostram críticas contra família do ex-presidente, especialmente a Eduardo Bolsonaro, chamado de “babaca” em uma das mensagens. Para Malafaia, o deputado dava munição ao discurso de Lula e da esquerda ao adotar uma linha considerada inexperiente e prejudicial. Já Flávio Bolsonaro foi elogiado pelo pastor, que recomendava que o pai reconhecesse publicamente a atuação do filho e senador.
O conjunto das mensagens indica que Lula aparecia como referência constante nas análises de Malafaia. As preocupações do pastor giravam em torno do risco de que o petista capitalizasse o impasse da anistia e as tensões diplomáticas com os Estados Unidos.
Malafaia já foi próximo a Lula
A relação entre Silas Malafaia e Luiz Inácio Lula da Silva nem sempre foi de confronto. Nos primeiros anos do governo petista, o pastor foi próximo à gestão e manteve interlocução com o Planalto. Na época, Malafaia elogiava a postura de Lula em relação às igrejas e chegou a participar de encontros com integrantes do governo.
O discurso do pastor, nesse período, ressaltava o reconhecimento institucional das lideranças evangélicas e a abertura ao diálogo promovida pelo petista. O tom era bem diferente do embate que viria a marcar os anos seguintes.
Com o avanço do tempo, especialmente durante os governos do PT após a reeleição de Lula e na gestão de Dilma Rousseff, Malafaia passou a adotar uma posição mais crítica. Divergências em torno de temas ligados à moral e à pauta de costumes o aproximaram da direita conservadora, onde consolidou sua imagem de opositor do petismo.
A partir daí, o pastor tornou-se um dos principais nomes do campo evangélico e é atualmente alinhado a Jair Bolsonaro. O tom cordial em relação a Lula deu lugar a críticas duras e constantes, reforçando a narrativa de antagonismo entre o bolsonarismo e o petismo.