Entenda impasses em torno da volta do Hospital da Polícia Militar no Ceará

Entenda impasses em torno da volta do Hospital da Polícia Militar no Ceará

Possível retorno do Hospital da PM é marcado por manifestações, além de ter sido alvo de recomendação do Ministério Público Federal em atuação conjunta com o Ministério Público do Estado do Ceará. Em medida mais recente, o Conselho Nacional de Saúde se manifestou contra à iniciativa

Em junho do último ano, o governador Elmano de Freitas (PT) divulgou em evento que o Governo do Estado estava negociando para que o Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA), em Fortaleza, voltasse a ser o Hospital da Polícia Militar do Ceará (PMCE).

À época, o diálogo com a Secretaria de Saúde estadual (Sesa) havia sido iniciado. O anúncio foi realizado em evento no dia 28 de junho de 2024, momento em que o petista empossou 423 policiais militares na corporação.

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De lá para cá, o impasse foi marcado por manifestações de funcionários da instituição, além de ter sido alvo de recomendação do Ministério Público Federal (MPF) em atuação conjunta com o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE). Em medida mais recente, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) se manifestou contra à iniciativa.

Fundado em 1939 como Hospital Central da PMCE, o local prestava atendimento exclusivo a militares até 2011, quando foi integrado à rede do Sistema Único de Saúde (SUS) durante a gestão do ex-governador Cid Gomes (PSB).

Em meio a questionamentos sobre como a mudança poderia afetar o Sistema Único de Saúde, o governador do Ceará chegou a reforçar, em entrevista à rádio O POVO CBN no dia 30 de julho do último ano que os pacientes não seriam afetados.

Ainda sobre restringir os atendimentos apenas para os agentes de segurança, Elmano disse: "[Os agentes] Devem ter o reconhecimento da nossa parte. Eles têm, do governador, o absoluto reconhecimento ao devolver essa instituição, o HPM. Isso conjugado com o fortalecimento do Sistema de Saúde Único do Estado do Ceará".

Na ocasião, o governador chegou a afirmar que os pacientes seriam realocados para outras unidades, como o Hospital Universitário do Ceará (HUC), que veio a ser inaugurado em 19 de março de 2025.

As falas do chefe do Executivo estadual ocorreram após pacientes e funcionários do HMJMA realizarem protesto na frente do Hospital e defenderem que as mudanças não seriam benéficas, visto que poderiam sobrecarregar a rede hospitalar do Estado e que essas pessoas transferidas ficariam em filas de espera.

Divergências

Nessa terça-feira, 13, o governador Elmano enviou à Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) uma mensagem propondo a transferência da administração do Hospital e Maternidade José Martiniano da Sesa para a Polícia Militar do Ceará (PMCE).

Após a mudança, caso seja aprovada, a unidade passará a ser chamada de Hospital e Maternidade da Polícia Militar do Ceará José Martiniano de Alencar, adotando a sigla HPM.

O texto recebido pela Casa foi alvo da oposição após o líder do governo Elmano, o deputado Guilherme Sampaio (PT), falar em seu discurso na tribuna, que apenas 30% dos leitos seriam destinados aos agentes de segurança. A questão é que na mensagem, não consta nenhuma informação sobre essa parcela.

A divergência foi alvo de questionamentos, visto que o parlamentar citou 30% dos leitos, mas o texto integral do projeto não prevê uma porcentagem definida. Atualmente, a unidade conta com 80 leitos disponíveis e, desses, 70% continuariam atendendo a pacientes do SUS.

No plenário, Guilherme Sampaio afirmou que a mensagem mostra o respeito que o Governo do Ceará tem com a categoria. "Eles merecem um tratamento adequado, eles merecem segurança no atendimento, na assistência hospitalar", disse.

Após discussão no plenário da Casa, foi aprovado regime de tramitação em urgência para a matéria, em um placar que marcou 23 votos a favor e seis contra. No processo de tramitação do texto, enviado pelo Governo pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), os deputados Queiroz Filho (PDT) e Dra. Silvana (PL) pediram vistas.

Posicionamentos contrários

Em 29 de janeiro de 2025, a mudança foi alvo de recomendação do MPF em atuação conjunta com o MPCE para que o repasse não fosse realizado sem que fossem demonstrados os possíveis prejuízos ao SUS.

Ao O POVO, o MPF confirmou que a recomendação de janeiro se mantém. "De janeiro para cá, foram realizadas diversas audiências e reuniões no âmbito do procedimento instaurado, para que seja definido, em conjunto, o melhor modelo a ser implementado a partir de dados coletados nas diligências e tratativas”, disse o órgão.

“Atualmente MPF e MPCE analisam qual posição será tomada, não existindo nenhuma nova recomendação determinando a paralisação da transferência", informou o MPF, que informou, ainda, que a recomendação segue válida.

A promotora de Justiça Ana Cláudia Uchoa, que integra as assinaturas da recomendação de janeiro, não concorda com os rumos decididos pelo Governo para a unidade hospitalar.

"Pedimos para que a Sesa dissesse para onde iria direcionar esses leitos e esses serviços retirados da população pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na visão do MPCE, não está comprovado que não haverá prejuízo para o SUS, vai haver prejuízo grande para mais de 7 milhões de pessoas atendidas pelo SUS", disse.

Conselho Nacional de Saúde

Acionado por meio de denúncia do deputado Lucinildo Frota (PDT), o Conselho Nacional de Saúde (CNS) se manifestou por meio de ofício no último 7 de maio após análise do ato em questão e considerando “as potenciais ilegalidades e inconstitucionalidades envolvidas” e encaminhou o caso para o MPF.

“A militarização da gestão de uma unidade assistencial de saúde pública (...), representa violação aos princípios constitucionais e legais que regem a administração da saúde pública, notadamente os princípios da universalidade, integralidade, equidade, participação popular e controle social. Tal medida, além de comprometer a autonomia técnica e administrativa da saúde, afasta os mecanismos de transparência e participação previstos em lei”, diz ofício.

O órgão atesta também a ausência de justificativa técnica e da “subversão lógica da gestão civil, característica do SUS”, o que estaria violando os princípios da administração pública.

O documento diz, ainda, que “na referida Recomendação, o MPF orienta a suspensão imediata da transferência da gestão do HMJMA à Polícia Militar e determina o retorno da administração da unidade à Secretaria Estadual da Saúde, a fim de resguardar os princípios que norteiam a política pública de saúde e impedir retrocessos institucionais no funcionamento do SUS”.

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