Cid narra conversa com Ciro após racha no PDT: "Respeitemos as nossas diferenças na política"

A revelação surgiu após Cid ser questionado sobre as declarações de Ciro acerca das eleições municipais em Sobral, cujo titular é o irmão deles, Ivo Gomes (PSB)

O senador Cid Gomes (PSB) e o ex-governador Ciro Gomes (PDT) enfrentam uma crise na relação fraternal desde 2022, quando PDT, então partido de ambos, deparou-se com racha no Diretório Estadual. Nesta sexta-feira, 5, Cid informou a jornalistas que se encontrou com Ciro depois do ocorrido.

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“Eu continuo respeitando, pra mim é meu irmão, minha referência”, afirmou o senador. “Eu não sei mentir, um dia desses, uma pessoa, amigo comum, promoveu uma reunião entre nós dois e eu disse pra ele: ‘Homem, vamos preservar a nossa relação de fraternidade, irmandade e pronto’, respeitemos as nossas diferenças na política”.

A revelação surgiu após Cid ser questionado sobre as declarações de Ciro acerca das eleições municipais em Sobral, cujo prefeito é o irmão deles, Ivo Gomes (PSB). Durante cerimônia de filiação do PDT Fortaleza, nesta quinta-feira, 4, Ciro afirmou que não iria contra os irmãos.

“Não me peça para falar de Sobral, não, porque aí minha cabeça cede para o coração. Eu não vou contra os meus irmãos. Eles podem vir contra mim, mas eu não vou contra eles em nenhuma hipótese”, disse o ex-ministro.

Cid, por sua vez, reforçou que não iria comentar as declarações políticas de Ciro, mas que os dois estão em campos políticos divergentes. No entanto, ele defendeu que Ivo Gomes deve conduzir o processo sucessório em Sobral, afirmando que tem respeito às eminências, mas que o irmão, “acertadamente não deseja se antecipar”, visto que “as definições de candidaturas só podem acontecer depois do dia 20 de julho”.

“Ele acha que não tem necessidade de antecipar esse processo, eu respeito e concordo. Ele é quem conduzirá o processo”, elencou.

Na perspectiva do senador, as divergências entre os irmãos se deu ainda em 2022, quando Cid e Ciro optaram por escolher nomes distintos para disputar o Governo do Estado do Ceará. O ex-presidenciável indicou o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), enquanto o senador defendia, nos bastidores, o nome da então governadora Izolda Cela (PSB).

Em relação a eventual candidatura de Cela à prefeitura de Sobral, Cid alegou que a ex-governadora é "um grande quadro", e que ela deve estar "apta para participar do processo eleitoral".

"A legislação brasileira estabelece que, quem ocupa cargos de direção e assessoramento, secretário e secretário executivo, pra se candidatar a vereador tem que se desincompatibilizar hoje. Para disputar à prefeitura, contudo, deve se desincompatibilizar com quatro meses de antecedência.

"Eu defendo que ela esteja disponível para participar do processo, ela e tantos outros, não quero aqui, fechar oportunidades não. Quem vai conduzir o processo lá é o Ivo", completa. 

As declarações foram dadas nesta sexta-feira, 5, durante a visita do presidente Lula (PT) às obras da Transnordestina em Iguatu, e a transposição do rio São Francisco, em Pernambuco.

Na ocasião, Cid comentou sobre as construções, que estavam paradas desde 2006, no último ano do primeiro mandato de Lula. O senador afirmou que as estruturas são "definidoras do futuro econômico do Estado do Ceará". 

"Abre-se inúmeras oportunidades. Temos possibilidade de exploração de minérios, o Brasil tem de rever essas coisas, por isso é fundamental que nós tenhamos um presidente da República que pense, que planeje, coisa que, lamentavelmente, não aconteceu no passado recente. Se a gente tem aqui, demanda de fosfato, você tem capacidade, praticamente tudo isso é importado", completou Cid.

"Aqui no Ceará, toda a desapropriação, todos os acertos, todas as ações de regularização das terras foram feitas durante o meu governo. Eu recomendei que, sempre que houvesse um cruzamento com uma estrada de rodagem, a área desapropriada não fosse para a faixa da Transnordestina, que fosse feita uma faixa maior", acrescentou o senador. 

Racha no PDT

Os meandros em torno do nome que ficaria à frente do Diretório Estadual do PDT, no ano passado, resultaram na migração de mais de 40 prefeitos pedetistas ao PSB. Nesta quinta-feira, 4, dois dias antes do encerramento da janela partidária, o PSB realizou mais uma solenidade de filiação, desta vez em Iguatu (distante 364 km de Fortaleza).

A enxurrada de filiações ocorreu após a intensa disputa entre alas divergentes no PDT, que colocou em lados opostos o senador Cid Gomes (PSB) e o irmão, Ciro Gomes (PDT).

Cid Gomes e o deputado André Figueiredo firmaram um acordo em julho de 2023. A iniciativa decorreu após Figueiredo se licenciar da presidência estadual até dezembro daquele ano. Cid, por sua vez, assumiu o posto com o objetivo de construir alianças para a disputa das eleições municipais em 2024.

O retorno de André à frente do partido ganhou o apoio do prefeito de Fortaleza, José Sarto. O gestor mencionou, em ocasiões, que as dissidências entre o deputado e Cid não deveriam ser vistas como “uma queda de braço”.

“Eu defendo, há contradições naturais em todos os partidos, no entanto, as contradições devem ser marginais, devem ser na periferia, contradições no que concerne ao núcleo duro de ideologia, de pensamento, de projeto, projeto de cidade, estado, nação… não comporta divergências dessa monta”, disse Sarto à época.

PDT cria Comissão Provisória do PDT

Em janeiro deste ano, o ex-senador Flávio Torres comentou a respeito da comissão provisória do PDT, presidida por ele. Segundo ele, a expectativa é ter “adrenalina zero” durante os meses que ficará à frente do Diretório Estadual, tanto que atenderá até as ligações dos políticos que optaram por deixar o partido.

“Pretendo passar esses meses no PDT com adrenalina zero, não quero ter raiva de ninguém. Atendo o telefone de qualquer pessoa, até deles (políticos que deixaram a legenda). As pessoas têm que ter o direito de procurar os seus partidos. Como diz o Ciro (Gomes), até o partido PPA, o Partido do Palácio da Abolição”, comentou em tom de brincadeira.

Torres reiterou que ainda é cedo para definir com quais legendas o PDT firmará alianças, tendo em vista que o momento presente serve para reorganizar a sigla. “A gente pretende virar essa página, o PDT passou por um momento difícil, algumas pessoas queriam sair, vão sair. A gente já está vendo esse povo de costas. Então, vamos fazer viver outro momento, a gente vai ter que reorganizar o partido. A nossa missão é organizar uma convenção para eleger o diretório”, seguiu.

O mandato do antigo diretório estadual pedetista no Ceará, comandado por Cid, teve a vigência encerrada em 31 de dezembro do ano passado. Desde então, o partido aguardava o sinal verde da Justiça Eleitoral para oficializar a nova composição.

A crise interna no PDT cearense fez com que o partido - primeiro em prefeituras nas eleições de 2020 - sofresse baixas, com prefeitos e parlamentares anunciando saídas ou tentando, judicialmente, deixar o partido sem perder mandato.

Com informações do repórter Vítor Magalhães

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