Suspeitos de expulsar moradores e empresas de internet no Quintino Cunha são denunciados

Suspeitos de expulsar moradores e empresas de internet no Quintino Cunha são denunciados

Membros do Comando Vermelho ainda são acusados de impedir que crianças assistissem aulas em escolas localizadas em territórios dominados pela facção

Na última sexta-feira, 11, o Ministério Público Estadual (MPCE) denunciou 13 pessoas por integrarem um célula da facção criminosa Comando Vermelho (CV) que age no bairro Quintino Cunha, em Fortaleza. Entre os crimes pelos quais eles são acusados estão a expulsão de moradores e a extorsão de empresas de internet.

A denúncia tem como base investigação da Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco), que culminou na operação Nocaute III, deflagrada em maio passado. Na ocasião, foram cumpridos mandados de prisão preventiva contra 11 pessoas, incluindo Laudênio Rodrigo Santos Gomes, de 36 anos.

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 Apontado como tendo cargo de comando na comunidade do Sossego, Russo, como é conhecido, já estava preso acusado de envolvimento em uma série de homicídios no bairro por ocasião de uma disputa do CV contra o Primeiro Comando da Capital (PCC) — consta na denúncia ofertada pelo MPCE que o CV obteve o domínio do Sossego.

A denúncia ainda afirma que, desde 2023, a Polícia Civil recebe denúncias anônimas expondo a cobrança de “taxas” por parte dos faccionados da região a empresários.

Uma das denúncias, datada de janeiro de 2024, dizia que, desde junho de 2023, os criminosos estavam exigindo entre 1.000 e 1.500 reais para permitir que empresas de internet atendessem o bairro.

Outra denúncia anônima dizia que os bandidos tinham como hábito destruir ou subtrair os equipamentos das empresas “não eram autorizadas”. Em alguns casos, eles chegavam a invadir as casas de moradores e tomar os roteadores.

Os policiais civis colheram o depoimento de um funcionário de uma empresa de internet que contou que, em março deste ano, foi abordado por um motoqueiro que, armado, disse que a instalação de internet estava proibida por determinação do CV.

Em 2025, o CV só estaria permitindo que uma provedora de internet, a ZC Net Telecom, atuasse na região da comunidade do Sossego. Em março, policiais civis foram até a sede da empresa e constataram que ela atuava de maneira irregular, sem o aval da Anatel, assim como tinha um “gato”, ou seja, furtava energia.

Na ocasião, o proprietário da empresa, José Cláudio Teixeira Sampaio, de 34 anos, conseguiu fugir da abordagem policial e não foi preso. Após a autuação da ZC Net, uma outra empresa, a JC Net Telecom, estaria ajudando aquela na retomada das atividades, também com anuência do CV.

O dono da JC Net foi um dos denunciados pelo MPCE, mas afirmou que não tinha relação com a facção. Pelo contrário, Jefferson Carvalho de Mesquita, de 27 anos, disse que era vítima das extorsões praticadas pelo grupo.

Entre os documentos anexados à investigação está um relatório do Departamento de Inteligência Policial (DIP) da Polícia Civil que pontua que, "ao menos nos últimos dois anos, tem aumentado o número de casos de extorsões contra empresas de internet.

Foram listados como exemplos de bairros onde essa prática vem acontecendo: Quintino Cunha, Padre Andrade, Antônio Bezerra, Barra do Ceará, Carlito Pamplona, Jacarecanga e Pirambu.

Expulsão de moradores

A investigação ainda se deparou com diversos relatos de expulsão de moradores por parte de faccionados no Quintino Cunha. Em janeiro, por exemplo, testemunhas afirmaram que, na Travessa 3, uma moradora e seus dois filhos menores de idade foram expulsos da casa onde moravam.

Já em março teria sido a vez de duas famílias que moravam na Travessa Pio Saraiva terem suas casas tomadas por integrantes do CV. Também foi relatado que os faccionados já chegaram a atirar contra as casas das vítimas para forçá-las a deixar as residências.

Eles também se apossariam dos móveis deixados para trás pelos moradores e passariam a utilizar as casas como “ponto de apoio” para membros do CV.

Outra prática criminosa relatada na denúncia dizia respeito à proibição de crianças de frequentarem escolas localizadas em territórios dominados pelo CV caso seus pais fossem provenientes de áreas onde agissem facções rivais.

A coordenadora de uma dessas instituições chegou a afirmar a uma equipe policial que foi procurada por diversas mães que justificaram a ausência dos filhos às aulas “por questões de segurança”.

Suspeitos negam os crimes

Nenhum dos 13 acusados confessou, em depoimento à Polícia Civil, envolvimento com os crimes descritos. O POVO não localizou advogados constituídos pelos denunciados para que eles apresentassem suas versões. A Vara de Delitos de Organizações Criminosas ainda decidirá se aceita ou não a denúncia contra os acusados.

Os treze denunciados são: Dyego de Abreu dos Santos, de 27 anos; Francisco Jean Carlos Nogueira Sales, de 30 anos; José Cauan dos Santos Castros, o “Koreano”, de 18 anos; Antônio Arlindo Viana de Abreu, de 28 anos; Laudênio Rodrigo Santos Gomes, o “Russo”, de 36 anos; Thiago Araújo de Sousa, o “D'Limão”, de 30 anos; Francisco Geraldo Lima da Silva, de 18 anos; Francisco Rogério Torres Barbosa, de 47 anos; José Cláudio Teixeira Sampaio, de 34 anos; Kartegiane Rodrigues Lopes, o “Miseriqueima”, de 36 anos; Jefferson Carvalho de Mesquita, de 27 anos; Max Miliano de Freitas Cassiano, o “Piu-Piu”, de 31 anos; e Ricardo de Lima Fiúsa de 34 anos.

 

 

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