Moradores relatam risco de queda e transbordamento nos canais de água em Fortaleza

Transbordamentos de água são comuns no período de chuva, de acordo com a população. Perigo de queda diminui quando há alambrados para cercar área, como no caso do canal do Jardim América

O entorno dos canais de água em Fortaleza oferecem riscos para quem vive e passa por perto. Alguns trechos, por exemplo, não têm alambrados, o que potencializa ocorrências de queda em locais com grande concentração de crianças e idosos. Existem, além disso, registros de transbordamentos de água em dias de chuva.

Um acidente foi registrado em maio deste ano quando um idoso caiu dentro do canal do Conjunto Ceará II. A vítima, de acordo com o Corpo de Bombeiros, teria caído enquanto tentava catar latas. Apesar do susto, o homem foi resgatado com vida.

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O ocorrido, no entanto, chamou atenção para os riscos que os entornos dos canais oferecem. Márcio Avelino de Medeiros, professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca que uma série de medidas de segurança devem existir para garantir a segurança da população que transita e mora ao redor dos canais.

“No caso dos canais urbanos, onde há o trânsito de pessoas, a gente tem que buscar algum tipo de isolamento da área do canal. Quando eu não consigo manter uma distância [entre a população e o] canal, como acontece em centros urbanos, por conta da densidade, o ideal é colocar uma espécie de guarda-corpo. Pode ser um cercamento, uma estrutura de concreto ou alvenaria. [Tem que ter] Uma altura segura, de pelo menos 1,2 ou 1,5 metro”, explica.

“Além das barreiras físicas, também é importante colocar sinalizações, apontando risco de queda, risco de correnteza, para evitar que alguém caia”, adiciona ele.

Sobre casos de inundação, muito citados por moradores de casa de margeiam os canais, o professor aponta que apenas colocar uma barreira superficial não seria o suficiente para impedir que a água transborde. “A água também consegue passar através do solo. A gente precisaria de um muro de contenção, por exemplo, que atinja o solo de fundação, a uma profundidade segura.”

Com grande circulação de crianças, canal do Conjunto Ceará II tem trechos sem cercamento

Samuel Veras, 31, trabalha em uma mecânica situada em frente ao canal do Conjunto Ceará II, na rua C, e também reside no bairro. “A grande maioria do canal tem grade protetora, mas em algumas partes específicas faltam essas proteções, não sei se por falta de manutenção ou se os próprios moradores retiraram. Mas, em alguns pontos, realmente tem esse perigo [de queda]”, pondera.

De acordo com ele, existe uma grande concentração de crianças e idosos na região. “Aqui é uma área em que crianças brincam de tarde e que idosos fazem caminhadas no finalzinho da tarde e no começo da manhã.”

Samuel também conta que o local costuma ser muito afetado por inundações, que acontecem quando a água do canal transborda. “Aconteceu, inclusive, no domingo de Dia das Mães. Foi uma chuva muito grande que teve. Entrou água na rua e nas áreas que ficam mais próximas ao canal. É comum acontecer.”

Outro morador, Vicente Neto, 47, perdeu grande parte dos móveis de casa por causa da inundação do dia 13 de maio, quando Fortaleza registrou mais de 110 milímetros (mm) de chuva.

“Às 2 horas me acordei debaixo de água. Tive que salvar meus cachorros e meus filhos. Minha esposa chorava e meus filhos todos desesperados. Lá eu perdi muitas coisas, armário, sofá, televisão, alimento etc.”

Com relação ao risco de queda, Vicente também percebe uma falta de infraestrutura no local. “Faltam muitas coisas para [se] fazer aqui no canal. Falta grade, que não tem. É um espaço que qualquer um pode cair, uma criança”, pontua.

Antônio Alberto, 57, vive no Conjunto Ceará há cerca de 26 anos. Ele é dono de um bar localizado em frente ao canal e, por causa da proximidade, é um dos principais afetados pelas inundações.

“Aqui mesmo já entrou uns 80 centímetros de água. Devido à ponte [em frente ao bar] ser um pouco rebaixada, as águas saem pela lateral”, explica.

Sobre o perigo de queda, ele cita que não é nem mesmo recomendado fazer caminhadas nas calçadas do entorno da estrutura. É importante destacar que alguns trechos da calçada são de barro, o que torna o local escorregadio e ainda mais perigoso.

“[As calçadas] Têm cantos mais baixos, outros mais altos. Há pontos que não tem alambrado para o pessoal se proteger. Nesse caso, precisava ter uma parede, já caíram bem uns cinco. Três morreram e dois escaparam.”

No Jardim América, o risco de queda é menor, mas relatos de inundação são comuns

No Jardim América, o perigo de queda é bem menor. Quase todo o entorno do canal que corta o bairro é cercado por alambrados. A semelhança com o Conjunto Ceará são os alagamentos.

Rafael Vitor, 35, vive desde a infância na rua Waldery Uchôa, uma das que margeiam o canal. Ele lembra que, no passado, quando o canal não era cercado, casos de queda eram comuns. "Eu mesmo caí quando era pequeno. Mas, desde que colocaram [o alambrado], ficou mais seguro. Nunca mais aconteceu, não".

As enchentes, no entanto, ainda são comuns. "Sempre entra. Nessas casas que são mais baixas, sempre entra. Muitas casas são até aumentadas [elevadas] para poder evitar [alagamento]. Mas outras casas como a minha, que a estrutura é antiga, sempre alagam."

Parecido com Rafael, José Evailson, 49, afirma que hoje são raros os casos de queda dentro do canal. O risco é mínimo. "De cair gente não tem perigo, só quando era aberto, quando não tinha o cercamento, aí era perigoso."

Zeneida Gomes, 43, cita que, na chuva do dia 13 de maio, as águas atingiram uma altura de quase um metro dentro de sua casa. “Foi muita água mesmo. A gente já tem pouco, e o pouco que tem é levado, tem que rebolar [jogar fora]. Aqui em casa mesmo, a gente rebolou guarda-roupa, mesa etc.”

"Eu queria é que as políticas públicas fossem inseridas justamente nessas áreas de risco. A gente mora em uma área de risco, querendo ou não. O olhar das políticas públicas deveria ser mais forte", adiciona Zeneide.

Localizado em uma avenida, canal da Eduardo Girão tem alambrados de metal

O canal da Eduardo Girão fica quase todo inserido dentro de uma avenida. Quase não há casas no entorno da estrutura, diferente dos outros dois canais.

Cabe destacar que quase todo entorno é coberto por alambrados. Existem poucos trechos com algum problema na estrutura, mas, no geral, há uma condição bem melhor do que o canal do Conjunto Ceará, por exemplo.

Prefeitura afirma realizar ações nos canais da Capital

Em nota enviada no último dia 31, a Secretaria Municipal da Gestão Regional (Seger) informou que enviará uma equipe técnica até o Conjunto Ceará para "avaliar a necessidade de alambrados no local".

A Secretaria ainda explicou desenvolver ações de limpeza e recursos hídricos na Cidade. "Entre janeiro e abril de 2024, a gestão municipal realizou ações de limpeza em 41 canais e três lagoas, além da desobstrução de 2.206 bocas de lobo. Ao todo, já foram coletadas cerca de 20 mil toneladas de lixo e aguapés dos recursos hídricos da Capital."

As ações são realizadas com apoio de retroescavadeiras, escavadeiras, um multiuso e caminhões caçamba. “A Seger conta com o apoio da Defesa Civil, executa o serviço em pontos como a Lagoa do Porangabussu, o Parque Rachel de Queiroz e o canal do Jardim América. Os canais do Conjunto Ceará e Eduardo Girão também constam na programação de serviços”, apontou.

A Prefeitura também pede o apoio da população para o descarte de lixo. “Fortaleza conta com mais 100 Ecopontos distribuídos em todas as Regionais para o descarte correto de pequenas proporções de entulho, restos de poda, móveis e estofados velhos, além de óleo de cozinha, papelão, plásticos, vidros e metais”, completa a nota. 

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