Condutores e vendedores reclamam do trânsito próximo à Feira da Sé
A a ocupação das ruas causa lentidão no trânsito e preocupação devido à falta de segurança
A feira localizada no entorno da Catedral da Sé, no Centro de Fortaleza, atrai tanto moradores locais quanto turistas do interior do Ceará e de outros estados. No entanto, a disposição das bancas e vendedores ambulantes, que ocupam quase todo o trecho em frente ao Mercado Central, causa lentidão no trânsito. Além dos motoristas, que reclamam da falta de ordenamento viário, os próprios vendedores dizem temer pela segurança no local.
O comércio ambulante de produtos, principalmente peças de vestuário e artesanato, ocorre durante todos os dias da semana na Av. Alberto Nepomuceno. Contudo, é durante as madrugadas e manhãs de terça para quarta-feira e de sexta-feira para sábado que é realizada a Feira da Sé ou, como também é conhecida, a Feira da Madrugada.
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Conforme vendedores, de segunda-feira a sábado, o funcionamento é permitido das 22 horas até às 7 horas. Já nas madrugadas e manhãs domingo, o comércio acontece das 4 horas até as 12 horas.
A equipe do O POVO foi até a Feira da Sé na manhã deste domingo, 2, para conferir o movimento e o comércio no local. Por volta das 7 horas, mesmo com quantidade significativa de bancas e vendedores ambulantes ocupando boa parte de uma das faixas da Av. Alberto Nepomuceno e a calçada do Mercado Central, o fluxo de clientes era moderado.
Da mesma forma, por ser um domingo, a via central apresentava reduzido fluxo de veículos. Mesmo assim, carros e motos ainda trafegavam pelo trecho com cautela e, corretamente, reduziam a velocidade por conta do movimento comercial.
No entanto, o trânsito se torna um problema significativamente maior nos dias de feira semanal, quando um dos sentidos da Alberto Nepomuceno é completamente ocupado. É o que comenta o vendedor Iedo Correia Araújo (Júnior), 45, que desde a adolescência trabalha vendendo roupas no local.
“Hoje (domingo) está mais fraco, porque praticamente só tem morador. Mas quando vem os sacoleiros, os clientes do interior, aqui fica muito mais complicado de passar carro. Na semana, de noite, não tem quem passe nesse ‘corredor”, diz o comerciante.
Ele explica, no entanto, que o horário que os vendedores podem deixar a banca montada na rua, principalmente de madrugada e início da manhã, é pensado justamente para reduzir os impactos. “A gente tem que obedecer. Dá o horário de terminar e logo vem o ‘rapa’, os funcionários da Prefeitura, e pedem para sairmos”, conta Junior.


Mesmo com a estratégia, os condutores ouvidos pela reportagem reclamam da dificuldade de trafegar pelo local. “Quando é quarta-feira e sábado, até umas oito horas da manhã, apesar de não ter nenhum bloqueio, você não passa aqui na avenida por conta das bancas e do pessoal vendendo. Eu fico imaginando se alguém precisar de uma ambulância, um bombeiro, não vai ter como passar por aqui, por que a rua é completamente fechada”, aponta o taxista Diomar Silva Nunes, 58.
Outra questão apontada é a ausência de agentes de trânsito para orientar o fluxo de veículos. Para Francisco das Chagas, 45, que atua como motorista de aplicativo desde 2016, inicialmente com carro e, atualmente, de moto, trafegar nas proximidades da Feira da Sé é um desafio.
“Aqui é complicado para carro e moto, principalmente pela manhã. Para mim o que falta é fiscalização. Não digo para tirar a feira do canto, mas que deixassem mais recuado para deixar a passagem dos carros ou tivesse alguém para orientar a gente. Isso serve até para a segurança dos vendedores e clientes”, opina o motociclista.
São os ônibus e caminhões, contudo, que mais enfrentam dificuldades ao trafegar nas redondezas da Feira da Sé. Neste domingo, 2, a passagem de um veículo pesado chegava a paralisar o trânsito. A reportagem observou ainda a dificuldade de ciclistas trafegarem na região. Já que, em diversos trechos, a ciclovia é invadida por bancas de vendedores. Os ciclistas, por sua vez, precisam desviar para o meio da via e dividir o tráfego com carros, ônibus e caminhões.


Atuando a 17 anos como vendedora na Feira da Sé, Claudenia Ferreira reconhece os desafios do trânsito na região e sugere que o poder público poderia solucioná-los disponibilizando outro local para os vendedores. “Nós deveríamos ter um espaço reservado para acomodar todos, mas o governo não se manifesta em relação a isso”.
Problemas históricos
Na década de 1990, os vendedores se concentravam na Praça Caio Prado, conhecida como Praça da Sé. O comércio no local, contudo, já gerava discordância entre feirantes e autoridades. Em 2011, o pároco da Catedral Metropolitana chegou a solicitar ao MPCE a remoção dos vendedores das imediações, pois alguns utilizavam calçadas e grades da igreja para expor mercadorias, dificultando o acesso dos fiéis e descaracterizando a fachada da igreja.
Entre 2017 e 2018, a área foi fechada para reformas e a expectativa de que o restauro acomodaria os lojistas não se concretizou. Em 2021, a praça foi novamente interditada devido a obras do Metrô de Fortaleza, deixando metade do local coberto por tapumes. Os ambulantes, sem condições de arcar com custos em galpões privados, persistiram na ocupação da Av. Alberto Nepomuceno, muitas vezes bloqueando totalmente a via e se estendendo até a rua José Avelino.
A ocupação gerou um novo conflito em 2021, resultando na morte de um ambulante durante uma operação da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF). Isso levou a um acordo entre a Prefeitura e os feirantes, que determinou que pelo menos uma faixa da avenida seria liberada para o tráfego de veículos e que o comércio funcionaria apenas até as 7 horas da manhã durante a semana.
O que diz a Prefeitura
Sobre o trânsito no local, O POVO procurou a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), que relatou monitor o tráfego diariamente com pontos fixos e volantes na Rua José Avelino e entorno. Os ambulantes que circulam na região são orientados para que desocupem o espaço público.
Além disso, a Secretaria Municipal da Gestão Regional (Seger) ressaltou que o exercício do comércio ambulante é permitido, "desde que devidamente autorizado e respeitando as regras e limitações estabelecidas pela Administração Pública Municipal para o uso seguro dos espaços públicos".
A pasta destacou que, de acordo com o artigo 889 do Código da Cidade, "embaraçar ou impedir o livre trânsito de pedestres, veículos, nas vias, calçadas e logradouros públicos sem as medidas preventivas e/ou licenciamento da Prefeitura é uma infração grave". Denúncias de irregularidades podem ser feitas por meio do aplicativo Fiscalize Fortaleza (disponível para Android e iOS), do site e do telefone 156.
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