Chacina do Curió: mãe de vítima parou de trabalhar e ficou refugiada em casa por conta de ameaça

Catarina é mãe de Pedro Alcântara Barroso, jovem de 18 anos que foi uma das 11 vítimas que perderam a vida durante o massacre, ocorrido em novembro de 2015

O julgamento de quatro réus da Chacina da Grande Messejana, conhecida como Chacina do Curió, teve início nesta terça-feira, 20. A quinta e última testemunha de hoje foi a mãe de uma das vítimas. Em relato, ela contou que após o crime deixou de trabalhar e se "refugiou" em casa devido a ameaças recebidas. 

Catarina é mãe de Pedro Alcântara Barroso, jovem de 18 anos que foi uma das 11 vítimas que perderam a vida durante o massacre, ocorrido em novembro de 2015. Antes de falar, a mulher pediu para testemunhar na frente dos réus, que até então não estavam presenciando os depoimentos realizados. 

Dois outros julgamentos vão acontecer ao longo deste ano. Pelo menos mais 16 acusados pelo crime devem, até o momento, ser julgado sem sessões marcadas para acontecer em agosto e em setembro.

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine

Relato de Catarina

Catarina contou que no dia do crime escutou os tiros, mas ficou em dúvida se o barulho se tratava de disparo de arma de fogo. Foi quando a mulher ouviu o filho falar "Mãe, me ajuda, eu levei um tiro". Em seguida, ele teria se agarrado a uma grade e desmaiado, mas antes falou para ela: "Eu te amo". 

A mulher disse ter tentado manter o filho acordado, mas não conseguiu. O jovem foi socorrido pelo pai de Cícero, uma das vítimas sobreviventes do crime. Além de Pedro e de Cícero, o homem também socorreu Aléf, levando todos ao hospital dentro de um carro. 

Quando eles já estavam indo em direção ao Frotinha, viram a rua lotada por pessoas que usavam, em grande maioria, balaclava— uma espécie de gorro. O carro conseguiu passar porque, instintivamente, ele fez um pisca alerta, sem saber que era o sinal dos policias militares para quem fosse até a região.

No entanto, os agentes passaram a perseguir o veículo depois, ordenando aos ocupantes que parassem. Quando conseguiram abordar o veículo, perguntaram ao outro filho da Catarina, que também estava no carro, se ele respondia algo e passaram a puxá-lo. A mãe segurou ele enquanto segurava também o Pedro.

O Aléf, que já estava desacordado na carroceria do carro, teria levado um murro de um dos PMs. Ao motorista, um dos criminosos teria mostrado a carteira de PM. No hospital, havia mais policiais, sendo que um deles tirou fotos dos corpos, que foram publicadas em redes sociais com a legenda "bandido bom é bandido morto".

O relato também aponta que um vídeo foi feito no momento pelos policiais, onde é possível escutar um dos agentes chamando Catarina de "bandida-chefe". Nenhum dos PMs teria perguntado quem tinha sido os assassinos. Outro PM teria dito, referindo-se ao outro filho de Catarina: "Daqui a pouco é esse aí, porque vagabundo é só na bala".

Uma testemunha disse que Pedro foi baleado quando os meninos foram abordados na calçada, mas também foi alvejado por disparos quando tentou entrar em casa, após correr do local. Teriam sido dois tiros nas costa. O jovem trabalhava e era da banda da escola.

Catarina relatou que, tempos após a chacina, quando ela saía do trabalho e se preparava para esperar o ônibus, uma viatura parou no sinal e um dos PMs disse "tá bem rasinha", em direção a ela, fazendo gesto de uma arma. Por causa disso, ela parou de trabalhar e escolheu ficar refugiada em casa.

Com informações do reportér Lucas Barbosa

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

chacina do curió chacina grande messejana julgamento chacina curió testemunha chacina curió

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar