"Nossa filha pergunta se o papai vai voltar", diz esposa de entregador vítima de latrocínio

"Eles não levaram bem material. Eles levaram o amor da minha vida. Eles levaram o pai da minha filha", comenta. Pedro Rodrigues, de 25 anos, foi morto em um assalto mesmo sem reagir. Ele fazia entrega de sushi no bairro Planalto Ayrton Senna, em Fortaleza, quando foi abordado

No dia seguinte ao Natal, domingo, 26, Pedro Rodrigues, de 25 anos, saiu de casa para trabalhar como entregador de sushi. Ele deixou a esposa, Ingrid Rodrigues, de 23 anos e a filha, Atatha Pietra Rodrigues, de sete anos, e não voltou mais. O rapaz foi vítima de um roubo quando fazia a última entrega da noite. Ele não reagiu, mas foi baleado, socorrido a uma unidade saúde e não resistiu ao ferimento. Durante dois dias, Ingrid escuta as perguntas da filha sobre o pai. "Pergunta se o papai vai voltar, se vai ficar tudo bem, se a gente vai se encontrar no céu. Ele amava essa menina, queria ver ela crescer e se formar", disse.

Pedro tinha dois empregos, um de segunda a sexta, em um plano de saúde, e outro de sexta a noite até o domingo, como entregador de sushi. Ele queria juntar dinheiro para uma reforma na residência do casal, na Maraponga. Os dois são casados há oito anos.

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Ingrid explica que a ideia de o marido ser roubado quando fazia as entregas sempre a perturbou, mas durante as conversas, ele fez uma promessa, de que nunca reagiria a assalto. Na ação criminosa do dia 26, o esposo de Ingrid cumpriu a promessa, mesmo assim foi morto a tiros. A esposa lamenta o caso e pede Justiça em relação aos dois adolescentes aprendidos e o adulto preso. "Eles não levaram bem material. Eles levaram o amor da minha vida. Eles levaram o pai da minha filha", comenta.

"Ele me fez essa promessa, que quando fossem assaltá-lo, que ele não revidasse, pois depois a gente iria reconquistar o que foi roubado. Ele me fez essa promessa e dizia que não iria reagir, pois tinha que voltar para casa e ficar com a gente. Ele dizia: 'Eu preciso voltar para casa e ficar com vocês, pois se acontecer alguma coisa eu não sei como vocês vão ficar. Eu preciso cuidar de vocês'. Éramos nós três. Ele me prometeu e ele cumpriu, pois ele não reagiu, ele não fez nada", comenta Ingrid.

Ingrid diz que o companheiro fez o concurso da Polícia Militar do Ceará e não passou. Ele tinha o sonho de ser policial. Ela relata que dizia a ele que tinha muito medo dessa profissão: "Ele dizia que policial ajuda as pessoas". A esposa relata que eles tinham muitos planos, além da reforma da casa, eles pretendiam viajar no Réveillon. "Eu tinha conseguido um emprego, a gente ia reformar a nossa casa, todo mundo me pede para ter força para minha filha, mas eu não estou conseguindo. Ele era meu chão, meu teto, minha coluna, ele me dava força para enfrentar tudo", relata.

Pedro foi sepultado na segunda-feira, 27. A esposa ainda está em estado de choque, mas faz um apelo para que os entregadores sejam respeitados e ouvidos. "Os entregadores estão a mercê dos bandidos. A gente tem que dar voz para eles para que essas coisas não aconteçam. Pessoas como esses caras que tiraram a vida do meu marido não destruam outras famílias como destruíram a minha. A minha família estava começando, era a melhor fase da vida dele", relata.

Ingrid diz que antes de sair para trabalhar, o marido deu um beijo nela, como fazia sempre que saia para as entregas. Ele pedia sempre esse beijo, segundo a esposa, pois dizia que estava saindo e não sabia se era último dia que os dois estavam juntos. Antes de realizar a entrega no bairro Planalto Ayrton Senna, Pedro ligou e disse que estava fazendo sua "última entrega", pois depois iria para casa ficar com ela e a filha. Horas depois, ela recebeu a notícia da morte.

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