Advogados da Zara vão ao local de trabalho de delegada para tentar recuperar material apreendido

Associação dos Delegados de Polícia Civil do Ceará (Adepol-CE) considerou a atitude "inoportuna, invasiva e impertinente". Caso continua sendo investigado, nesta terça-feira foram colhidos pelo menos quatro depoimentos

Advogados que representam a loja Zara foram nessa segunda-feira, 20, até o local de trabalho da delegada Ana Paula Barroso, que denuncia crime de racismo no estabelecimento comercial. O motivo da ida dos profissionais ao encontro da delegada foi para solicitar uma cópia do inquérito do caso e tentar restituir os equipamentos de videomonitoramento apreendidos em mandado de busca e apreensão.

Para o advogado Leandro Vasques, representante da assessoria jurídica da Associação dos Delegados de Polícia Civil do Ceará (Adepol-CE), a ação dos advogados da loja foi “inoportuna, invasiva e impertinente”. Ele argumentou que a delegada acabou de sofrer um abalo emocional em decorrência do crime e qualquer contato deve ser intermediado entre seus advogados ou a delegada que conduz a investigação — Anna Claudia Nery da Silva.

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“Isso não é comum, não faz parte da práxis do modus operandi convencional do profissional do direito. Eu advogo há 26 anos e nunca me dirigi diretamente a alguém que tenha sido vítima de um cliente meu”, enfatizou Vasques. “Os advogados têm toda liberdade de se dirigirem a delegada que preside o inquérito para obter informações, mas eu não entendi essa atitude e considero, no mínimo, estranha”, afirmou.

Diante da situação, Vasques relata que Ana Paula orientou que os advogados procurassem a delegada responsável. Nesta terça-feira, 21, quatro seguranças do shopping prestaram depoimentos sobre o caso, mas a reportagem não foi informada do teor dos relatos. O POVO buscou contato nesta noite com a Zara para esclarecer o caso, por meio do contato telefônico de uma representante da loja, mas não foi atendido ou teve suas ligações retornadas.

Entenda o caso

No último domingo, a Polícia Civil cumpriu mandado de busca e apreensão para recolher equipamentos de videomonitoramento. O caso teria acontecido após denúncia de crime de racismo de uma mulher negra, posteriormente identificada como a delegada Ana Paula Barroso, diretora-adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV) da Polícia Civil do Ceará.

A apreensão dos equipamentos, conforme a Polícia, teria acontecido após as imagens do local serem requisitadas e a loja se recusar a fornecer o material. Diante do ocorrido, houve a representação pelo mandado de busca e apreensão junto ao Poder Judiciário. Com a decisão deferida, os policiais civis foram até a loja para dar cumprimento a busca e apreensão de material que deve auxiliar nas investigações.

Ana Paula contou que entrou na loja Zara com uma sacola de outra loja e tomava sorvete quando foi abordada pelo gerente do estabelecimento, que tentou afastá-la justificando que seria uma norma de segurança. A delegada Ana Paula então perguntou se era pelo sorvete. Em seguida, ela questionou um segurança do shopping sobre o ocorrido, e ele acionou o chefe de segurança do local, que a reconheceu como delegada.

Neste momento, a mulher adentrou na loja com o chefe da segurança, que indagou o funcionário sobre o que havia acontecido. "Ele foi logo dizendo que não tinha preconceito e que tinha amigos negros, gays e lésbicas", contou a delegada Ana Claudia. Para a profissional, a fala só reafirma o preconceito.

O POVO entrou em contato com a Zara nesta segunda-feira e, por telefone, a loja afirmou que a delegada foi impedida de entrar na loja por estar sem máscara de proteção contra a Covid-19, porque estava tomando um sorvete. A Zara também informa "que não tolera qualquer tipo de discriminação". Também por telefone, a Zara informou que não disponibiliza as imagens de segurança porque os equipamentos e a filmagem foram apreendidos pela Polícia nesse domingo.

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