Tarifaço coloca em risco 1/4 da produção de cera do Ceará

Tarifaço coloca em risco 1/4 da produção de cera do Ceará

Além de ser um dos principais compradores do produto cearense, os EUA é o país que paga melhor: uma média de R$ 9,57, o quilo, segundo o Sindicarnaúba

A elevação das tarifas de importação imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros tem causado preocupação no setor da cera de carnaúba, especialmente no Ceará, onde se concentra a maior parte da produção nacional. Na avaliação do setor, 1/4 da produção entra em risco se o produto não for incluído na lista de exceções.

Exportada há mais de 150 anos, a cera é considerada uma das matérias-primas mais tradicionais da região e tem os Estados Unidos como um de seus principais mercados.

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A partir de 6 de agosto a alíquota para a exportação do produto passará para 50%. A mudança ocorreu justamente no início da safra 2025 — período que costuma durar de quatro a cinco meses - e movimenta cerca de 70 mil trabalhadores no campo, estima o setor.

“A gente ainda está num campo de possibilidades, porque tudo começou agora”, afirma o empresário Edgar Gadelha, presidente do Sindcarnaúba, que representa o setor e acompanha a interlocução com o governo estadual.

Segundo ele, há um clima de incerteza entre os produtores, especialmente em relação ao que comprar ou não neste momento. A insegurança quanto à viabilidade de comercialização pode impactar a cadeia desde o início, comprometendo o volume colhido ainda no campo.

Além disso, Gadelha relatou que embarques de cera já foram cancelados desde que a nova alíquota foi anunciada, o que acende um alerta sobre possíveis perdas contratuais ou de mercado.

No primeiro semestre de 2025, o Brasil exportou 9,57 milhões de quilos de cera de carnaúba, gerando US$ 82,57 milhões em receita — um crescimento de 29% tanto em volume, quanto em valor exportado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Os Estados Unidos foram responsáveis por 20,2% do volume exportado, totalizando 1,93 milhão de quilos e gerando US$ 17,58 milhões em compras no período. O país é, atualmente, o maior comprador individual da cera brasileira em termos de valor, com média de US$ 9,57 por quilo.

A produção da cera de carnaúba é amplamente distribuída em diversas regiões do Ceará, como o Vale do Jaguaribe, Vale do Coreaú, Chapada da Ibiapaba e Sertão Central. Municípios como Eusébio, Itarema, Fortaleza, Russas e Maracanaú estão entre os principais exportadores do estado.

Além de acompanhar as articulações com o governo federal para tentar reverter a medida, representantes do setor também esperam que a carnaúba possa ser incluída em uma lista de exceções ou isenções — retomando o patamar de alíquotas praticado anteriormente, que variava entre 3% e 10%.

“A gente entende que foi uma decisão apressada. Parece que não houve uma análise detalhada sobre quais produtos manter ou tirar dessa lista”, comentou Edgar.

Ele também citou como exemplo a castanha de caju, que permaneceu na lista de produtos com tarifa elevada, embora tenha características diferentes da cera de carnaúba. Para ele, faltam explicações mais claras sobre os critérios usados na elaboração da medida.

Como forma de mitigar os impactos no curto prazo, o setor também pleiteia medidas de compensação fiscal, como a liberação de créditos de ICMS, PIS e Cofins, com pagamento dentro do cronograma previsto, o que poderia aliviar parte dos prejuízos enquanto a situação não se resolve no plano externo.

“Estamos acompanhando de perto, porque ainda é muito recente. Mas o momento exige cautela, e qualquer avanço nos próximos dias pode ser decisivo para o rumo da safra”, concluiu.

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