Produtores de leite se queixam de isenção do Ceará para itens de fora

Produtores de leite se queixam de isenção do Ceará para itens de fora

Mobilização em Morada Nova expõe disputa sobre benefícios fiscais do setor e pressiona Governo do Ceará por maior fiscalização

A crise do leite no Ceará, marcada pela queda acumulada de R$ 0,30 por litro, do valor que a indústria compra dos pequenos em 2025, ganhou novo capítulo.

Produtores acusam o descumprimento da isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que deve ser concedida a quem produz leite e derivados no Estado, caso comprem de pessoas locais.

Porém, eles relatam que a vantagem tem sido dada para a Alvoar Lácteos, mesmo que ela compre de pecuaristas de fora do Estado, o que julgam como “concorrência desleal e desvirtuamento da política pública”.

Então, solicitam mais rigor na fiscalização da Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz-CE). A pasta informa, em nota, que faz as fiscalizações. Já a indústria frisa que não tem sentido logístico trazer o leite cru de outras regiões que não as cearenses.

A mobilização terá ponto alto neste sábado, 30, em protesto marcado em frente à sede da Alvoar Lácteos, em Morada Nova, a 167,62 km de Fortaleza.

O que dizem os produtores

Além de reivindicarem valor mínimo de compra pela indústria de R$ 2,25 por litro, adoção do índice Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e bonificação por qualidade dada pela fábrica que adquire o produto, os pecuaristas miram agora o benefício fiscal.

Segundo lideranças, que não quiseram se identificar, a isenção de 100% do ICMS para a indústria estaria sendo fragilizada pela entrada de leite cru de outros estados com o mesmo tipo de vantagem, prática que, segundo eles, enfraquece ainda mais a produção local.

Conforme os relatos, como na compra de produtores locais e de fora há a mesma concessão de abate do tributo, a Alvoar pode escolher de quem comprar, derrubando a vantagem competitiva dada aqueles que adquirem o leite dos pecuaristas cearenses. 

“Queremos que a Sefaz intensifique a fiscalização nas divisas e coíba irregularidades que tiram competitividade do produtor cearense”, afirmam representantes do movimento.

A posição da Alvoar Lácteos

A empresa, maior laticínio em operação no Ceará, e que detém o monopólio da compra dos produtores para a fábrica, rejeita as acusações.

“Compramos leite no Ceará, industrializamos no Ceará e investimos no Ceará. Transportar leite cru de outros estados não faz sentido econômico nem logístico”, declarou a Alvoar, ao rebater as críticas.

A companhia frisa que mantém um preço mínimo de R$ 2,20 para produtores diretos, anunciou um programa de bonificação por qualidade de até R$ 0,21 por litro e nega irregularidades no uso dos incentivos fiscais.

O que diz a Sefaz

Em resposta, o Governo do Ceará, por meio da Sefaz-CE, informou que a isenção fiscal está assegurada pelo Decreto nº 36.406, de 31 de dezembro de 2024.

O texto prorroga até o fim deste ano o crédito presumido de 100% sobre o ICMS nas saídas de produtos como leite UHT, leite em pó e creme de leite, desde que cumpridas as condições legais.

A pasta destacou ainda que a fiscalização é constante, com auditorias, cruzamento de dados, uso de inteligência artificial e monitoramento 24 horas nos postos fiscais de divisa, onde são verificadas as entradas e saídas de notas fiscais.

Mobilização em Morada Nova

Com a expectativa de reunir centenas de produtores do Sertão Central e Vale do Jaguaribe, a manifestação em Morada Nova neste sábado, 30 de agosto, deve reforçar a pressão por mudanças.

Além do embate com a indústria, a cobrança agora recai também sobre o Estado, que é instado a demonstrar o alcance real dos incentivos e a garantir que o benefício tributário fortaleça a produção local, “em vez de fragilizá-la”.

Estimular a produção agrícola já existente é um bom caminho? | O POVO News

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