Conheça a origem e o significado dos símbolos natalinos

Conheça a origem e o significado dos símbolos natalinos

Das raízes pagãs à devoção cristã, cada elemento carrega histórias que explicam como hoje celebramos a festa

O Natal é uma das festas mais tradicionais nos países de cultura cristã. Além do nascimento de Jesus Cristo, a data celebra a fraternidade, o amor e a união entre as pessoas. Nesse período, ruas e casas são decoradas com luzes, árvores e enfeites — símbolos que materializam os sentimentos da festa.

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Com origens e épocas distintas, cada símbolo traz consigo uma história para contar e, ao longo dos séculos, foi ganhando novos significados conforme diferentes culturas os incorporaram às suas tradições.

Jesus Cristo

Na tradição cristã, o Natal celebra o nascimento de Jesus Cristo, o filho de Deus que veio ao mundo para redimir a humanidade. Os evangelhos de Mateus e Lucas narram que Jesus foi concebido pelo “poder do Espírito Santo” no ventre de Maria, cumprindo profecias como a de Isaías 7,14, sobre a uma “virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel (Deus conosco)”.

Apesar de ser celebrado no dia 25 de dezembro, não se sabe ao certo qual foi o dia do nascimento de Jesus. Segundo o historiador Hildebrando Maciel, é possível que a escolha da data tenha sido uma estratégia da Igreja Católica para cristianizar festividades pagãs.

Ele explica que há referências históricas indicando que outros povos realizavam celebrações com narrativas semelhantes — inclusive envolvendo a figura de um salvador — antes de o cristianismo ser institucionalizado pelo Império Romano.

“Em uma análise historiográfica, podemos compreender que houve um processo de apropriação dessas referências pelo cristianismo para ordenar a narrativa de Jesus como salvador. [...] Também podemos entender isso como uma tentativa de cristianizar o tempo e aquilo que as pessoas entendiam como sagrado”, afirma.

Presépio

Datado de 1223, na Itália, o presépio surgiu como uma forma encontrada por São Francisco de Assis para mostrar aos habitantes da pequena localidade de Greccio o nascimento de Cristo na manjedoura.

Segundo Tomás de Celano, principal biógrafo do santo, Francisco desejava recordar “como Jesus nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio”, e permitir que as pessoas vissem com os próprios olhos a cena do menino na palha, entre o boi e o burro.

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Tudo foi colocado em uma pequena gruta da região, onde sobre a manjedoura e dois animais o santo celebrou a missa de Natal. Naquela noite, Greccio “tornou-se uma nova Belém”, escreveu Celano.

Desde então, o presépio tornou-se uma tradição católica difundida em todo o mundo.

Presépio e lapinha: qual a diferença?

Diferente do presépio, que representa de forma universal o nascimento de Cristo, a lapinha possui características regionais, sobretudo na Ilha da Madeira e no Nordeste brasileiro.

Segundo Frei Gilmar do Nascimento, reitor do Santuário de São Francisco das Chagas, em Canindé, os três elementos obrigatórios do presépio são as imagens de Jesus, Maria e José — podendo incluir animais, os reis magos e a estrela.

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Já a lapinha é um conjunto de peças disposto sobre uma mesa que recria o nascimento de Cristo de maneira teatral. Carregada de elementos locais, pode incluir gruta, lago, casinhas, pastores, iluminação e figuras e elementos da cultura popular.

Guirlanda

A origem da guirlanda remonta à Antiguidade clássica, quando gregos e romanos usavam coroas e arranjos circulares feitos de folhas verdes como símbolos de vitória, proteção e status social.

Com a expansão do cristianismo, esses arranjos foram ganhando outro significado. Elementos como cedro, pinho e azevinho passaram a simbolizar a vida eterna em Cristo, enquanto o formato circular representava o amor infinito de Deus.

Segundo Hildebrando, sua presença no natal brasileiro deve ser entendida dentro do processo de mistura cultural trazido pela colonização: “No processo colonial, muitos desses elementos passam a ser incorporados às narrativas religiosas e às formas de celebrar o natal.”

 Apesar de ganhar versões mais modernas, a guirlanda manteve sua essência. O círculo simboliza continuidade e renovação; as folhas representam força e esperança — sobretudo em regiões onde o inverno marca a morte da vegetação. Folhagens que permanecem verdes remetem à perseverança e à vitalidade.

Coroa do Advento

Ligada diretamente à tradição católica, a coroa do Advento é uma espécie de guirlanda com quatro velas — uma para cada semana que antecede o Natal.

Mais que um objeto decorativo, ela representa para os fiéis a eternidade e a esperança no Cristo que há de vir. Nas igrejas, as velas são acesas na seguinte ordem: verde, vermelha, roxa e branca.

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Árvore de Natal

Outro símbolo natalino de origem pagã é a árvore de Natal. Seu uso remonta às celebrações do solstício de inverno na Europa, que mais tarde foram incorporadas ao calendário cristão na Alemanha medieval.

O primeiro registro de um pinheiro decorado é de 1604, em uma crônica da cidade de Estrasburgo, que narrava o costume de ricas famílias luteranas de decorá-las com frutas, doces e enfeites coloridos.

Sua popularização pelo mundo começou no século XIX, graças às festas natalinas da realeza britânica e a publicação dos jornais de relatos e ilustrações coloridas da família em torno da árvore.

Tradicionalmente, a árvore de natal é um pinheiro. Isso porque é uma das poucas árvores que permanecem verdes no inverno, simbolizando vida e esperança.

Bolas, sinos e estrela

Mesmo com a variedade de enfeites atuais, três elementos atravessaram séculos na decoração das árvores: as bolas, os sinos e a estrela no topo.

Inicialmente, usavam-se frutas — especialmente maçãs — nos galhos do pinheiro. No século XIX, essas frutas foram substituídas por bolas de vidro, que depois passaram a ser feitas de plástico.

Os sinos e a estrela tem significado semelhantes, pois ambos representam o anúncio do nascimento de Cristo. Enquanto o primeiro remete as igrejas convidando os fiéis à celebração, o segundo faz referência a estrela de Belém, que segundo a tradição bíblica guiou os três reis magos até o menino Jesus.

Papai Noel

Seja papai noel, santa claus, sinterklaas ou pai natal, em que em todos os lugares ele representa o mesmo velhinho bondoso que presenteia crianças no Natal.

Uma de suas inspirações é São Nicolau, bispo católico do século IV, conhecido por sua generosidade. A Encyclopaedia Britannica destaca que poucos documentos comprovam sua vida, mas relatos de caridade marcaram sua imagem do santo.

Uma das histórias que ajudou a criar a imagem do papai noel foi quando ele salvou três moças de serem entregues pelo pai a prostituição. Segundo a lenda, o homem era um comerciante que após perder tudo já não tinha como sustentá-las nem pagar o dote do casamento. Foi quando Nicolau resolveu ajudá-las pagando o dote de casamento em ouro.

Após a Reforma Protestante, apenas a Holanda manteve a devoção a São Nicolau, onde era chamado Sinterklaas. Quando os colonos holandeses foram para os Estados Unidos no século XVII, Sinterklaas, foi adotado pela maioria dos falantes de língua inglesa do país com o nome de Santa Claus.

Dessa forma, “sua lenda de um bondoso velhinho foi unida aos antigos contos folclóricos nórdicos de um mágico que punia as crianças malcomportadas e recompensava as boaszinhas com presentes”, explica a Britannica

A figura moderna de Papai Noel como patrono dos presentes consolidou-se no século XIX nos EUA e se espalhou pelo mundo.

Frei Gilmar, explica que a pesar de São Nicolau ser uma das inspirações do bom velhinho, para os cristãos o centro do Natal deve ser Jesus. “A Igreja Católica não condena o Papai Noel, até porque ele é visto como uma figura de generosidade, mas deixa bem claro que o foco é o nascimento de Jesus.”

Ceia

Um dos momentos mais aguardados da noite de Natal é a ceia. Grandes ou pequenas, elas costumam reunir famílias e amigos em torno da mesa, reforçando a ideia de união e fraternidade que marca a data.

O costume teve origem na Europa, quando famílias abriam suas portas para receber viajantes e oferecer-lhes uma refeição na véspera de Natal.

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O grande destaque da ceia é o peru que apesar de ter sido incorporado às práticas natalinas europeias, o animal tem forte ligação com o México. Segundo o artigo “História do Peru na Ceia de Natal”, do historiador Carlos Roberto Antunes, a ave foi levada pelos colonizadores espanhóis do México para a Europa, onde rapidamente se popularizou.

No século XIX, o peru praticamente substituiu o cisne como ave natalina na Inglaterra, tornando-se símbolo de fartura. Sua presença como prato principal da ceia passou a representar sucesso frente aos ditames da vida cotidiana ao longo do ano”, explica Antunes.

Panetone

Entre as iguarias mais consumidas no período natalino está o panetone. De formato arredondado e massa fermentada, é tradicionalmente preparado com frutas cristalizadas ou chocolate — no popular “chocotone”.

Embora uma lenda popular atribua sua criação ao padeiro Toni, que teria derrubado frutas cristalizadas em uma massa de pão, o historiador Massimo Montanari afirma que essa versão é fantasiosa. Para ele, o panetone é resultado de uma tradição coletiva e não possui uma origem precisa.

É possível, no entanto, rastrear seus ancestrais medievais: os pães doces consumidos em festividades importantes, feitos com açúcar, passas e especiarias. Um dos registros mais antigos está em um manuscrito da Biblioteca Ambrosiana de Milão, datado da década de 1470.

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