Filosofia de Santo Agostinho: veja o que esperar do novo papa Leão XIV

Filosofia de Santo Agostinho: veja o que esperar do novo papa Leão XIV

"Volta para ti mesmo; no interior do homem habita a verdade": entenda pensamentos que influenciam o papa Leão XIV, que se diz "filho de Santo Agostinho"

O novo papa Leão XIV afirmou durante seu primeiro discurso na varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, que era “filho de Santo Agostinho”. A declaração chamou atenção e levantou questionamentos sobre o significado dessa referência.

Formado na Ordem dos Agostinianos desde 1985, Robert Prevost sinalizou, com essa fala, a possível linha filosófica e pastoral que pretende seguir à frente da Igreja Católica.

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Os agostinianos integram as ordens mendicantes da Igreja, assim como os franciscanos e dominicanos. Essas ordens são compostas por religiosos consagrados que vivem em comunidade, seguindo regras de vida espiritual e serviço ao próximo.

Enquanto os franciscanos seguem os ensinamentos de São Francisco, com ênfase na simplicidade e no cuidado com os pobres e a natureza, os agostinianos se orientam pelos escritos e reflexões de Santo Agostinho.

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Filosofia de Santo Agostinho: Deus está no caminho interior

Santo Agostinho (354–430) é considerado um dos maiores pensadores da tradição cristã. Após uma juventude marcada por dúvidas e buscas existenciais, ele se converteu ao cristianismo e se tornou bispo de Hipona, no norte da África.

Sua trajetória pessoal e intelectual deixou um legado profundo à teologia e à filosofia ocidental.

Agostinho defendia que o caminho para Deus passava pela busca interior e pela reflexão sobre a própria existência. Uma de suas frases mais conhecidas resume esse pensamento:

“Volta para ti mesmo; no interior do homem habita a verdade.” Para ele, a experiência da fé era inseparável do autoconhecimento e da razão.

Segundo Rafael Lima Montenegro, professor de filosofia da Organização Internacional Nova Acrópole e estudioso do pensamento agostiniano, Agostinho foi um dos principais responsáveis por integrar a herança filosófica greco-romana ao cristianismo.

“Ele reinterpretou a filosofia platônica à luz da fé cristã, colocando Deus no centro do conhecimento e da realidade, conciliando fé e razão”, afirma.

Filosofia de Santo Agostinho: influência do neoplatonismo

Um dos principais pontos de contato entre Agostinho e a filosofia clássica está na influência de Plotino, expoente do neoplatonismo.

“Agostinho adaptou conceitos como o ‘mundo das ideias’ e a hierarquia do Ser para uma visão cristã. Para ele, Deus é o Sumo Bem e fonte de toda verdade, ideia que remete ao ‘Bem’ platônico, do qual toda a realidade e o conhecimento viriam”, explica Montenegro.

Essa influência também aparece em sua concepção sobre o mal. Agostinho entendia que o mal não era uma substância, mas a ausência do bem.

“Esse pensamento permitiu conciliar a existência do mal com a bondade de Deus, pois o mal seria um afastamento, e não uma oposição ao bem”, completa o professor.

Confissões: uma autobiografia filosófica

Entre suas obras mais conhecidas, Confissões é uma das que mais expressa essa síntese entre fé, razão e introspecção. Embora escrita em forma autobiográfica, carrega forte conteúdo filosófico.

“Agostinho reflete sobre temas como memória, tempo, liberdade, natureza do mal, desejo humano e busca por Deus.

A obra trata da interioridade e do autoconhecimento e é considerada uma das primeiras a abordar de maneira profunda a experiência individual sobre a vida”, comenta Montenegro.

Filosofia de Santo Agostinho: alma como medida de tempo e eternidade

Outro conceito central no pensamento de Agostinho é o tempo. Em suas reflexões, o bispo de Hipona distingue o tempo humano da eternidade divina.

“Ele relaciona o tempo com a alma humana, associando o presente à memória (passado), à atenção (presente) e à expectativa (futuro). Já Deus e a vida espiritual pertencem ao eterno presente, à dimensão atemporal”, explica o professor.

Essa visão influenciou pensadores medievais e modernos, e continua sendo objeto de estudo na filosofia e na teologia.

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Filosofia de Santo Agostinho: como ser agostiniano na prática?

Na Nova Acrópole, onde Rafael Lima Montenegro leciona, há uma proposta de aplicar os ensinamentos filosóficos à vida cotidiana. Segundo ele, Agostinho pode ser uma inspiração nesse sentido.

“Ele foi um exemplo de ecletismo que mostra algo de grande importância para a filosofia: sem a tradição e o conhecimento acumulado da humanidade não conseguimos dar um passo a mais”, observa.

Além disso, sua valorização da interioridade, das virtudes e da busca pelo bem ainda ressoam.

“No mundo acelerado, líquido e utilitário no qual estamos inseridos, podemos, através de seus ensinamentos, refletir sobre nós mesmos e contemplar o que está para além dos sentidos. É isso que buscamos com a filosofia aplicada que procuramos vivenciar em Nova Acrópole”, conclui.

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Um nome com significado: papa Leão XIV e a justiça social

Ao justificar a escolha de seu nome durante sua primeira reunião com o Colégio Cardinalício realizada no último sábado, 10, o papa destacou o papel transformador de Leão XIII, autor da encíclica "Rerum Novarum", que tratou das questões sociais durante a primeira revolução industrial.

“Hoje, a Igreja coloca novamente à disposição de todos o seu patrimônio de doutrina social para responder a uma nova revolução industrial e aos avanços da inteligência artificial, que impõem novos desafios à dignidade humana, à justiça e ao trabalho”, afirmou Leão XIV.

O documento histórico "Rerum Novarum" abordou temas como justiça no trabalho, dignidade humana e responsabilidade social, iniciando um novo ciclo de diálogo entre fé, ciência e política.

A combinação entre o pensamento de Santo Agostinho e a inspiração social de Leão XIII indica que Leão XIV poderá buscar uma Igreja voltada ao diálogo, à reflexão profunda e ao compromisso com os mais vulneráveis.

Quem foi Santo Agostinho?

Agostinho de Hipona nasceu em 354, na atual Argélia. Criado em uma família de fé cristã por parte da mãe, Mônica, e de crenças pagãs por parte do pai, Agostinho passou parte da juventude em busca de sentido, aderindo a diferentes correntes filosóficas antes de se converter ao cristianismo.

Influenciado por Platão e pelos neoplatônicos, seus escritos abordam questões como a existência do mal, a liberdade humana e a natureza do tempo. Suas obras mais conhecidas são Confissões, em que narra sua vida e conversão, e A Cidade de Deus, um tratado sobre a relação entre fé e política.

A partir de sua experiência pessoal, Agostinho desenvolveu uma filosofia centrada na graça divina, na busca pela verdade interior e na importância da comunidade para a vida cristã.

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