Tragédia de Morrinhos: denúncia à Justiça revela a trama que levou mãe e filha à morte

Bicheira que teria interesse no marido de uma das vítimas teria contratado grupo de extermínio para cometer o duplo homicídio

A trama que levou à morte da advogada Rafaela Vasconcelos, 34, e da mãe dela, Maria do Socorro de Vasconcelos de Maria, 78, em Morrinhos, no dia 24 de março, envolveria uma bicheira e um suposto grupo de extermínio liderado por PMs. Segundo a denúncia ofertadas pelo Ministério Público do Ceará e acatada pela Justiça, a mandante do crime seria Ediane da Mota Oliveira, 41, que enfrentava disputa contra facções para não perder o controle de suas bancas do jogo do bicho.

Depois que o sigilo do processo foi levantado pela Justiça, no último dia 10 de outubro, a empresária Ediane Oliveira foi incluída na lista dos Mais Procurados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), apontada como suspeita de ser mandante de "atividade típica de grupo de extermínio".

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O MPCE ofereceu denúncia contra o grupo, no último dia 10. No dia seguinte, o juízo da Comarca de Marco aceitou a denúncia tornando a empresária e seus supostos comparsas réus.

As investigações que chegaram ao nome de Ediane se desenrolaram depois que dois PMs, Daniel Medeiros de Siqueira e Francisco Amaury da Silva Araújo, foram presos. A dupla teria feito levantamentos sobre a rotina de Rafaela e planejando a dinâmica do crime desde o início.

Além deles, outro militar, Edilson Barbosa da Luz, também estaria envolvido no caso. Conforme as apurações da Delegacia de Assuntos Internos (DAI), da Controladoria Geral de Disciplina (CGD), Ediane teria entrado em contato com Edilson e dito que teria um "serviço em Morrinhos". O militar teria então passado nome e contato de Daniel.

Os conchavos foram feitos por conversas de WhatsApp, como se fossem para encomenda de algo comum. Via mensagens e áudios, disponíveis na denúncia do MPCE, Ediane disse que recebeu indicações sobre Siqueira e pede que ele execute a advogada. Conforme a DAI, a partir de então, o militar arregimentou Amaury Araújo para atuar com ele. Também de acordo com o documento da acusação, Reginaldo Cavalcante dos Santos, 40, que mora em um terreno invadido onde Siqueira negocia lotes, emprestou sua conta para a empresária fazer pagamentos aos militares e indicou José Elton Cavalcante Mano da Silva, 22, também morador da invasão, para participar do crime.

Marcus André Viana Cavalcante, advogado de Francisco Amaury da Silva Araújo e Daniel Medeiros de Siqueira, argumenta que "a defesa segue lutando no sentido de demonstrar que as provas foram obtidas por meio ilegal. As provas foram forçadamente retiradas do celular do Amaury. Vamos provar a inocência no decorrer da instrução processual".

As defesas dos demais réus não foram encontradas.

Ediane teria pagado por todos os levantamentos, comida, hospedagem, deslocamento, comprado a moto utilizada na execução e ainda adiantado uma quantia para os policiais. A promessa final era de que pagaria R$ 70 mil pela morte da advogada.

Rafaela era casada com o tenente-coronel da PM Fred Rafael Paiva, que, à época do crime estava como comandante do Batalhão de Itapipoca. Durante as conversas para executar o crime, que começaram em janeiro, Siqueira pede à Ediane para que "retire o coronel do local, para fins de resolver o S13 (ocorrência)", segundo a DAI.  

No dia 24 de março, Rafaela foi até o centro de Morrinhos com a mãe, em uma Honda Biz, quando foram abordadas por dois homens, que estavam em uma moto CB300 e mortas a tiros. Os autores e a motivação do crime se tornaram um mistério, já que ninguém próximo às vítimas tinha conhecimento de nenhuma ameaça ou desentendimento que pudesse ter final tão trágico.

Nos pedidos de quebra de sigilo telefônico, a bicheira aparece em várias conversas demonstrando interesse amoroso no coronel Fred. Ela fez alguns contatos e pagamentos buscando trabalhos espirituais para saber de suas chances com o militar.

Na denúncia, o MPCE diz que o grupo agiu por motivo torpe: Ediane por ser mandante de uma emboscada e os demais por terem agido mediante pagamento de emboscada. "O conjunto robusto de informações, inclusive de ordem técnica, demonstram que os denunciados atuaram mediante unidade de desígnios, em típica situação de concurso de agentes e com divisão de tarefas para viabilizar os crimes", diz
o documento.

Ediane possui bancas de jogo do bicho em várias cidades cearenses, inclusive na região do crime.

De acordo com as investigações que embasaram a denúncia do MPCE, a empresária também atuava no jogo do bicho, especificamente com a empresa Paratodos.

Em decorrência de atritos que começaram a existir no Estado do Ceará entre facções criminosas e bicheiros, Ediane passou a ser ameaçada, sofreu extorsões e ataques contra suas lojas e funcionários. Segundo ela própria informou à Polícia, um de seus seguranças foi morto, em razão da briga.

Os ataques estariam partindo de duas das maiores organizações criminosas do Ceará. "A partir de abril e maio de 2022, Ediane passou a dar conhecimento à Polícia Judiciária a respeito dessas ameaças e ataques que vinha sofrendo", apurou a DAI.

Os casos informados por ela estavam sendo investigados em diferentes inquéritos nas delegacias de Itarema, Trairi, Pentecoste e Itapipoca. Ediane morava no Bairro de Fátima, em Fortaleza, mas as buscas a seus endereços foram infrutíferas e ela continua foragida.

 

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