Violência contra a mulher pode crescer 95% até 2033, aponta pesquisa da UFC
Entre 2013 e 2023, o Brasil registrou 2,6 milhões de casos de violência contra a mulher. A tendência é de alta, com aumento estimado de 5,59% ao ano até 2033, de acordo com estudo da UFC
A violência contra a mulher no Brasil pode crescer 95% até 2033, caso o País mantenha o ritmo observado na última década. É o que aponta um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), divulgado nessa terça-feira, 16.
O alerta surge em meio a mobilizações nacionais e o debate público reacendidos após recentes casos bárbaros de feminicídio registrados no país.
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O artigo científico com os resultados foi publicado no periódico international Journal of Interpersonal Violence. Conforme o estudo, entre 2013 e 2023, foram notificados mais de 2.6 milhões de casos de violência contra a mulher no Brasil, com crescimento médio anual de 2,26%.
As projeções indicam aceleração dessa tendência, com aumento estimado de 3,53% em 2024 e de 5,59% em 2033. A análise utilizou dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, cruzados com estimativas populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As pesquisadoras afirmam que as projeções não configuram um cenário inevitável, mas funcionam como alerta.
De acordo com o estudo, a violência atinge mulheres de todas as faixas etárias. A agressão física permanece como a forma mais frequentemente registrada, enquanto a violência sexual apresenta crescimento mais acelerado, especialmente entre meninas e adolescentes.
O levantamento também aponta aumento de casos envolvendo mulheres idosas, associado ao envelhecimento da população e à maior dependência de cuidados. A violência psicológica também tende a anteceder outras formas, como a física, sexual e patrimonial.
A maior parte das agressões ocorre no ambiente doméstico e é praticada por pessoas próximas às vítimas, como companheiros, familiares ou cuidadores. Cerca de 40% das notificações analisadas indicam violência recorrente, com repetição dos episódios e sobreposição de diferentes tipos de agressão.
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O estudo chama atenção ainda para a subnotificação. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que mais de 60% das vítimas não procuram ajuda, o que sugere que os números oficiais representam apenas parte da realidade.
Além disso, a ausência de informações sobre o desfecho dos casos em mais de 90% das notificações dificulta o monitoramento das vítimas e a formulação de políticas públicas.
As autoras e os autores do estudo são:
Manuela de Mendonça Figueirêdo Coelho
Mônica Oliveira Batista Oriá
Ana Carolina Ribeiro Tamboril
William Caracas Moreira
Beatriz Alves de Oliveira
Mariana Cavalcante Martins
Janaína Fonseca Victor Coutinho
Jamylle Lucas Diniz1 , Fabiane do Amaral Gubert
Thais Rodrigues de Albuquerque
Viviane Mamede Vasconcelos Cavalcante
Riksberg Leite Cabral