"Não temos mais saúde": moradores da zona rural de Paraipaba denunciam poluição por fumaça de fábrica
Fábrica de processamento de coco é apontada como responsável por emissões constantes de fumaça preta; população relata impactos na saúde e cobra providências
Moradores de uma comunidade localizada na zona rural de Paraipaba, município cearense a cerca de 90 km de Fortaleza, vêm denunciando a emissão recorrente de fumaça preta proveniente de uma fábrica de beneficiamento de coco instalada nas proximidades das residências. Segundo os relatos, a poluição atmosférica estaria afetando diretamente a qualidade do ar e comprometendo a saúde dos habitantes da região.
A unidade industrial, pertencente à empresa Cartha Indústria de Alimentos Ltda., responsável pela marca Água de Coco Litorâneo, foi fundada em 2015 e ocupa uma área de aproximadamente 5.000 m², situada a cerca de 8 km do centro do município. A comunidade afetada é composta por cerca de 300 moradores, entre eles crianças, idosos e pessoas com histórico de doenças respiratórias — público especialmente vulnerável a agentes poluentes.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
LEIA MAIS| Escola de Cinema Indígena Jenipapo-Kanindé inicia nova turma com aula inaugural na Aldeia Encantada
Moradores relatam problemas respiratórios e incômodo diário
Vídeos gravados por moradores mostram a fumaça preta e densa saindo da chaminé da fábrica e sendo direcionada pelo vento para as casas da região. O material particulado permanece no ar, especialmente durante as noites e madrugadas.
Uma moradora da região, que vive há 24 anos na localidade e preferiu não se identificar, afirmou ao O POVO que convive com o problema há aproximadamente oito anos. “A fumaça é sufocante, principalmente durante a madrugada”, disse. Segundo ela, a caldeira operava ininterruptamente nos primeiros anos e, atualmente, permanece em funcionamento nos dias úteis, com pausa apenas nos fins de semana.
“O cheiro muito forte da fumaça é constante, especialmente quando usam madeira como combustível. Fica mais escura e pesada”, relata. A moradora também aponta que suas filhas enfrentam crises frequentes de rinite, espirros constantes e episódios de falta de ar. “Não temos mais saúde respiratória”, lamenta.
LEIA TAMBÉM| Prefeitura lança pacote de obras com reforma de hospitais e postos
Empresa teria reconhecido falha, mas não tomou providências
Em busca de solução, parte da comunidade recorreu a Prefeitura de Paraipaba e à própria empresa, sem sucesso. De acordo com a denunciante, um engenheiro da fábrica visitou sua residência há cerca de dois anos e teria reconhecido que a chaminé responsável pela dispersão da fumaça estava fora dos padrões adequados.
“Ele disse que a chaminé era muito baixa, deveria ter pelo menos 20 metros de altura, mas estava quase no nível da minha casa”, afirma. Apesar do reconhecimento verbal da irregularidade, nenhuma providência efetiva teria sido adotada desde então.
LEIA MAIS| Jenipapo-Kanindé: Ceará tem a primeira areninha em território indígena
Empresa nega irregularidades e diz seguir padrões ambientais e sanitários
Procuramos a Cartha Indústria de Alimentos Ltda., que se manifestou por nota.
A empresa disse receber “com espanto e indignação” a denúncia, afirmando atuar dentro dos padrões legais e ambientais. Segundo a empresa, todas as atividades operam com alvarás de funcionamento, sanitário e ambiental, além de controle de qualidade e fiscalização dos equipamentos.
A Cartha destacou que a caldeira da fábrica está em pleno funcionamento, dentro das normas exigidas pelos órgãos competentes, e que o coco utilizado é um produto natural, cuja queima “não envolve produtos químicos ou tóxicos que coloquem a saúde da população em risco”.
"Enquanto membro da sociedade, nossa empresa sempre zelou com os direitos sociais, econômicos e ambientais, adotando conduta não só legal, mas especialmente legítima para com aquele que orbitam a nossa área de atuação. Atuamos ativamente junto à comunidade local onde estamos inseridos, de forma ativa, com geração de empregos e renda, zelo pelaos interesses sociais e ambientais, com participação em ações locais, que inegavelmente geram impacto positivo em todo o macroambiente".
O POVO também entrou em contato com a Prefeitura de Paraipaba e a Secretária de Meio Ambiente do Estado (Semace), mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.