Neto veste camisa de avô que estava guardada há mais de 50 anos e encanta familiares
A camisa foi um dos poucos pertences que veio com Fábio, junto de uma carta da mãe pedindo que a família adotiva o criasse
Uma camisa social amarela com flores brancas na estampa pode guardar memórias de tempos difíceis e alegres simultaneamente. É o caso da peça de roupa de Fábio Henrique Soares Ferreira, de 57 anos, que o vestiu quando ele vinha do Rio de Janeiro com destino a Reriutaba, município da microrregião de Ipu, no Ceará.
A camisa foi um dos poucos pertences que veio com Fábio, junto de uma carta da mãe pedindo que a família adotiva o criasse. Cinquenta anos depois, a peça foi vestida pelo neto, Dom Soares Andrade, de 1 ano e 4 meses, e encantou os familiares.
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A vinda ao Ceará com uma camisa amarela e flores brancas
A história de Fábio, que é profissional em energia eólica, começa com a mãe biológica, Francisca Regina Célia Soares, que foi ao Rio de Janeiro com 18 anos para trabalhar como babá em uma família. Após um tempo na cidade, ela acabou engravidando.
“Depois ela teve um segundo relacionamento, que se originou em um casal de filhos e aí já faziam três. Eu tive muito pouco contato com ela”, relata.
Mesmo com o nome do pai biológico registrado na certidão de nascimento, Fábio não chegou a conhecer o progenitor. Fábio acredita que o homem era o dono da casa onde a mãe foi trabalhar.
“Ele já tinha um casal de filhos e ela foi trabalhar de babá. Eles acabaram se relacionando e eu fui fruto desse envolvimento. Só que ela teve uma segunda união, que resultou em um casal”, conta.
“Até onde eu sei, ela passou dificuldades e se separou dessa pessoa, da segunda união. Ele ficou com o filho, e ela com a menina e comigo. Ela me mandou para Reriutaba, para essa família que criou ela me criar também”.
Conforme Fábio, Francisca Regina alegava que ele iria apenas para um “passeio” no município. Porém, uma carta ia junto ao menino, que na época tinha apenas cinco anos de idade, entregando ele aos cuidados da família.
Junto dos poucos pertences, havia a camisa amarela com flores brancas na estampa. No início, Fábio não vestia a peça pois ficava muito grande. Então a avó adotiva, dona Maria Bemvinda, guardou a peça por muito tempo.
“E aí [quando] adulto, já não tinha mais como usar a camisa. Ela me entregou quando casei, dizendo que eu tinha trazido do Rio de Janeiro. E ela disse: ‘pronto, a camisa vai ficar na primeira oportunidade que a gente tiver'", relembrou as palavras de dona Maria.
O carioca não consegue descrever a sensação ao ver o neto vestindo uma das poucas peças de roupa que o acompanhou na mudança.
“Foi uma satisfação muito grande, ver que uma camisa que durante muito tempo ficou guardada sem ser usada por mim, e não foi usada por filho, e ser usada pelo neto, né? Foi uma emoção muito boa", comenta emocionado.
Camisa ficou guardada durante cinco décadas
A camisa ficou guardada durante 50 anos, até que a esposa de Fábio, Maria Albertina da Silva Soares, resolveu usar no primeiro neto, Ravi Soares Andrade, de 4 anos. Mas o registro que ganhou força nas redes sociais da família foi do pequeno Dom Soares Andrade, de 1 ano e 4 meses.
Antes do pequeno Dom utilizar a peça, a camisa estava emoldurada em um quadro no quarto do casal Fábio e Albertina.
A mãe de Dom, Fabienne da Silva Soares, 35, conta que o filho utilizou a camisa em duas ocasiões da escola: “Uma era festa do Dia das Mães. Quando eu contei à professora [sobre a camisa], o colégio quis fazer um post e tudo. Só que eu pedi para esperarem, pois não sabia se podia”, relata.
A segunda ocasião foi em uma festa, também da escola, com a temática sobre o Havaí. Fabienne conta que a blusa permanece intacta e guardada.
Emocionada, Fabienne descreve a sensação ao ver o filho usando a peça que pertenceu ao pai: “É uma sensação de orgulho mesmo. Porque meu pai não teve essa vivência, né? Ele é a única referência de avô dos meninos. Eu tenho orgulho. Eu falava [quando] todo mundo perguntava, eu dizia: ‘é do avô dele’".
Fabienne revela que pretende que o filho use mais vezes a camisa, em ocasiões especiais como aniversários.
O registro que encantou os familiares foi feito pela tia do menino, a consultora de validação Flavienne da Silva Soares, 34.
Ela conta que resolveu postar as fotos nas redes sociais para gravar o momento. “Ah, vou postar porque meu pai não tem nada, né? Ele não tem contato com a família e não conheceu o pai. Então ele meio que ficou com poucas coisas assim que ele tem de lembrança familiar", relata.
“A gente tem essa união que assim, é invejável, porque eu acho que nem todo mundo tem hoje em dia essa oportunidade de ter o pai presente. É uma coisa que ele não teve, mas que conseguiu ter com as filhas", conta Flavienne.