Redação Enem 2021: o papel do esporte no combate ao preconceito

Casos de discriminação repercutem sob holofotes esportivos. Posicionamentos de entidades e punições ajudam a romper silenciamento sobre racismo, LGBTfobia, machismo e outras formas de preconceitos

No esporte, casos de racismo, machismo, LGBTfobia e outras discriminações ganham holofotes e repercutem para além dos campos e quadras. O movimento abre espaço para discussões sobre preconceitos, segundo avalia Marcelo Carvalho, diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. “É essa quebra de silenciamento. A partir do momento que mais jogadores começam a expor seus pensamentos, temos uma sociedade cada vez mais atenta”, comenta.

No entanto, falta ainda apoio de entidades esportivas, federações e clubes para que atletas se sintam amparados ao se posicionarem publicamente. Em 2020, estrelas de diversas modalidades esportivas, como ex-jogador Michael Jordan, hexacampeão da NBA — liga de basquete profissional dos Estados Unidos — e as tenistas Serena Williams e Coco Gauff, além de Lewis Hamilton, piloto britânico heptacampeão na Fórmula 1, engajaram-se na luta antirracista. Vozes do esportes contribuem para desconstruir estereótipos e conscientizar o público. Contudo, para Marcelo, a luta contra a discriminação passa pela iniciativa de confederações que comandam o esporte. “No Brasil, não temos nenhuma campanha efetiva de combate ao racismo ou preconceito no esporte”, alerta.

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Olimpíadas de Tóquio: esporte traz ao debate sexismo, representatividade e gênero 

Rebeca Andrade e o “Baile de Favela”

A ginasta Rebeca Andrade, 22 anos, foi a primeira atleta na ginástica artística feminina brasileira a ser medalhista olímpica, com a prata no individual geral. Ao som do funk “Baile de Favela”, a jovem fez história e levou a cultura musical brasileira para Tóquio. "Essa medalha não é só minha, é de todo mundo", disse após a conquista. Era só o começo. Rebeca foi ouro no salto e se consagrou como a primeira mulher do País a subir dois pódios na mesma edição dos Jogos. Vinda da periferia de São Paulo e como mulher negra em uma modalidade historicamente branca e repleta de casos de racismo, Rebeca foi símbolo de representatividade nas Olimpíadas.

Alemãs contra sexualização nos uniformes

As atletas femininas há muito reclamam de regras sexistas e duplicidade de padrões, em comparação com seus colegas de modalidades masculinas. Em Tóquio, as ginastas alemãs tomaram posição contra a sexualização de seu esporte ao se apresentarem nos chamados unitards, roupas de corpo inteiro que elas haviam usado pela primeira vez em competições em abril. Na época, uma das ginastas, Elisabeth Seitz, disse à DW que gostaria que cada atleta do sexo feminino "tivesse a oportunidade de decidir sozinha o que quer vestir". Em 2017, no Brasil, a equipe de handebol de areia CopaBeach/Cepraea, do Rio de Janeiro, foi ameaçada de perder uma partida por W.O., porque as atletas se recusaram a jogar de biquíni, colocando um shorts por baixo.

Olimpíada mais LGBTQI+

Levantamento do site OutSports mostra que pelo menos 185 dos mais de 11 mil atletas de Tóquio-2020 são LGBTQIA+ assumidos publicamente. O número é mais do que o dobro de Londres-2012 e Rio-2016, somados. São 18 brasileiros assumidos: Marta, Andressa Alves, Bárbara, Formiga, Letícia, Aline Reis e Debinha (futebol); Izabela da Silva (lançamento de disco), Babi Arenhart (handebol), Isadora Cerullo e Marina Fioravanti (rúgbi), Silvana Lima (surfe), Ana Marcela Cunha (maratona aquática), Carol, Carol Gattaz e Douglas Souza (vôlei); Ana Patrícia (vôlei de praia); Caroline Kumahara (tênis de mesa).

Atletas trans fazem história

A neozelandesa Laurel Hubbard, 43 anos, foi a primeira atleta transgênero a competir em uma Olimpíada. Hubbard fez a transição de gênero há oito anos e pode participar dos Jogos no levantamento de peso graças a um consenso de 2015 do Comitê Olímpico Internacional (COI) que permitiu que atletas transgênero competissem em eventos femininos. "Quero agradecer particularmente ao COI, pois acho que é muito afirmativo seu compromisso com os princípios do olimpismo e a demonstração de que o esporte é algo para todas as pessoas, que é inclusivo e é acessível", disse a atleta.

Ainda em Tóquio, a jogadora de futebol da seleção canadense, Quinn, 25 anos, se tornou a primeira atleta abertamente transgênero e não binária a ganhar uma medalha olímpica, após o Canadá vencer a Suécia nos pênaltis. Quinn estreou em 2014 e conquistou a medalha de bronze nos Jogos do Rio 2016. Declarou-se transgênero no ano passado. "Quero que minha história seja contada, porque, quando temos muita visibilidade trans, é aí que começamos a fazer um movimento e começamos a fazer progresso na sociedade", afirmou.

Fontes: Agência DW, Agência Brasil e Gazeta Esportiva 

Como combater práticas preconceituosas por meio do esporte?

1. Entidades como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), clubes e federações devem divulgar e condenar publicamente os casos de discriminação/preconceitos, incentivando seus atletas e torcidas a fazerem o mesmo. Também podem apoiar coletivos de torcedores que organizam manifestações;

2. Escolas, Governo e clubes devem desenvolver ações e campanhas informativas e educativas que visem conscientizar sobre discriminação, ressaltando a contribuição cultural e social do futebol/esporte na formação da sociedade brasileira e valorizando a participação das mulheres, negros, pessoas LGBTQIA+ e outras minorias no desenvolvimento dos esportes;

3. Entidades esportivas devem enfatizar a formação humana no esporte, pensando em formações sobre desconstrução de estereótipos e preconceitos para o público interno e externo;

4. Organizadores de competições e campeonatos devem garantir a premiação igualitária nas mais diversas categorias esportivas.

Fontes: Otávio Balzano (UFC), Marcelo Carvalho (Observatório da Discriminação Racial no Futebol) e Tayane Sales, ativista social pelo surfe feminino e presidente da Diversidade do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM/CE).

Ações no Ceará para inclusão e diversidade no esporte

“Caravana de Todxs”: projeto vai realizar 30 ações com a duração de um dia em instituições escolares da rede pública por meio de palestras, material informativo e apresentações teatrais, levando o debate e conscientizando a Juventude sobre temas como diversidade, violência contra a jovem mulher e bullying. Os eventos estão sendo estruturados a partir dos protocolos sanitários da pandemia de Covid-19.

1° Webinar LGBT das Juventudes: organizado em junho, como celebração ao mês da diversidade, o evento virtual abordou a luta da comunidade no Ceará, sobretudo frente ao cenário de pandemia. Os convidados discutiram temas como pandemia/epidemia de direitos; educação, trabalho e renda; saúde, bem-estar e combate às violências.

Programa Ceará Atleta: concessão de bolsa esporte para atletas com deficiência através e concessão de passagens aéreas para os paratletas participarem de competições nacionais e internacionais.

Outros projetos: a Sejuv desenvolve competições esportivas específicas com as minorias, como Jogos dos Povos Indígenas do Ceará, Jogos da Diversidade, Jogos Paralímpicos do Ceará, a inclusão das Paralimpíadas Escolares nos Jogos Escolares do Ceará, bem como a garantia da participação da Delegação paralímpica Cearense na competição nacional.

Fonte: Secretaria do Esporte e Juventude (Sejuv)

Como o esporte pode contribuir para uma sociedade mais justa?

“O esporte é inserido na sociedade na perspectiva de utilizar ferramentas para promoção da equidade de gênero e prevenção de violências contra crianças e adolescentes. Juntamente com o acompanhamento pedagógico, o esporte contribui para o fortalecimento do potencial de desenvolvimento das crianças e adolescentes, favorece hábitos de vida saudável, estimula o protagonismo das/os adolescentes, reduz a vulnerabilidades e iniquidades baseadas em gênero e estimula relações respeitosas e igualitárias entre homens e mulheres, meninos e meninas, pais/mães/responsáveis e suas filhas e filhos”. — Rogério Pinheiro, secretário do Esporte e Juventude do Ceará.

Atletas falam sobre representatividade no esporte

Brasil é destaque nas paralimpíadas

Nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, o Brasil teve sua melhor campanha em paralimpíadas. Os atletas brasileiros alcançaram 72 medalhas. O Brasil ainda teve recorde de ouros, com 22 medalhas, superando as 21 dos jogos de Londres 2012, além de 20 pratas e 30 bronzes. Encerrando os jogos na sétima colocação do ranking mundial, o País alcançou a sua 100ª medalha de ouro na história dos Jogos Paralímpicos. Do total de medalhas conquistadas, 68 foram de integrantes do Bolsa Atleta, programa de patrocínio individual do Governo Federal.

Casos de discriminação crescem no esporte no Brasil

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O que diz a Federação Internacional de Futebol (Fifa) sobre discriminação

A Fifa reconhece a sua responsabilidade nos esforços para acabar com todas as formas de preconceito no futebol, como descrito no Artigo 4 do seu estatuto.

“A discriminação de qualquer tipo contra um país, uma pessoa ou grupos de pessoas por causa da raça, cor da pele, etnia, origem social, gênero, língua, religião, opinião política ou qualquer outra opinião, saúde, local de nascimento ou qualquer estatuto, orientação sexual ou qualquer outra razão é estritamente proibida e passível de punição por suspensão ou expulsão."

Protestos contra racismo marcaram esporte em 2020

O movimento #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam, em português), eclodiu em uma onda de protestos nos Estados Unidos, após assassinato do norte-americano negro George Floyd, asfixiado até a morte por um policial branco, em Minnesota. As imagens repercutiram no mundo e protestos antirracistas também ocorreram no esporte.

Jogadores da NBA boicotam partidas

Em uma atitude inédita na história da NBA, a equipe do Milwaukee Bucks não entrou em quadra no dia 26 de agosto em protesto contra o racismo e a violência policial. O episódio ocorreu três dias após o norte-americano negro Jacob Blake, de 29 anos, ser baleado por policiais com quatro tiros nas costas, em Wisconsin. Diante da atitude do Bucks, a NBA suspendeu as três partidas programadas para aquela noite.

Naomi Osaka desiste de semifinal

Após o protesto na NBA, a japonesa Naomi Osaka desistiu de disputar a semifinal do WTA de Cincinnati (Estados Unidos). Em post no Twitter, no dia 27 de agosto, a terceira melhor tenista do mundo justificou o boicote: “Antes de ser uma atleta, sou uma mulher negra”. Horas mais tarde, os organizadores do torneio desmarcaram as partidas agendadas para aquela quinta-feira em solidariedade à luta contra a desigualdade racial e injustiça social.

Neymar acusa jogador de racismo

O atacante brasileiro Neymar, camisa 10 do Paris Saint-Germain (PSG), não se calou ao vivenciar uma situação de racismo em campo. Em setembro, durante uma partida do PSG contra o Olympique de Marseille, pelo Campeonato Francês, o brasileiro acusou o zagueiro Álvaro González de injúria racial. No decorrer do jogo, Neymar chegou a falar com o quarto árbitro, pedindo “Racismo não”. O camisa 10 acabou sendo expulso de campo, ao desferir um tapa na cabeça de González, defensor do Olympique. Após a partida, Neymar revelou nas redes sociais ter sido chamado de “macaco filho da p…" pelo zagueiro.

Lewis Hamilton protesta na F1

Lewis Hamilton, sete vezes campeão mundial de Fórmula 1, vestiu uma camiseta preta em uma prova da categoria automobilística com a mensagem “prendam os policiais que mataram Breonna Taylor”. Paramédica negra de 26 anos, Breonna foi assassinada em seu apartamento em Louisville (EUA). Policiais brancos invadiram o local atirando em março, sendo que dois não foram processados pela morte dela, pois o uso da força foi justificado, enquanto um terceiro foi indiciado. “A polícia continua escapando com assassinatos todos os dias e isso precisa parar! Ela era inocente. Dói saber que alguém foi morto e ninguém foi responsabilizado”, declarou ainda o piloto no Instagram.

Fonte: Agência Brasil

 
OPINIÃO | Quando o esporte cava a trincheira de batalha para minorias


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APOSTA DO ENEM

O tema dessa inforreportagem foi escolhido por professores que compõem a banca o concurso "Redação Enem: chego junto, chego a 1.000", uma realização da Fundação Demócrito Rocha (FDR). A partir deste tema, estudantes da 3ª série do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede de escolas públicas do estado do Ceará são convidados a escrever uma redação nos moldes do exame. Na próxima terça-feira, o próximo e último tema será:

  • A banalização do Holocausto nos dias atuais e os efeitos na sociedade moderna.

 

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