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Policiais envolvidos na "Tragédia de Milagres" têm afastamento prorrogado por 120 dias

Decisão foi tomada como forma de dificultar qualquer tipo de coerção por parte dos envolvidos a alguma das 18 testemunhas do ocorrido
07:59 | Jun. 25, 2020
Autor Alan Magno
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Alan Magno Estagiário de jornalismo
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Tipo Notícia

A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Estado do Ceará (CGD) optou pela prorrogação em 120 dias do afastamento de 15 policiais militares envolvidos com o tiroteio que matou 14 pessoas no município de Milagres, em dezembro de 2018. Entre as vítimas, seis eram reféns. A intervenção policial ocorreu para coibir uma tentativa de roubo a banco. Decisão sobre a prorrogação do afastamento foi tomada como forma de dificultar qualquer tipo de coerção por parte dos envolvidos a alguma das 18 testemunhas do ocorrido.

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“Não se pode admitir a possibilidade de que alguma testemunha seja influenciada pelos réus, o que pode ocorrer até mesmo indiretamente, haja vista a posição por eles ocupada atualmente”, justificou a Controladoria em parte da argumentação expressa no Diário Oficial do Estado do Ceará de segunda-feira, 22. Documento formalizou judicialmente o afastamento dos envolvidos de qualquer atividades externas ou ações policiais ostensivas. No entanto, os envolvidos continuam sendo remunerados normalmente, já que foram remanejados para cargos administrativos em suas respectivas corporações.

POLICIAIS AFASTADOS

Um ano e meio após a tragédia, os acusados que irão continuar afastados das ruas são: os sargentos Edson Nascimento do Carmo, Sandro Ferreira Alves, José Marcelo Oliveira e Leandro Vidal dos Santos. O cabo Paulo Roberto Silva dos Santos e o capitão José Azevedo Costa Neto também seguiram afastados. Ao todo, nove soldados constam como réus no processo e, portanto, terão o afastamento das ruas prorrogado, sendo eles: Elienai Carneiro dos Santos, José Maria de Brito Pereira Júnior, Diego Oliveira Martins, José Anderson Silva Lima, João Paulo Soares de Araújo, Sérgio Saraiva Almeida, Fabrício de Lima Silva, Alex Rodrigues de Rezende e Daciel Simplício Ribeiro.

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De acordo com o documento, a defesa dos acusados teria recorrido do afastamento alegando que “a medida extrapola as determinações preventivas”. A defesa teria considerado a manutenção da ação, que havia vencido no dia 20 de maio, “exagerada” e “desproporcional”. Ainda segundo a defesa dos réus, “não houve nenhuma ação de interferência nas investigações por parte dos acusados”.

A CGD, porém, ponderou que o policiamento ostensivo os colocaria facilmente em contato com um grande número de pessoas, nas mais variadas ocasiões, fato que potencialmente poderia aproximá-los das testemunhas já contactadas pelo Ministério Público e daquelas que ainda podem ser intimadas a depor.

O órgão pontuou ainda que o laudo legista feito nos corpos dos reféns comprovou que estes foram alvejados por tiros “de armas com alto poder cinético, como os fuzis”, sendo os réus, os portadores de tais armas durante a troca de tiro com os assaltantes. O argumento é usado pela acusação, feita pelo Ministério Público do Ceará, como evidência de uma ação intencional e desastrosa por parte dos policiais, que acabou por matar inocentes, incluindo um adolescente de 13 anos.

ENVOLVIMENTO

Segundo consta no Diário Oficial da União de segunda-feira, 22, três dos envolvidos foram responsáveis por cerca de 30 disparos contra o carro onde estavam os reféns, sendo eles o capitão José Azevedo Costa, o sargento Edson Nascimento do Carmo e o cabo Paulo Roberto Silva dos Anjos. Os disparos foram responsáveis pelas mortes dos reféns Cícero Tenório, Claudineide Campos, Gustavo Tenório, João Batista Campos e Vinícius de Souza.

Já o cabo Natanael Vasconcelos Braga é referido na argumentação da CGD presente no documento como responsável por apagar as imagens de câmera de segurança de um estabelecimento comercial localizado no entorno das agências bancárias. O intuito da ação seria inviabilizar as investigações sobre os responsáveis pela morte dos reféns.

REFÉNS MORTOS

Na ação, cinco integrante de uma mesma família e uma outra pessoa foram mortos pelos disparos. O empresário João Batista Magalhães, 46, e o filho, Vinícius Magalhães, 14, saíram de casa na cidade de Serra Talhada, interior de Pernambuco, para buscar parentes no aeroporto de Juazeiro do Norte. Quando voltavam com Claudineide Campos de Souza, 42, o marido dela, Cícero Tenório dos Santos, 60, e o filho do casal, Gustavo Tenório dos Santos, 13, o carro que utilizavam foi interceptado pelos bandidos. Isso aconteceu quando eles passavam pela BR-116, que tinha sido bloqueada com um caminhão roubado pelos assaltantes. Francisca Edneide da Cruz Santos, 49, natural de Brejo Santo, também foi feita de refém pelos criminosos e acabou morrendo na troca de tiros.

PRISÕES

Dos 14 mortos, oito eram suspeitos de integrar a quadrilha interestadual que pretendia atacar os bancos. Além deles, outros dois homens foram mortos em trocas de tiros durante as buscas, um em Brejo Santo e o outro na cidade de Barro. Pelo menos oito pessoas envolvidas no crime foram presas. Entre elas, três são da mesma família: Geronilma Serafim da Silva, 44, natural de Alagoas; é mãe de Denilson Moreira da Silva, 20, e sogra de Jaine Pereira Nogueira, 20. Outro filho de Geronilma, Mackson Junior Serafim da Silva, 26, estava envolvido na ação, mas foi morto na troca de tiros.

Girlan Araújo dos Santos, 29, de Alagoas e Erivan Jesus da Luz, 27, da Bahia, também foram presos junto com a família. Eles foram autuados em flagrante por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e por integrar organização criminosa. Outros três homens foram presos após buscas da polícia na região. São eles: Robson José dos Santos, de Sergipe; Gian Sidney Wynne Santos, 25, também de Sergipe; e o cearense Cícero Rozelir da Silva, 34. Os três foram autuados por receptação, desobediência, corrupção ativa, crimes de trânsito, posse irregular de arma de fogo e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.


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