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Tragédia de Milagres: como o crime mudou a rotina dos moradores da cidade

Marcas dos tiros ainda são visíveis em postes de energia no centro da cidade. Moradores se incomodam mais com segurança após o crime, gastando com câmeras e evitando circular tarde da noite
16:10 | Dez. 06, 2019
Autor O POVO
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Tipo Notícia

Milagres é uma cidade pacata. Com seus quase 30 mil habitantes, o município do interior do Ceará era considerado calmo pela população. “A gente nunca tinha tido uma troca de tiros. Acordar com rajada de tiros de um lado para o outro de madrugada assustou muita gente”, relembra o professor de história Lucas Santos. O relato é sobre o dia que surpreendeu a comunidade, alterando a rotina pelos meses que seguiram. No Centro da Cidade, no dia 7 dezembro de 2018, uma tentativa de assalto a bancos interceptada pela Polícia terminou com 14 mortos, entre suspeitos e inocentes.

As primeiras horas da manhã do dia 7 foram confusas para a população. Informações desencontradas, boatos e especulações apenas aumentavam o pânico dos moradores. “Eram mais de mil mensagens nos grupos [de aplicativos de mensagens], as pessoas querendo entender, ninguém sabia se tinha morrido policial, inocente, bandido”, diz. A sensação de medo piorou quando souberam que a Polícia ainda procurava por suspeitos nos arredores da cidade. Aulas foram canceladas e as pessoas receberam a recomendação de ficar dentro de casa.

“Depois de uns 15 ou 20 dias que a coisa foi voltando a uma certa normalidade. O que fica é mais a ideia de impunidade, de insegurança”, opina o professor. Mesmo depois desse período, Lucas disse que deixava de passar pela rua que foi cena do crime. “Era um clima muito ruim”. Algumas fachadas de casas que acabaram sendo alvo dos tiros foram reformadas, mas as marcas ainda são visíveis em postes de energia.

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Algumas pessoas evitavam passar pela rua onde aconteceu o crime nos primeiros meses
Algumas pessoas evitavam passar pela rua onde aconteceu o crime nos primeiros meses (Foto: Fábio Lima/O POVO)

Para Lucas, a rotina da cidade não é exatamente a mesma. Além de evitar ficar na rua até tarde, mais pessoas buscaram instalar câmeras de vigilância, uma preocupação que antes era específica dos comerciantes. Apesar disso, o professor considera a cidade tranquila. Ele relembra quando viajou à Paraíba e, ao falar de onde era, recebeu respostas assustadas. “As pessoas de fora acham que aqui é um bang bang, mas a cidade é calma”.

O peso da lembrança da tragédia é mais alto para alguns moradores. Segundo Lucas, alguns familiares de testemunhas ou sobreviventes ainda têm medo de retaliação. O aposentado José Lima de Souza, que foi obrigado pelos assaltantes a entrar no carro e depois a ficar em cima do capô do veículo no momento de confronto com a PM, foi uma das pessoas da cidade a ter mais contato com a situação. Na época do ocorrido, o homem deu uma entrevista à organização jornalística Ponte na qual falou sobre o abalo emocional causado pelo momento em que passou no carro, na mira das balas dos policiais. José morreu após um infarto em 2019. A família não quis falar sobre o caso.

“Abalou muito. Por algum tempo, uns três meses, a cidade ficou perplexa, as pessoas ficaram entristecidas”, conta o padre Ronaldo Oliveira, da paróquia Nossa Senhora dos Milagres. Ele foi acordado no meio da noite pelos tiros e teve de tomar remédios para voltar a dormir. Os grupos religiosos da cidade, comenta Lucas, ajudaram os moradores a superar o ocorrido. Sete dias depois do caso, eles se reuniram para prestar homenagem às vítimas, realizando missas e rodas de orações perto do local do crime. Neste domingo, 8, as rezas aos que morreram irão se repetir, de acordo com o padre.

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