Assistente social piauiense procura família biológica no Nordeste

Assistente social piauiense procura família biológica no Nordeste

Uma carta escrita pela mãe biológica a chama de Natacha e explica os motivos de não ficar com a filha. Ela descobriu que pode ter um familiar em Fortaleza
Atualizado às Autor Carlos Daniel Tipo Notícia

A assistente social Alba Tereza Sousa de Macêdo, de 36 anos, vive uma verdadeira história de novela na busca por sua família biológica. Recém-nascida, ela foi deixada por uma enfermeira dentro de uma caixa na porta da casa de sua família adotiva. Junto a ela havia uma carta escrita pela mãe biológica, que explicava os motivos de não poder ficar com a filha.

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Alba é natural de Teresina, no Piauí, mas atualmente reside em São Paulo. Recentemente, descobriu por meio de uma plataforma de busca genealógica, que pode ter uma prima de segundo grau em Fortaleza.

Nascida em 1989, Alba soube ainda na infância que era adotada. Ela recorda que sua mãe adotiva tentava comunicar isso de forma simbólica, dizendo que a filha havia “vindo do coração”. Mas a compreensão real aconteceu quando tinha oito anos de idade.

Alba recorda que ela e a mãe assistiam a uma novela, quando sua mãe apontou para uma personagem adotada e disse “você é que nem essa menina”. A notícia foi um choque: “Isso me deixou indignada. Não consegui reagir direito a isso, pois não conhecia ninguém adotado”

Falta de preparo e ausência de acompanhamento psicológico, fizeram ela entrar em um período de depressão e isolamento que durou até os 18 anos: “Na adolescência inteira fiquei muito mal. Eu ficava me remoendo sem entender e não conseguia conversar com ninguém sobre a adoção.”

Alba com 15 anos de idade
Alba com 15 anos de idade Crédito: Reprodução/ Arquivo pessoal

O dia em que foi encontrada

Recém-nascida, Alba foi deixada dentro de uma caixa na porta da casa da família que a criou. Junto a ela estava a carta de sua mãe biológica. A entrega foi feita por uma enfermeira que trabalhava na Maternidade Dona Evangelina Rosa (MDER), em Teresina.

Ela era conhecida na cidade por receber bebês de mães carentes e entregá-los a famílias que considerava aptas para criá-los. Alba teria sido uma das várias crianças encaminhadas dessa forma.

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A carta e a primeira pista

Assinado como “Mazé” (provavelmente Maria José) e contendo erros de português, o documento é datado de 18 de julho de 1989. Nele, a mãe biológica a chama “Natacha”, explicando que não poderia criá-la sozinha porque o pai era “um irresponsável”.

No texto, a mãe afirma que a ama e que só está fazendo isso por pensar em seu futuro. Por fim, ela diz que a filha continuaria sendo sua “princesinha” e que ficaria feliz se, um dia, pudesse conhecê-la. Veja a carta abaixo:

 

Um detalhe chama a atenção: Alba foi registrada pela família adotiva no dia 26 de julho, nove dias após a carta ter sido escrita, em 18 de julho. Isso levantou suspeitas sobre a sua verdadeira data de nascimento, levando-a a questionar se a carta foi escrita antes ou depois do seu nascimento.

Primeiras tentativas de busca

Por volta de 2013, Alba iniciou as buscas pela Maternidade Dona Evangelina Rosa, conseguindo acesso às listas de entrada e alta hospitalar entre os dias 10 e 19 de julho de 1989. De posse dos documentos, realizou diversas tentativas de contato com possíveis mães, chegando a fazer testes de DNA — todos sem sucesso.

Nesse mesmo período, tentou localizar a enfermeira que a entregou à família adotiva, mas descobriu que a mulher havia falecido há três anos.

O avanço com as plataformas genéticas

Com o tempo, as buscas foram intensificadas com o uso de plataformas genéticas, como FamilySearch, MyHeritage e GEDmatch. Através delas, Alba conseguiu localizar possíveis parentes de segundo e terceiro grau e identificar ramificações familiares no Nordeste.

A descoberta mais recentemente, foi de uma prima de segundo grau residente em Fortaleza. Várias tentativas de contato já foram feitas com a moça, porém, sem sucesso.

Após análises e cruzamentos de dados, Alba também descobriu que possui raízes paternas em outras cidades do Ceará, especialmente em Tianguá e Granja. Apesar das conexões encontradas em árvores genealógicas, ainda não foi possível confirmar o exato vínculo de parentesco.

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O gerente geral do FamilySearch no Brasil, Adriano Almeida, explica que nas últimas duas décadas, a tecnologia transformou o modo como as pessoas tem buscado por suas origens familiares.

Se no passado o acesso a informações dependia de microfilmes e longas esperas, hoje a digitalização de arquivos, associada à inteligência artificial, possibilita localizar registros de forma rápida e até sugerir conexões entre nomes, datas e locais.

“Uma pessoa pode inserir apenas algumas informações de memória, como nomes de pais e avós, e em poucos minutos o sistema já sugere possíveis conexões com registros históricos ou árvores colaborativas feitas por outras pessoas no mundo inteiro”, explica.

Além disso, outro recurso que tem facilitado a busca é o uso de testes genéticos, oferecidos por plataformas, como MyHeritage e Ancestry. Esses exames possibilitam localizar parentes biológicos em diferentes partes do mundo.

"Minha mãe pode estar viva"

Segundo Alba, sua mãe adotiva chegou a procurar a enfermeira para obter informações sobre sua mãe biológica.

De acordo com a enfermeira, ela seria uma adolescente entre 15 e 16 anos, que trabalhava em uma casa de família e teria engravidado após sofrer algum tipo de abuso. Sem poder retornar para o interior grávida, ela não viu outra alternativa senão entregar a filha.

“Se realmente ela era tão nova na época, acredito que hoje pode estar com cerca de 55 anos. Então há uma boa chance dela ainda estar viva”, afirma Alba.

Contato 

Quem tiver informações que possam ajudar Alba a encontrar sua família pode entrar em contato pelos seguintes canais:

(11) 95951-2269
[email protected]

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