Ilha de Marajó: canção gospel denuncia abusos; veja o que é verdade
A cantora Aymêe viralizou com canção ‘Evangelho dos Fariseus’. Saiba o que é verdade sobre denúncia de exploração na Ilha de Marajó feita pela artista
A exploração sexual infantil na Ilha de Marajó voltou à tona após interpretação da cantora Aymêe da música “Evangelho dos Fariseus”. A produção autoral foi apresentada na semifinal do programa Dom Reality na quinta-feira, 15.
Enquanto famosos compartilharam a canção em tom de alerta, o Observatório do Marajó e o Governo federal fizeram ressalvas à estimagtização da ilha e de seus moradores. Entenda a movimentação que acontece nas redes sociais e fora delas.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Ilha de Marajó: canção gospel em reality
Seguindo o modelo de reality shows como o The Voice Brasil, a competição inclui artistas do gênero gospel na disputa por um contrato com a Universal Music. Entre eles, a paraense Aymêe decidiu compartilhar um alerta sobre o arquipélago de Marajó, região em seu estado natal.
“Enquanto isso, no Marajó/ O João desapareceu/ Esperando os ceifeiros da grande seara/ A Amazônia queima/ Uma criança morre/ Os animais se vão”, canta a artista em referência direta aos casos de exploração infantil, além de problemas ambientais.
“Marajó é uma ilha há alguns minutos de Belém, minha terra. E as crianças, lá tem muito tráfico de órgãos. Tem pedofilia em nível ‘hard’ (pesado)”, desabafou Aymêe ao final de sua apresentação.
Confira apresentação completa no YouTube
Ilha de Marajó: exploração infantil em arquipélago
Considerada a maior ilha fluviomarítima do mundo, o arquipélago do Marajó possui uma cidade com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) municipal do Brasil: Melgaço. Em uma escala de 0 a 1, a pontuação do município alcança apenas 0,418.
A cidade brasileira com a melhor posição, São Caetano do Sul (SP), apresenta 0,862, o dobro de Melgaço. A lista atual foi desenvolvida pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em 2013.
Em 2023, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) instituiu o Programa Cidadania Marajó, com o objetivo de “garantir os direitos fundamentais e combater a exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes”. A ação substituiu o programa anterior, Abrace o Marajó.
O relatório de atividades do Cidadania Marajó, que acompanha viagem de integrantes do MDHC em maio de 2023, comunicou que “quase a totalidade de municípios da região registraram situações de abuso sexual contra crianças e adolescentes nos registros de ingresso no Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI)”.
Em relação à gravidez precoce, destaca-se um “dado significativo”: 28,3% de todas as crianças nascidas vivas no Marajó entre 2018 e 2021 eram filhas de mães que tinham até 19 anos na data do parto. No Brasil esse percentual fica em 14,5%, enquanto no estado do Pará é de 22,5%.
Ilha de Marajó: vivências não podem ser reduzidas à exploração sexual
Sobre a popularização de conteúdos falsos relacionados aos casos de abuso, o MDHC enfatizou "o compromisso em não associar imagens de vulnerabilidade socioeconômica ou do próprio modo de vida das populações do Marajó, em especial crianças e adolescentes, ao contexto de exploração sexual".
"A realidade de exploração sexual na região sabe-se preocupante e histórica, mas não autoriza sua utilização de forma irresponsável e descontextualizada. Isso apenas serve ao estigma das populações e ao agravamento de riscos sociais", descreve texto do ministério, publicado na quinta-feira, 22.
"As vivências das populações tradicionais do Marajó não podem ser reduzidas à exploração sexual, já que é uma população diversa, potente em termos socioambientais e que necessita sobretudo de políticas públicas estruturantes e eficientes, com a inversão da lógica assistencialista e alienante de sua realidade e modos de vida", completa o conteúdo.
CONFIRA relatório da comitiva do Programa Cidadania Marajó para mais informações.
Família se muda e reboca a casa em jangada, navegando mais de 40h em rios no Marajó; ENTENDA
Ilha de Marajó: fato ou fake? Organização da região faz nota pública
"Não acredite em tudo que vês na Internet", começa trecho de nota compartilhada no perfil do Observatório do Marajó sobre as repercussão do caso.
A organização destaca que a população marajoara não normaliza violências contra crianças e adolescentes. "Insiste nessa narrativa quem quer propagá-la e desonrar o povo marajoara", critica o observatório.
Em práticas que visam a proteção concreta de crianças da violência, o caminho proposto pelo Observatório do Marajó é o fortalecimento do sistema de proteção e garantia de direitos das crianças e dos adolescentes, como as escolas e os conselhos tutelares.
"Enquanto ministra de Estado, Damares Alves não destinou os recursos milionários que por diversas vezes prometeu para a região, para fortalecer comunidades escolares. Ao invés disso, atentou contra a honra da população diversas vezes, espalhando mentiras, e abriu tais políticas públicas para grupos privados de São Paulo", diz a nota.
Em vídeo de denúncias da então ministra, imagens do Uzbequistão foram utilizadas como comprovação de um processo de abuso infantil na Ilha de Marajó, sem qualquer relação com o arquipélago.
Natural de Belém, capital do Pará, o ativista digital e criador de conteúdo Gabriel Conrado também compartilhou um aviso aos internautas sobre a importância de uma pesquisa séria sobre o Marajó.
"Uma ONG que se diz 'a voz e as mãos de Deus' e que tem 'o propósito' de ajudar as crianças do Marajó, sem dar dados, fontes, dizer de onde tiraram as imagens e que usam crianças de forma sensacionalista, merecem total desconfiança", relatou Conrado em sua publicação.
Ilha de Marajó: famosos compartilham canção de Aymêe
Em resposta à apresentação viral de Aymêe, a ex-BBB e apresentadora Rafa Kalimann afirmou que, enquanto pessoas públicas, “é nosso dever (...) tornar esse caso ainda mais conhecido pelas pessoas”.
“É nosso dever como cidadãos apontar o dedo e dar voz a uma causa tão absurda que pessoas em condições precárias estão passando”, disse Kalimann em publicação na rede social Instagram.
Outra celebridade que se manifestou sobre os abusos relatados na Ilha de Marajó foi a campeã do BBB 21, Juliette. “Clamamos aos políticos, autoridades e órgãos públicos ações e respostas. Aymeê, sua voz ecoou. Nós estamos juntos”, compartilhou a cantora, incluindo a hashtag #JustiçaporMarajó.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente