Alheio ao mercado, Ceni almeja nova vaga internacional com o Fortaleza
Em destaque pela campanha no Brasileiro, treinador sonha em levar de novo o Leão a um torneio continental e só deve definir futuro em fevereiro
Desde 2018, os meses finais do ano para o torcedor do Fortaleza se dividem entre a alegria pelos resultados em campo e a apreensão pelo futuro do técnico Rogério Ceni. Desta vez, a temporada só chegará ao fim em fevereiro e o tema já é assunto no Pici, mas não terá um desfecho tão cedo, segundo apurou o Esportes O POVO.
A campanha do Tricolor no Campeonato Brasileiro, constantemente entre os dez primeiros colocados, desperta atenção a nível nacional sobre o trabalho do ex-goleiro à beira do campo. Na saída de Tiago Nunes do Corinthians, o nome de Ceni foi falado. Na recente queda de Vanderlei Luxemburgo do Palmeiras, nova lembrança. No São Paulo, Fernando Diniz convive com a sombra constante do mito, embora o ídolo do Morumbi tenha elogiado o trabalho do atual treinador.
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"Você não consegue fazer planejamento sobre número e que posição vai estar. Você consegue tentar planejar o nível de jogo que apresenta, aí a bola entrar ou não, pegar na trave e sair, pênalti marcado, expulsão... Isso pode mudar todo o destino de um time em uma competição. Nós estamos jogando em um nível que é bom para tentar a permanência na Série A em 2020, um ano tão conturbado e diferente. Nós estamos competindo em um nível bom, e isso reconforta. Sobre resultados, aí a cada jogo e a cada momento tem que provar", analisou Rogério Ceni, em entrevista coletiva após a vitória por 2 a 0 sobre o próprio Alviverde, no último domingo, 18.
Sem agente, Rogério cuida das próprias questões profissionais - o advogado João Henrique Chiminazzo o auxilia em contratos e outras burocracias. Em meio à temporada, o foco é no trabalho em campo para continuar fazendo história no Leão, sem dar margem para possíveis sondagens ou ofertas. A surpreendente - e frustrante - saída para o Cruzeiro em 2019 virou lição de aprendizado na sequência da carreira como técnico para o goleiro que defendeu o mesmo clube por 25 anos.
Até fevereiro de 2021, Ceni não pretende ouvir outros clubes - nem mesmo o São Paulo, que mudará de presidente em dezembro. Satisfeito com o desempenho do Fortaleza no Brasileirão, o treinador sonha com uma nova classificação para uma competição internacional. A Copa Sul-Americana, disputada este ano, é o objetivo mais palpável, mas uma vaga na primeira fase da Libertadores também não é descartada - na última temporada, a equipe ficou a três pontos de conseguir.
"A gente vai tentar jogar um futebol mais equilibrado, com uma defesa mais sólida e um ataque com menos gols, talvez. E nós vamos cuidar para que os jogadores não se machuquem. É a única chance de o combustível ser mantido até o final", alertou. Após a conquista do bicampeonato estadual, o técnico chegou a citar o receio de se despedir do clube sem a torcida nas arquibancadas.
Em paralelo à atividade nas quatro linhas, o comandante tricolor segue à frente dos pedidos por melhorias estruturais tanto no Centro de Excelência Alcides Santos quanto no Centro de Treinamento Ribamar Bezerra, em Maracanaú, e também incentiva o clube a investir em compra de atletas para ter lucro com vendas futuras - o volante Ronald e o atacante David, indicados por ele, são os principais exemplos.
O cotidiano vivido em Fortaleza há quase três anos também agrada a Ceni. Nos raros momentos em que não está viajando ou no clube, a vista para o mar do próprio apartamento, as partidas de tênis e idas a restaurantes em região próxima fazem parte da rotina. Antes do necessário distanciamento social em razão da pandemia de Covid-19, o treinador até deixou de lado algumas vezes a postura reservada para marcar presença em eventos com pessoas influentes da sociedade cearense e chamou a atenção pela desenvoltura com diversos assuntos, inclusive política e economia.
Entre pessoas próximas ao comandante tricolor, a impressão é de que o São Paulo deve fazer uma investida por ele no próximo ano após a saída de Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, desafeto e atual presidente - que o contratou e o demitiu em 2017. Em meio à disputa eleitoral entre Julio Casares e Roberto Natel para assumir o cargo, Rogério Ceni recebe de amigos e conhecidos da época de Morumbi vídeos e textos sobre o pleito, mas evita se manifestar e espera que o vencedor consiga recuperar o clube - esportiva e financeiramente.
O futuro, porém, não preocupa Rogério Ceni. A segurança e o respaldo no Fortaleza, além do maior salário da história do clube, dão a tranquilidade de que a permanência onde já conquistou quatro títulos, disputou 150 partidas e marcou história seria bom negócio, sobretudo com objetivos maiores. A saída ao final do ciclo, principalmente para o São Paulo, também seria visto de forma positiva e considerado um passo natural na trajetória como treinador.
"Para mim, é uma realização da minha carreira. Eu credito isso muito aos caras que estão dentro de campo. A gente é um instrumento para direcionar ideias, modelo de jogo, mas se não fossem esses caras, que constroem tudo aquilo que você idealiza... Para mim, é muito especial. Um dia muito feliz", disse, ao comemorar o posto de segundo técnico com mais jogos à frente do Tricolor, na última quarta-feira, 21.