Lembre os protestos de 7 de setembro um ano atrás e veja os resultados

No 7 de setembro do ano passado, Bolsonaro xingou Alexandre de Moraes. Depois disso, precisou recuar e publicar uma carta atribuindo as ofensas e ameaças golpistas ao "calor do momento"

Um ano atrás, no 7 de setembro de 2021, o presidente Jair Bolsonaro (PL) subia num trio elétrico na avenida Paulista, de onde chamou o ministro do Supremo Alexandre de Moraes de “canalha”, afirmou que a sua paciência tinha se esgotado e que não cumpriria mais decisões judiciais do magistrado.

“Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair”, discursou Bolsonaro para uma plateia de aliados, num dos momentos de maior tensão do seu governo. Apenas um mês antes, em 10 de agosto, ele havia feito desfilarem tanques pela Praça dos Três Poderes na véspera da votação do voto impresso no Congresso Nacional.

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Ainda na Paulista, o chefe do Executivo se queixou de que “não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas turve a nossa liberdade” e que “esse ministro tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos”.

“Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha”, criticou.

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Apenas 48 horas depois, no dia 9 de setembro, o presidente recuaria parcialmente das declarações. Em uma “carta à nação”, escrita com a colaboração do ex-presidente Michel Temer (MDB), a quem Bolsonaro mandou buscar em São Paulo para socorrê-lo, o mandatário afirmava:

“Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar”.

A missiva, que não trazia os maneirismos típicos da prosa de Temer, mas carregava o tom conciliador do qual o emedebista gosta de se pavonear, dizia ainda que “boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news”.

Embora fosse um documento destinado a apaziguar as relações institucionais, sobretudo entre Executivo e Judiciário, estremecidas àquela altura depois das reações que se seguiram às ameaças golpistas, Bolsonaro renovava os ataques ao STF.

“Na vida pública as pessoas que exercem o poder não têm o direito de ‘esticar a corda’, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia”, escreveu, atribuindo as investidas contra STF e Justiça Eleitoral ao “calor do momento”.

Um ano depois, no entanto, o clima político no país é semelhante ou talvez pior do que o de doze meses atrás, quando o debate se dava em torno do voto impresso e era alimentado pela desconfiança – infundada – do presidente em relação às urnas.

Pessoas participam de uma manifestação em apoio ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro em São Paulo, em 7 de setembro de 2021, no Dia da Independência do Brasil. - Lutando contra números recordes de pesquisas, um enfraquecimento da economia e um judiciário que ele diz estar contra ele, o presidente Jair Bolsonaro convocou grandes comícios para o dia da independência do Brasil na terça-feira, buscando incendiar sua base de extrema direita. (Foto de PAULO LOPES / AFP)
Pessoas participam de uma manifestação em apoio ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro em São Paulo, em 7 de setembro de 2021, no Dia da Independência do Brasil. - Lutando contra números recordes de pesquisas, um enfraquecimento da economia e um judiciário que ele diz estar contra ele, o presidente Jair Bolsonaro convocou grandes comícios para o dia da independência do Brasil na terça-feira, buscando incendiar sua base de extrema direita. (Foto de PAULO LOPES / AFP) (Foto: PAULO LOPES / AFP)

7 de setembro de 2022

Agora, assim como antes, despachos de Moraes estão no centro da diatribe com o chefe do país, cujos aliados questionam ação autorizada pelo magistrado que resultou em execuções de busca e apreensão contra empresários bolsonaristas, uma delas cumprida no Ceará e tendo como alvo o proprietário da rede Coco Bambu (ele nega ter defendido qualquer ato de ruptura democrática).

Se, em 2021, Bolsonaro foi às ruas para demonstrar força a fim de pressionar o Congresso a aprovar o voto impresso e a se mostrar amparado pelos militares nessa empreitada golpista, levados por ele a se exibirem em tanques em Brasília, hoje o presidente tenta cumprir objetivo abertamente eleitoral.

A pouco mais de 20 dias da votação, o mandatário, atrás do ex-presidente Lula (PT) nas pesquisas de intenção de voto, tenta romper a estagnação e voltar a crescer entre o eleitorado. Para tanto, apela aos segmentos mais radicalizados do seu grupo e traz novamente à pauta o tema da corrupção, com o qual quer desgastar o petista e garantir um segundo turno na briga pelo Planalto.

A resposta do Supremo, contudo, tem sido mais enfática. Nos dias que antecederam o 7 de setembro de 2021, a corte determinou ação contra investigados no bojo do inquérito das fake news. Além de medidas do tipo – como a que mirou nos empresários –, o STF, em 2022, também estabelece um cerco preventivo contra possíveis manifestações de violência política, de maneira a impedir que episódios como o assassinato de um filiado ao PT no Paraná se repitam.

Na última segunda-feira (5), por exemplo, o ministro Edson Fachin suspendeu trechos de decretos e portarias de Bolsonaro que flexibilizavam porte de armas e compra de munições. A decisão foi atacada por Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente.

Pelas redes, o parlamentar convocou os brasileiros com posse legal de arma a se “voluntariarem” na campanha do pai à reeleição. O chamamento foi interpretado como um convite às armas.

Para amanhã, o clima é de expectativa em relação à conduta de Bolsonaro. Entre apoiadores políticos, há o temor de que ele reencene a retórica golpista do ano passado, agravando a dificuldade que enfrenta para avançar na preferência do eleitor brasileiro.

Segundo levantamento do Ipec divulgado na última segunda, 5, o presidente caiu entre os mais pobres, entre mulheres e na região sudeste. Como a concentração de sua agenda no feriado deve estar em São Paulo e Rio de Janeiro, o candidato à reeleição corre o risco de comprometer ainda mais o voto desses grupos caso decida promover um discurso de arruaça.

De acordo com estrategistas da campanha, o ideal seria que Bolsonaro fizesse acenos a seu eleitorado mais identificado com as pautas conservadoras, mas sem hostilizar as instituições (STF, TSE, governadores e prefeitos), de modo a demarcar posição dentro dos marcos da legalidade.

Ninguém espera, porém, que ele siga essas recomendações de moderação e ande nos trilhos. Assim como fez no primeiro debate da Band, quando agrediu verbalmente uma jornalista, o mandatário pode não se conter.

Manifestações de 7 de setembro ocorrem hoje em várias partes do Brasil, organizadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Pelo segundo ano consecutivo, há grandes atos, marcados por críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Confira abaixo as últimas notícias de hoje, quarta-feira, 7 de setembro (07/09), do ato programado para feriado da Independência.

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8h58min: 7 de setembro: desfile reúne civis e militares na Beira Mar; veja imagens

8h49min: Bolsonaro domina atos e opositores tentam resgatar verde e amarelo

8h49min: Comemoração do bicentenário terá show aéreo e desfile na capital

8h23min: Manifestação de 7 de setembro pró-Bolsonaro ao vivo em tempo real

8h05min: Bolsonaristas na Esplanada gritam contra Lula e ofendem imprensa

7h50min: Bolsonaristas chegam à Esplanada para acompanhar desfile e fala do presidente

 

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