Subvariantes BA.4 e BA.5 da Ômicron: quais os riscos de nova onda no Ceará?

Subvariantes BA.4 e BA.5 tem causado novas ondas em vários países. Elevação rápida em Fortaleza indica introdução das subvariantes, mas hipótese ainda precisa ser confirmada por sequenciamento

Há cerca de um mês e meio, o número de casos de Covid-19 no Ceará tem aumentando, impulsionado principalmente por Fortaleza. A tendência de "elevação rápida" na transmissão da infecção "pode indicar" introdução e dominância de novas subvariantes da Ômicron: a BA.4 e a BA.5. Ambas tem causado recrudescimento de casos em vários países. O que sabemos sobre elas e quais os ricos para o Ceará?

Em São Paulo e no Rio de Janeiro, elas já são as responsáveis pela maioria das infecções por Covid-19. Na capital cearense, ainda é necessário o sequenciamento de novas amostras para confirmar a introdução, conforme a Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Mas a transmissão nas novas formas do vírus é a justificativa mais plausível para o crescimento recente dos casos. 

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A a BA.4 e a BA.5 são mais transmissíveis que outras linhagens atuais do vírus, contudo, ainda é incerto se elas causam doença mais severa, afirma Anderson Fernandes de Brito, virologista e pesquisador do Instituto Todos pela Saúde (ITpS). 

Ele detalha que ambas "possuem mutações que permitem que elas escapem parcialmente do reconhecimento de anticorpos produzidos por infecções e vacinações prévias", o que explica, em parte, por que elas tem vantagem frente a outras variantes que circulam.

A biomédica Mellanie Fontes-Dutra, doutora em neurociências pela UFRGS e divulgadora científica pela Rede Análise Covid-19, pondera que, apesar do escape vacinal existir, as vacinas seguem protegendo.

"Mesmo havendo um impacto na proteção contra a infecção, vemos a proteção contra a doença presente e alta. A gente vê como reflexo nas hospitalizações que, mesmo com o aumento significativo de casos, não se acompanha um aumento na mesma proporção em hospitalizações e internações em UTI", explica.

Este menor impacto demonstra a importância da imunização ampla a nível populacional, corrobora Anderson. Não obstante já estarem causando novas ondas, ela está causando impactos menores se comparada às ondas anteriores, ele compara. 

Mellanie argumenta, contudo, que ainda são necessários mais estudos para "investigar essa relação entre infecções passadas e a dinâmica da resposta imunológica, especialmente no contexto de uma população que está mais vacinada também".

Situação do Ceará 

No Ceará, "o aumento constante de casos nas últimas semanas nos dá indícios de não ser um aumento esporádico de casos", analisa Thereza Magalhães, pesquisadora e professora de Epidemiologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Mas ela afirma que "é preciso testar mais para monitorar melhor".

É provável que já estejamos em uma nova onda, avalia a epidemiologista em retrospecto: "É possível afirmar que todas as vezes que vivemos esse crescimento contínuo de casos anteriormente estávamos na fase de crescimento de uma onda".

Ela acredita que o atual cenário de transmissão já demanda a obrigatoriedade do uso de máscaras principalmente em locais fechados para conter os vírus. "Precisamos de esquema vacinal completo e máscara para inibir casos e óbitos, e para manter a economia em pleno funcionamento", defende.

A "convivência" com a Covid-19

Ainda que o surgimento de novas variantes deixem gestores em alerta, praticamente já não se cogita mais um lockdown. No Ceará, medida foi determinada na primeira e na segunda ondas — em 2020 e 2021. Anderson Fernandes de Brito explica que novas variantes irão surgir, "pois o vírus nunca para de evoluir".

"Porém, a cada nova variante que surge, e com o avanço da vacinação, é cada vez menos provável que vejamos qualquer cenário parecido com o que observamos nos dois primeiros anos de pandemia", aponta.

O virologista acredita que conviver com a Covid-19 demanda garantir a adoção de medidas protetivas "no momento certo, e na proporção adequada". Isso inclui esquema vacinal completo (inclusive para outras doenças, como a Gripe, para evitar pressões no sistema de saúde) e a testagem a todos que tenham sintomas respiratórios.

Além disso, ele destaca a recomendação para uso de máscara em ambientes fechados, em especial os que reúnem muitas pessoas, como transporte público e escolas, especificamente nos períodos de moderada ou alta transmissão viral.

"O que farão as próximas variantes? Não devemos pagar para ver: precisamos de esquema vacinal completo e máscara para inibir intensa replicação viral e assim a formação de novas variantes", alerta a epidemiologista Thereza Magalhães, professora da Uece.

BA.4 e BA.5 no Brasil 

A frequência de casos prováveis das subvariantes BA.4 e BA.5 da Ômicron no Brasil subiu de de 44% a 79,3% em duas semanas, reflexo da rápida disseminação viral. Dados do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) feita com dados da Dasa e DB Molecular foram publicados nesta quinta-feira, 23. 

Conforme o relatório, nas últimas quatro semanas, as subvariantes foram responsáveis pela última onda de casos na África do Sul. Avaliação projeta que, na próxima semana, essas subvariantes representem quase 100% dos casos. 

"Nas últimas duas semanas, o número de municípios com casos prováveis de BA.4 e BA.5 aumentou de 118 para 172, em 17 estados e no DF, uma alta de 47,5%. Os dados vêm principalmente do Sudeste, por isso a maior concentração nos estados da região", avalia o instituto.

Nas últimas duas semanas, a positividade de testes subiu de 38,9% para 49,1% no Brasil, segundo a pesquisa. 

"No momento, provavelmente vivemos a fase de maior transmissão de BA.4 e BA.5. Ao longo de julho, devemos observar quedas de positividade e de casos e os impactos da BA.4 e BA.5 à saúde pública tendem a ser inferiores à onda da subvariante BA.1, ocorrida no início do ano", prospecta. 

O aumento no número de casos de Covid-19, contudo, acende um alerta aos grupos de risco para a infecção, como idosos, imunossuprimidos e não vacinados.

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