Ceará tem mais internações de crianças por Covid-19 em UTI em 2021

Embora a taxa de internação alterne pela disponibilidade de leitos, o número de crianças em UTIs tem sido maior no ano de 2021 em comparação com 2020

Mais crianças precisaram ser internadas em 2021 por Covid-19 no Ceará. De acordo com o levantamento feito pelo O POVO, houve taxas de ocupação de leitos de enfermaria e de Unidades de Terapia Intensivas (UTIs). Os dados, obtidos por meio da plataforma Integrasus, Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), reúne números das unidades hospitalares públicas e privadas. E apesar do pouco conhecimento que ainda existe sobre a Covid-19 em crianças, o aumento no índice de internações é resultado das mutações do vírus.

Embora a taxa de internação alterne pela disponibilidade de leitos, o número de crianças em UTIs tem sido maior este ano em comparação a 2020. Nos meses pico da primeira onda da doença no Estado, entre maio e junho, foram em média 45 leitos destinados a crianças com Covid-19, com ocupação média de 36 leitos.

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Em 15 de maio de 2020, existiam 44 vagas em UTIs para crianças, das quais 16 estavam ocupadas( 36,6% de ocupação). No mês seguinte, mais leitos foram abertos, chegando a 53, dos quais 29 foram ocupados (54% da capacidade). Em julho do mesmo ano, eram 52 leitos dos, quais 26 eram ocupados (50% da ocupação).

Entre fevereiro e abril de 2021, os mesmos patamares de leitos foram disponibilizados, mas o número de ocupação aumentou. Em fevereiro eram 50 leitos, dos quais 26 estavam ocupados (52% de ocupação). Em março, tanto o número de leitos aumentou como o de crianças internadas: foram 64 leitos disponíveis, dos quais 36 tinham crianças internadas (56,25%). 

Em abril, a taxa subiu para 66% (66 leitos com 41 crianças). Em maio, pulou para 76,6% (47 leitos para 36 crianças). Na extração do dia 29 de maio, é possível acompanhar a evolução para os piores patamares de ocupação. No dia, foram registradas 35 crianças internadas nos 42 leitos. (83%). No dia seguinte, nove crianças são internadas ou transferidas para os leitos de UTI, totalizando 44, enquanto a taxa de ocupação chega a 95%.

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Em junho, a taxa variou entre 70% e 80%, de acordo com disponibilidade de leitos. No fim do mês, é perceptível que mais leitos foram abertos e a taxa acabou reduzindo, entretanto, o número de crianças internadas (33) ainda é superior, em comparação com todos os meses de 2020.

A importância das variantes

 

De acordo com a médica epidemiologista Lígia Kerr, uma das hipóteses para o aumento de crianças com Covid-19 é a disseminação de variantes. Ela explica que, mesmo com crianças sentindo menos sintomas, as variantes têm maior carga viral. “Quando a pessoa fica doente, tem muito mais vírus que as cepas antigas. Mesmo as crianças tendo menos receptores, elas têm uma carga viral muito mais elevada. É um dos fatores que tem contribuído para mais casos em crianças”, explica a médica.

Em março, a mutação E484K, associada às três atuais variantes de preocupação, foi identificada em 71,1% de casos do Ceará estudados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A E484K é uma mutação do coronavírus encontrada nas três atuais VOCs (sigla em inglês para variantes de preocupação): a P.1, identificada originalmente no Amazonas; a B.1.1.7, no Reino Unido; e a B.1.351, na África do Sul. Em abril, o Ceará tinha pelo menos 28 pacientes de Covid-19 que foram infectados pela variante brasileira P1 do coronavírus, com os primeiros casos sendo registrados ainda em fevereiro.

Aumento da gravidade

 

A tendência de crianças infectadas no Ceará reflete o cenário nacional. Segundo dados do Instituto Figueira Fernandes, da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/FIOCRUZ), publicado na sexta-feira, 24 de setembro, houve um aumento da gravidade da Covid-19 em crianças e adolescentes da faixa etária de 0 a 19 anos.

De acordo com o levantamento, até agosto de 2021, foram notificados mais casos de internações pela doença com pacientes na faixa etária de 0 a 19 anos do que em todo o ano de 2020. Até a última semana de dezembro do ano passado, foram 14.638 hospitalizações nessa idade, cerca de 2,5% dos casos de SRAG por Covid-19 no País. Entretanto, até agosto deste ano, já foram registradas 16.246 internações pela doença nesse grupo etário. Um crescimento de quase 11% de um ano para o outro.

De acordo com o documento, com maior flexibilização e circulação no decorrer da pandemia, as crianças passaram a se expor mais. Apenas de forma mais recente os adolescentes passaram a constituir o grupo contemplado com a vacinação no Programa Nacional de Imunização (PNI). Ambas as condições citadas e o aparecimento recorrente de novas cepas do vírus influenciam diretamente a dinâmica da infecção nessa faixa etária, explica a pesquisa.

Faixa etário menor de um ano

 

“Alertamos para a faixa etária de até um ano de idade, pois trata-se da faixa etária por número de anos com o maior número de casos (4.117) e óbitos (326) por SRAG confirmados por Covid-19, nos anos de 2020 e 2021”, analisa o pediatra do IFF/Fiocruz, Marcio Nehab, organizador do documento, na pesquisa.

De acordo com ele, houve uma revisão sistemática recente sobre sinais e sintomas em crianças menores de 20 anos de idade com infecção documentada de SRAG pelo SARS-CoV-2. A proporção de infecções assintomáticas variou de 15% a 42%, mas sintomas como febre, calafrios e tosse são os mais comumente relatados. Em outros casos, pneumonia, bronquiolite e gastroenterite também foram relatados.

Os pesquisadores do levantamento alertam para a necessidade de mais pesquisas voltadas para a população pediátrica. “Existe a necessidade de acelerar não só o desenvolvimento de vacinas para crianças e adolescentes, como, também, de realizar pesquisas multicêntricas e longitudinais específicas para este público que possibilitem avaliar a magnitude dos efeitos da pandemia na saúde física, mental e econômico-social das crianças e adolescente”, pontua ainda o pesquisador nos documentos.

A médica e professora em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lígia Kerr, esclarece que existe um risco com a volta às aulas, mas ele é mínimo porque as instituições têm exigido medidas de segurança e a maioria dos professores já está vacinada. A proteção das crianças contra o vírus deve ser feita também pela família, especialmente para os menores de 12 anos, que, no Brasil, ainda não podem se vacinar.

“Quanto mais gente conseguimos vacinar, mais as crianças vão estar protegidas, porque vão estar em contato com pessoas vacinadas. Até que saibamos, com mais estudos, se podemos vacinar esse público”, aponta Kerr. Segundo a professora, são necessários mais estudos, especialmente porque o organismo infantil tem características específicas.

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