Entenda o processo de mutação do coronavírus e saiba as diferenças entre variante, cepa e linhagem

O POVO ouviu especialistas para explicar melhor as diferenças entre os termos ligados à evolução do coronavírus. Eles alertam ainda para a urgência da vacinação no sentido de evitar aparecimento de novas variantes cada vez mais eficazes

O coronavírus se replica rapidamente no organismo humano, somando mutações. Nesse processo para “derrotar” o sistema imunológico, o Sars-CoV-2 pode se tornar mais letal ou contagioso. A variante brasileira identificada em Manaus, chamada de P.1, já se mostrou mais transmissível, por exemplo. Mas você sabe a diferença entre cepa, variante e linhagem? O POVO ouviu especialistas para explicar melhor.

O vírus que causa a Covid-19 é um vírus de RNA, isto é, seu material genético é ácido ribonucleico, e não de DNA (ácido desoxirribonucleico). Por serem mais simples, os vírus de RNA toleram frequências de mutações mais altas.

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O professor Gabriel Maisonnave Arisi, pesquisador na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), esclarece que essas mutações são naturais e contínuas. Além disso, elas podem ser negativas, tornando o vírus inviável e menos eficaz, ou vantajosas, deixando o vírus potencialmente mais infeccioso.

Segundo o especialista, quanto mais pessoas estiverem infectadas, mais o vírus circula e maior a chance de lidarmos com variantes cada vez mais eficientes. “É isso que está acontecendo no momento. Por isso, que nos países que tiveram surtos grandes, como África do Sul, Reino Unido e Brasil, surgiram essas variantes”, considera.


Variantes e cepas

A variante de um vírus pode ser caracterizada por uma mutação onde ocorreu variação de poucos aminoácidos [compostos que constituem os vírus], cepas já apresentam uma diferença maior no tipo de comportamento do vírus em relação ao vírus original, segundo explica o professor Gabriel Maisonnave Arisi.

“As variantes surgem aleatórias e selecionadas e depois podem dar origem à cepa. Acho que está criando até uma certa ansiedade nas pessoas de acharem que é outro vírus, mas na verdade não é outro vírus. É uma variante, mas esses critérios são mais complexos. É realmente um detalhe de biologia molecular”, pondera.

O infectologista Ivo Castelo Branco, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), acrescenta que o que diferencia essa cepa é a sequência de aminoácidos que formam o vírus, o que pode ser verificado pelo sequenciamento genético.

“O coronavírus têm uma sequência de aminoácidos, mas ela sofreu algumas mutações. A sequência do vírus de Wuhan [China, epicentro da pandemia] difere da sequência que está infectando a Inglaterra”, detalha.

Linhagens

O professor Gabriel Maisonnave Aris define linhagem como “uma genealogia do vírus”. Com a evolução da pandemia, foi desenvolvido um sistema de classificação em linhagens para o Sars-CoV-2, tendo como base dois grandes ramos que receberam a denominação de A e B, segundo nota técnica divulgada pelo Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde na terça-feira, 2.

À medida que foram surgindo diferenciações genéticas dentro de cada grande ramo, foram sendo designadas linhagens A.1, A.2, B.1, B.1.1, e assim sucessivamente. As linhagens também podem ser conhecidas como “grupo genético” em algumas referências científicas.

“Desde a caracterização genômica inicial do Sars-CoV-2, este foi dividido em diferentes grupos genéticos ou clados. Quando ocorrem algumas mutações específicas, estas podem estabelecer uma nova linhagem do vírus em circulação”, diz o documento.

Necessidade de vacinação

O aparecimento de variantes do Sars-CoV-2 acendeu o alerta no mundo. Embora a variante de Manaus não tenha se mostrado mais letal até o momento, a maior transmissibilidade preocupa pelo risco de atingir grupos mais vulneráveis à Covid-19, conforme alerta o infectologista Ivo Castelo Branco, da UFC. Por isso a urgência em providenciar a vacinação para barrar a transmissão. 

“Se não tivermos vacina até o final do ano [para a maior parte da população], vamos começar a ter esses surtos. Ou a gente barra esse espalhamento ou não vamos controlar nunca. Vamos continuar espalhando o vírus e podem aparecer variantes novas”, adverte.

O professor Gabriel Maisonnave Arisi, da Unifesp, também concorda que é preciso ter pressa para a vacinação para precaver eventuais novos surtos, principalmente dada a incerteza sobre o tempo de imunidade que as pessoas infectadas têm.

“Ao longo de alguns meses, algumas variantes já se mostraram mais eficientes e a chance de que isso aconteça de novo no futuro é muito grande, por isso temos que correr com as vacinas enquanto é tempo”, atenta.

Saiba quais são as variantes do coronavírus que colocam o mundo em alerta

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 26 de janeiro de 2021, foram realizados mais de 414 mil sequenciamentos genéticos completos que têm sido compartilhados em bases públicas de dados.

No planeta, existem pelo menos três variantes do Sars-CoV-2 que despertam a atenção das autoridades sanitárias atualmente. Elas são oriundas do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil.

Variante VOC 202012/01, linhagem B.1.1.7

A VOC 202012/01 (Variante 01, ano 2020, mês 12), pertencente à linhagem B.1.1.7, foi notificada em 14 de dezembro de 2020 pelas autoridades do Reino Unido à Organização Mundial de Saúde (OMS).

A disseminação desta variante também já foi identificada em outros 62 países. De acordo com a OMS, a variante foi responsável por um aumento significativo da transmissibilidade, que contribuiu para aumentos na incidência, hospitalizações e pressão sobre o sistema de saúde desde a segunda metade de dezembro de 2020.

Para a ocorrência de óbitos, estudos preliminares indicam que ainda não há evidências suficientes de que a variante esteja associada ao aumento de óbitos comparado com outras variantes.


Variante 501Y.V2, linhagem B.1.351

A 501Y.V2 (Variante 02, ano 2020, mês 12), pertencente à linhagem B.1.351, foi notificada em 18 de dezembro de 2020 pelas autoridades da África do Sul à OMS.

Os resultados preliminares indicam que esta variante também pode sugerir um maior potencial de transmissibilidade. No entanto, ainda é necessária uma investigação mais aprofundada sobre este e outros fatores que influenciam na transmissibilidade, severidade, imunidade, reinfecção, vacinação e diagnóstico.

Variante P.1, linhagem B.1.1.28

A variante P.1 (Variante 03, ano 2021, mês 1), pertencente à linhagem B.1.1.28, que
também pode ser redigida como B.1.1.28.1, foi notificada em 9 de janeiro de 2021, pela autoridade do Japão à Organização Mundial de Saúde (OMS) e ao Ponto Focal do Regulamento Sanitário Internacional (PFRSI) do Brasil.

A notificação descreveu a identificação de uma nova variante em quatro viajantes provenientes de Manaus (AM). Esta nova variante apresenta mutações na proteína Spike, na região de ligação ao receptor, que geraram alterações de importância biológica e são semelhantes àquelas detectadas no Reino Unido e na África do Sul.

Tendo em vista o aumento rápido e expressivo do número de casos e óbitos pela doença em Manaus, a partir de dezembro de 2020, há uma hipótese de que isso esteja relacionado com uma maior infectividade dessa variante.


Fonte: NOTA TÉCNICA Nº 59/2021-CGPNI/DEIDT/SVS/MS - Ministério da Saúde

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