Sars-CoV: precursor da pandemia, vírus teve primeiro caso identificado há exatos 18 anos

Em 2002, o primeiro caso de um novo vírus desse grupo foi identificado, conhecido nominalmente como Sars-CoV, e que se mostrava agressivo ao organismo humano. O registro ocorreu em Foshan City, na China

Há exatos 18 anos, em 16 de novembro de 2002, o primeiro caso de infecção pelo vírus Sars-CoV foi identificado no mundo. Pertencente à família Coronavírus, o agente infeccioso provocou um surto epidemiológico à época e, quase duas décadas depois, se mostra ser o "precursor" da pandemia que já matou mais de um milhão de pessoas no planeta.

O Coronavírus (CoV) é uma grande família de vírus que têm como uma de suas características a facilidade em sofrer mutações genéticas, além de provocarem graves infecções intestinais e respiratórias. A princípio, esse grupo agia somente em organismos de animais, como gatos, camelos e morcegos, mas foram sofrendo variações ao longo dos anos e passaram a infectar também humanos.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

Conforme informações do Ministério da Saúde (MS), especialistas identificaram pela primeira vez a presença de agentes dessa família viral em humanos no ano de 1960. Mais de quatro décadas depois, em 2002, foi identificado o primeiro caso de um novo vírus desse grupo, conhecido nominalmente como Sars-CoV, e que se mostrava agressivo ao organismo humano.

O registro ocorreu em Foshan City, na China, e só foi notificado à Organização Mundial da Saúde (OMS) em fevereiro de 2003. De acordo com Keny Colares, médico infectologista do Hospital São José (HSJ), os vírus da família Coronavirus eram conhecidos por causarem resfriados até o surgimento do Sars-CoV, que demostrou provocar um efeito mais agressivo ao organismo.

| LEIA MAIS |

Consumo de carnes é responsável por surgimento de pandemias, aponta pesquisa

Moderna anuncia que vacina contra Covid-19 tem eficácia de 94,5%

O novo vírus se espalhou pela China e chegou a países das Américas do Norte e do Sul, Europa e Ásia, infectando mais de oito mil pessoas e provocando 800 mortes. Classificado como um surto de síndrome respiratória aguda, a infecção pelo vírus tinha como principais sintomas "febre, dor de cabeça, calafrios, dores musculares, tosse seca e dificuldade para respirar", que variavam entre amenos e severos.

Apesar de não ter sido elaborada uma vacina para combater o surto na época, o vírus foi sofrendo variações e se tornando "raro", como explica Keny. De acordo com o especialista, governantes de países atingidos tomaram medidas que contribuíram para que a taxa de transmissão do agente infeccioso diminuísse, "controlando" o surto e evitando que ele virasse uma pandemia.

Até 2018, os especialistas conheciam seis vírus da família Coronavírus que afetavam organismos humanos. Desses, os dois mais agressivos eram o Sars-CoV e o Mers-CoV, que foi ainda responsável por um surto nos países do Oriente Médio, há oito anos.

Acompanhe a evolução do vírus:

 

O Surgimento do Sars-CoV-2

No dia 31 de dezembro de 2019, no entanto, a China anunciou que havia identificado um novo vírus da família coronavírus, com o primeiro caso de infecção registrado na cidade de Wuhan. Em um curto período de tempo, o agente infeccioso se espalhou por países próximos e atingiu até mesmo aqueles localizados em outros continentes.

Conhecido popularmente como "novo coronavírus", o agente foi classificado por especialistas como Sars-CoV-2 e a doença provocada por ele denominada por Covid-19. O crescimento rápido de novos casos de infecção e de mortes provocadas colocou o Mundo em alerta e atingiu, no primeiro momento, alguns países com mais impacto, como o Irã e a Itália.

Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o surto da doença como pandemia, devido à disseminação entre países de continentes distintos. No mesmo mês, o primeiro caso de morte em decorrência do vírus foi identificado no Brasil, no estado de São Paulo.

Em questão de dias, o número de indivíduos infectados foi crescendo no País e a doença foi fazendo vítimas  em todas as Unidades Federativas. Os governos tomaram medidas de isolamento social e passaram a adotar métodos de combate à disseminação do novo vírus, como a obrigatoriedade em utilizar máscaras faciais.

As diferenças e o futuro

De acordo com Fátima Teixeira, virologista e integrante do Grupo de Trabalho contra a pandemia da Universidade Estadual do Ceará (GT/UECE), o vírus da família coronavírus tende a ter mutações genéticas "indefinidas". Nesse sentido, o Sars-CoV-2 é resultado de uma variação que o Sars-CoV teve ao longo dos anos.

A especialista observa que, diferente do surto de 2003, essa onda de infecções atual "não parece que será controlada" sem a criação de uma vacina destinada a essa finalidade, tornando os países suscetíveis a uma segunda onda da doença. Fátima considera como um dos principais motivos para isso o fato de que o vírus apresenta uma composição genética mais forte em sua variação.

Já o infectologista Keny destaca que o Sars-CoV-2 é mais transmissível que o Sars-CoV, por isso tem proporcionado mais casos de infecções e mortes do que o surto em 2003. Além disso, Colares destaca que outros fatores contribuíram para a configuração do atual contexto sanitário, como as "mudanças que aconteceram na segunda metade do século 20".

O especialista considera que o crescimento urbano tem provocado cada vez mais aglomerações, o que torna as cidades ainda mais passiveis de transmissão viral do que o observado há vinte anos. Além disso, Keny aponta outras questões que teriam 'favorecido" o surgimento e a falta de controle sobre a atual pandemia, como "a mobilidade urbana, que tem aumentado o trânsito de pessoas no Mundo, e o aquecimento global".

"Aparentemente, essas questões têm facilitado o surgimento dessas doenças que muitas vezes existem nos animais e saltam para os seres humanos, se adaptam a eles e provocam o surgimento de novos vírus, que causam as epidemias", explica o infectologista.

Sobre o surto provocado pelo Sars-CoV no passado, Keny considera que o momento deixou os países em alerta e permitiu um avanço em questões como a produção de soros e de vacinas, que acabaram "melhorando" métodos de combate utilizados contra a crise sanitária que o mundo vive hoje. 

Um dos exemplos citados por ele foi o fato da China ter informado a OMS sobre o novo vírus de forma mais rápida do que a feita em 2003. Além disso, foram criados protocolos de segurança sanitária para conter o avanço da Covid-19 que, embora se tratasse de uma doença nova, não era "tão desconhecida".

Para o futuro, o infectologista não descarta a possibilidade de que novos vírus apareçam e defende a criação de vigilâncias sanitárias cada vez mais voltadas para lidarem com isso. "Evitar novas pandemias talvez seja difícil, nós temos que rever toda a nossa relação com a natureza", pondera ainda o especialista.

Colaborou a repórter Lais Oliveira


Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

história covid futuro covid novas pandemias mundo estudos covid pesquisas covid tratamento covid como surgiu covid Sars-CoV pandemia como surgiu covid china de onde veio covid covid mundo

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar