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Covid-19: apenas uma vacina está na fase final de testes, que ocorrem também no Brasil

A vacina da Universidade de Oxford, no Reino Unido será aplicada em pelo menos 10 mil pessoas a partir do final do mês de junho; das quais 2 mil serão brasileiros
14:52 | Jun. 12, 2020
Autor Redação O POVO
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Entre as 136 vacinas contra Covid-19 em estudo atualmente, apenas a da Universidade de Oxford, no Reino Unido, está na fase 3, a mais avançada das etapas, em que ocorre a testagem maciça. Ela será aplicada em pelo menos 10 mil pessoas a partir do fim do mês de junho. Cerca de 2 mil voluntários brasileiros participarão. Outras dez vacinas estão em fase clínica, com testes em humanos. As informações são do jornal Estadão.

Mesmo com o ritmo acelerado das pesquisas, especialistas preveem que campanhas de vacinação devem ficar para 2021. Atualmente, três pesquisas - Reino Unido, China e Estados Unidos - lideram a corrida pela vacina contra o coronavírus.

Cientistas explicam que dizer que uma vacina é a mais promissora significa que ela se mostrou eficaz em mais etapas dos testes pré-clínicos (animais) e clínicos (humanos). Mas não quer dizer necessariamente que ela seja a mais próxima de ser bem-sucedida.

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“Quanto mais vacinas investigadas em estágios avançados, melhor. Ela vai ser necessária no mundo todo. Existe muita pressa, mas tudo tem de ser feito de acordo com os protocolos de pesquisa”, opina a infectologista Rosana Richtmann do Instituto de Infectologia Emilio Ribas.

Vacinas mais avançadas

A vacina de Oxford é feita a partir de um vírus (adenovírus) atenuado da gripe comum que infecta macacos. Esse vírus serve de vetor para levar ao organismo humano uma cópia produzida em laboratório de uma proteína presente no coronavírus. A ideia é que o organismo comece a produzir anticorpos capazes de reconhecer e atacar o vírus verdadeiro em caso de uma infecção real.

A vacina do laboratório Sinovac, parceira do Instituto Butantã, vai entrar na fase três de testes no mês de julho. Rosana Richtmann esclarece que ela utiliza uma tecnologia clássica, já conhecida. A vacina é formada pelo vírus Sars-CoV-2 isolado, multiplicado e inativado no laboratório chinês.

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O microbiólogo e virologista Rômulo Neris, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que a ideia das vacinas é apresentar para o organismo pedaços ou agente infeccioso inteiro antes da infecção para que o nosso sistema imune desenvolva uma memória imunológica e consiga gerar uma resposta mais rápida quando a gente for de fato infectado. A urgência para o combate à Covid-19, no entanto, estimula o desenvolvimento de novas tecnologias, como é o caso da empresa de biotecnologia Moderna.

Em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, a companhia anunciou testes preliminares positivos em ensaios clínicos que começaram em março. Faltam, no entanto, os testes em larga escala, que devem ser realizados também em julho.

A estratégia envolve um segmento de material genético do vírus chamado RNA mensageiro ou mRNA. O RNA (ácido ribonucleico ou uma espécie de "parente" do DNA) também aparece em células humanas saudáveis, mas, em muitos vírus, como o HIV ou o novo coronavírus. As pesquisas tentam modificar o RNA mensageiro e fazê-lo “comandar” a célula para produzir outras substâncias, mais benéficas para a resposta do corpo ao vírus.

Previsão da vacina para 2021

Considerando-se o êxito de todas as próximas etapas de testes, especialistas apontam que a vacina da Oxford, a mais adiantada, deve iniciar a produção em larga escala até o fim do ano. Isso abriria a possibilidade de disponibilização de uma vacina a partir de abril do ano que vem. “Trata-se de um cenário otimista”, diz a infectologista Cristiana Toscano, representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em Goiás e professora do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás.

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De acordo com ela, além das etapas de desenvolvimento, existem fases importantes de ampliação da capacidade produtiva, como o processo regulatório de registro e licenciamento, política e estratégia de vacinação e distribuição de vacina nos países. "Estamos falando de bilhões de doses”, completa.

Cristiana está diretamente envolvida nas pesquisas por uma vacina contra o coronavírus. Ela é única representante da América do Sul a integrar o Grupo de Trabalho de Vacinas para Covid-19 do Grupo Estratégico Internacional de Experts em Vacinas e Vacinação (Sage), da Organização Mundial da Saúde (OMS).

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A especialista terá o papel de revisar, junto com os outros 14 componentes do grupo de trabalho, as evidências disponíveis sobre o progresso das vacinas candidatas contra a doença e definir estratégias e planos sobre o uso acelerado de vacinas (pré e pós-licenciamento).

Rosana Richtmann concorda que as perspectivas apontam para campanhas de vacinação apenas no ano que vem. “Sou otimista e acredito que tenhamos uma vacina eficaz até o final do ano. Ter produção suficiente para a vacinação para a população deve acontecer no primeiro semestre de 2021”, projeta.

Testagens no Brasil

A vacina que integra a parceria com o Instituto Butantã é a segunda a ser testada no País. A outra faz parte da parceria da Universidade de Oxford com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Serão mil voluntários em São Paulo e outros mil no Rio de Janeiro, os dois estados que concentram a maioria dos casos brasileiros. 

Rosana Richtmann explica que o Brasil foi escolhido porque a epidemia ainda está em ascensão no território nacional, diferentemente do que ocorre no Reino Unido ou na China, por exemplo. “Infelizmente, o Brasil é o melhor lugar para testes de pesquisas atualmente. Na China, os resultados demorariam muito mais", diz.

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O País integra o programa ACT Accelerator, iniciativa da OMS que visa tornar mais rápidos o desenvolvimento, a produção e o acesso a diagnósticos, medicamentos, tratamentos, testes e vacinas contra a Covid-19.


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