Análise: intensidade e compactação defensiva da Arábia Saudita surpreendem Argentina

O Esportes O POVO analisou como a compactação defensiva da Arábia Saudita encurtou o jogo da Argentina e como a alta intensidade na marcação foi crucial para a execução da estratégia

19:31 | Nov. 22, 2022

Por: Pedro Mairton
Herói da Arábia Saudita, Salem Al-Dawsari celebra vitória contra a Argentina (foto: KHALED DESOUKI / AFP)

A Arábia Saudita surpreendeu o mundo ao derrotar a Argentina por 2 a 1 de virada na partida de estreia das equipes na Copa do Mundo 2022. O feito foi tão grandioso para o futebol árabe que o governo do país decretou feriado nacional nesta quarta-feira, 23.

Mas para bater de frente contra as favoritas na estreia, a Arábia Saudita entrou com uma estratégia onde qualquer erro poderia ser fatal. Em campo, se não fosse o pênalti no início da partida, a execução do plano do time beirou a perfeição e os jogadores e comissão técnica foram premiados com a vitória.

O Esportes O POVO analisou como a compactação defensiva da Arábia Saudita encurtou o jogo da Argentina e como a alta intensidade na marcação foi crucial para a execução da estratégia.

Linhas altas e compactas

A Arábia Saudita entrou em campo sem temer o poderio ofensivo da Argentina. Mesmo diante de craques como Lionel Messi, Di Maria e Rodrigo De Paul, que podem encontrar um companheiro livre a qualquer instante com a bola, os árabes não baixaram as linhas e realizaram a “retranca”.

Pelo contrário, a Arábia Saudita jogou boa parte do jogo com as linhas defensivas altas. Em determinados momentos do jogo, era comum o quarteto defensivo estar praticamente na linha que divide o campo.

E para evitar o jogo pela região central do campo, a distância entre os jogadores de defesa e meio-campo era bastante curta. Desta forma, a Arábia Saudita induziu aos Hermanos a circularem a bola e explorar as laterais do campo para encontrar espaços.

Sem espaço para tocar a bola no meio-campo, o que sobrava para a Argentina era tentar a ligação direta para acionar Messi, Lautaro Martínez ou Dí Maria nas costas da defesa e aproveitar a largura do campo para sair na cara do gol. Contudo, a Arábia Saudita também se preparou para dificultar essa estratégia de jogo dos adversários.

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Intensidade

Uma partida praticamente perfeita de um sistema defensivo depende bastante da boa execução da marcação, e foi por isso que a Arábia Saudita conseguiu impedir a produção ofensiva da Argentina.

Jogando com linhas altas e compactas, que induziam aos argentinos a circularem a bola e tentarem a ligação direta, os árabes tiveram bastante intensidade para impedir que os jogadores adversários tivessem tempo de qualidade para executarem as ações com a bola, como o passe.

Defendendo-se em um 4-4-2, os dois homens de frente da seleção saudita a todo momento pressionavam os defensores e não os deixavam com tempo e espaço para tentarem um lançamento. A pressão também ajudou ao time do técnico Hervé Renard a prejudicar a visão de jogo dos argentinos.

Caso não houvesse a pressão dos atacantes a todo instante sobre os defensores e os dois volantes, Paredes e Rodrigo De Paul, a Arábia Saudita permitiria à Argentina executar lançamentos preciosos nas costas da defesa, que estava adiantada durante boa parte do jogo, até mesmo com o 1 a 0 contra no placar. E quando os hermanos conseguiam realizar os lançamentos, os passes não tinham a qualidade necessária para pegar a defesa dos sauditas desprevenida.

Vale lembrar que o gol do título da Argentina na Copa América sobre o Brasil partiu de um lançamento de Rodrigo De Paul para Di Maria atacar as costas da defesa da Amarelinha. O volante, que tem bastante qualidade técnica e visão de jogo nesse tipo de jogada, teve tempo e espaço para pensar e executar a ação, diferentemente do que ocorreu contra a Arábia Saudita.

A segunda linha defensiva também teve papel importante para limitar o poderio de criatividade dos sul-americanos. Quando a Argentina superava a pressão dos atacantes e conseguia tocar pelo meio-campo, imediatamente um árabe realizava o encaixe para impedir a progressão com qualidade do atleta com a bola.

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Coletivo quase perfeito

Mesmo com uma estratégia bem definida, a Arábia Saudita correu muitos riscos durante o jogo, principalmente no primeiro tempo, quando a Argentina balançou a rede outras duas vezes, mas a arbitragem assinalou impedimento.

Portanto, a coordenação do sistema defensivo foi crucial para que o plano de Renard não fosse por água baixo, uma vez que se a marcação não tivesse a mesma intensidade em relação a outros momentos do jogo poderia resultar em erros que pudessem originar em gols da Argentina, como o lance de Lautaro Martínez, que por milímetros não ampliou o marcador ainda no primeiro tempo.

Nesse lance, De Paul recebeu a bola no meio e o encaixe não foi realizado. Foram segundos preciosos para o volante realizar enfiada de bola para o companheiro, que por pouco estava em posição adiantada.

Além disso, a movimentação da última linha foi perfeita durante os 90 minutos mais os acréscimos. Qualquer jogador de defesa que atrasasse a passada poderia deixar o oponente em condições legais de jogo.

Considerada o azarão do Grupo C, a Arábia Saudita precisava de um jogo perfeito defensivamente para pontuar pelo menos um ponto contra uma das favoritas. E apesar de sair atrás no placar no início do confronto, não se abalou e seguiu com a estratégia, que resultou em uma vitória e uma forte luz de esperança de classificação para as oitavas de final.